Voz da Póvoa
 
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Carta de um combatente

Carta de um combatente

Opinião | 4 Dezembro 2020

Exmas Ministra da Saúde e Diretora Geral de Saúde:

Venho por meio desta, agradecer a iniciativa de lançar a Campanha Nacional de Prevenção ao Suicídio, que veio pôr ao nosso dispor mais máquinas e atendimentos indiferentes e indiferenciados.

É facto que a Morte, caras senhoras, acompanha-nos desde que nascemos e não é de se espantar que algum paisano, desgarrado da esperança, convide-a para dançar antes do fim do bochincho.

Nessa guerra sem trincheiras em que combatemos irmanados com a Solidão, as angústias vêm a cavalo e batem-nos à porta reclamando o mate e os pelegos fazendo-nos bradar aos céus:

— Párem o mundo que eu também quero descer!

Bem, alguns descem…

Agradeço especialmente a vossa honrosa decisão de retirar da nossa tropa os oficiais que nos guiavam rumo à paz de espírito, substituindo-os por rádio e ração.

Certamente é de igual forma eficaz trocar uma consulta presencial, por uma via telefone, no momento em que experimento um entrevero de sentimentos, com a vida a meio gás e a vontade por um fio.

A mão que balança o berço também amola as adagas e existe uma linha tênue entre a cura e o veneno, mas isso as senhoras já estão fartas de saber.

Em nome de todos os combatentes dessa batalha velada agradeço o tiro que lhes sai pela culatra e deixa-nos desarmados e vulneráveis.

“Se tem sintomas de gripe, tome um ben-u-ron, fique em casa e prima 808 242424. Se precisa de apoio psicológico, tome um rivotril, fique em casa e prima o gatilho!”

 

Texto: Maria Beck Pombo

Ilustração: Karol Tonet

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