Voz da Póvoa
 
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Bartolomeu de las Casas e a Brevíssima Relação da Destruição das Índias

Bartolomeu de las Casas e a Brevíssima Relação da Destruição das Índias

Opinião | 13 Setembro 2025

 

Quando Fernão de Magalhães foi recebido por Carlos I, futuro Carlos V imperador do Sacro-Império Romano-Germânico, para apresentação do seu projecto de chegar às Molucas pelo ocidente, o “rei rodeou-se de conselheiros, entre eles Bartolomé de las Casas, historiador e missionário. …Segundo Bartolomé de las Casas, Fernão de Magalhães tinha um globo bem pintado no qual estava representado o mundo inteiro e nele indicou a rota que se propunha tomar.” – Laurence Bergreen: Fernão de Magalhães-Para além do fim do mundo. Segundo Joaquim Alves Gaspar – A cartografia de Magalhães – “Com toda a propriedade, poderíamos apelidar o planisfério anónimo Kunstmann IV, concluído em Sevilha em c. 1519, como o Mapa de Magalhães. De facto, de acordo com testemunhos históricos que chegaram aos nossos dias e com o conteúdo do próprio mapa, este terá sido encomendado por Magalhães aos cartógrafos Pedro e Jorge Reinel, e constituído um elemento central na argumentação apresentada a Carlos I de Espanha”.

“No seu livro Bartolomé de las Casas descreve o inferno e a infâmia criados na América pelos tão celebrados “destruidores” quinhentistas sendo ele um dos contemporâneos que mais veementemente se opôs a tais obras. Esta Brevíssima Relação  constitui por isso a primeira desmontagem do colonialismo europeu, representando, como tal, um documento literário ímpar. O analista espanhol Fernando Alvarez-Uria afirma que quase em simultâneo com a conquista militar dos povos “índios” levada a cabo a sangue e fogo, veio representar um dos maiores etnocídios da História” – Hans Magnus Enzensburger – À guisa de prefácio: Las Casas ou uma perspectiva no futuro.

Ainda Hans M Enzensberger: Las Casas morreu em Madrid no verão de 1566. Na sua escrivaninha encontrou-se o último manuscrito, um texto sobre Os dezasseis remédios contra a peste que aniquilou os índios. “Com uma vela da morte na mão … pediu aos amigos que prosseguissem na defesa dos índios. Sentia-se perturbado por ter podido fazer tão pouco a favor deles, mas estava convencido, em tudo o que por eles empreendera, de ter agido com justiça”.

Não existe nenhuma estátua em Espanha que o recorde e ninguém sabe onde foi sepultado. Honra nos seja feita: o Padre António Vieira, o nosso defensor dos “índios” no Brasil, tem memória estatuária em Lisboa, aliás já alvo de crítica, apelidado de racista e colonialista, porque tem a seus pés meninos escurinhos …

 

Abílio Travessas

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