Voz da Póvoa
 
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Andaremos na imprevisibilidade ou na Suspicácia

Andaremos na imprevisibilidade ou na Suspicácia

Opinião | 30 Maio 2020

O neologismo foi-me dado a conhecer há uns anos por um amigo de longuíssima data e, doravante, é o instrumento a que recorro para olhar a realidade real (passe o brasileirismo) ou a que os Media nos impingem. À data ninguém se atormentava ainda com a praga das Fake News, que já existiam…

No tempo presente, vertiginosamente mutante, imprevisível e demolidor, não basta estar alerta. O José Saramago premonitoriamente ficcionou uma pandemia de consequências igualmente terríficas para a humanidade. Deixemos… Como se não bastasse, o nosso quotidiano é invadido pela omnisciência de figurantes trampalhadas e bolsonáricas, tanto mais arrogantes quanto ignorantes. Quem mais fica em casa, mais leva com esta violência. Desculpe-se-me o desvario, mas estes, associo-os àquele ignóbil político que se imortalizou pela mais patega interpretação de “Grândola Vila Morena”…
 
Outros que tais, mais cá da terra (ainda que o seu negócio sejam as coisas do céu) Padres: o da Sertã infringe as normas emanadas pelas entidades competentes na prevenção ao alastramento do Covid-19. Por mais que lhe apregoem que a celebração das missas se configura com desobediência criminosa, descarta-se, num estilo tipo pateta alegre, alegando que “não posso abandonar o povo de Deus”. Não é o único a olhar o (seu) céu. Legalmente, nada, tudo na paz do senhor. Multar um padre?! Só de fariseus! Custa-me aceitar este sacerdócio crente nos seus direitos adquiridos.

Outro abade, omitindo o preceito “a Deus o que é de Deus, a César o que é de César”, remata a homilia não com um apelo à concórdia entre os beligerantes pro-contra celebração do 13 de Maio com esta bomba encolerizada: “Por aqui se vê que é a geringonça que manda neste país”! Suspeito que leu a Bíblia enviesadamente, “esqueceu-se de que a última versão da mesma (das muitas que foram escritas), a que nos chegou, foi escrita a mando da classe religiosa e politicamente dominante, a tribo dos Levitas… E cá entre nós, quantos séculos viveu a Igreja geringonçando com o Poder? Não se lembra, consulte o Marquês…Vá e não volte a pecar…por omissão!

Isto do negócio dos homens (“o que hoje é verdade amanhã é mentira”) é cá uma pandemia! Vai-se assim suspeitando que a verdade não passa duma ilha cercada de conveniências por todos os lados. Acredita o leitor/a que haja gente suficientemente perspicaz que lidere com eficácia na resolução dos problemas da humanidade?! Aqui perto, por exemplo: que esperar da legislação que aí vem respeitante ao acesso à praia se há um passadiço extensíssimo (A-Ver- O Mar/Aguçadoura) confinado a peões mas interdito a ciclistas. A taxa de ocupação anual é infinitamente reduzida. A via V. Conde-Mindelo é partilhada!… Já nos habituámos ao rol de proibições que ninguém cumpre excepto os contribuintes desconhecedores de que a ignorância é mais proibidora que o acto de proibir. Esses obedecem humildemente (já antes da peste virulenta assim procediam) e, infelizes mas a bem da nação, ficam em casa. ”Só eu sei” como consegui ir ficando. Segui o J. G. Ferreira: “Leitor/a: faz como eu/fecha-te nas quatro paredes/ e finge que andas lá fora/a matar a sede/ da gente que chora/ Acredita/ digo-te com carinho/a solidão é a melhor forma/ de não se estar sozinho”…Às vezes.                              


Alcino Santos

 

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