Voz da Póvoa
 
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Álbum de Máscaras

Álbum de Máscaras

Opinião | 20 Setembro 2025

 

Aquela era uma caixa de vidro: a sala azul e fria onde se encontrava, impossibilitado de comunicar-se.

Do lado de fora, uma infinidade de pessoas, familiares e desconhecidas, gesticulavam e proferiam frases insonorizadas pela barreira que O separava dos demais e estreitava o espaço onde se encontrava, obrigando-o a apequenar-se para conseguir se acomodar.

Acomodar… essa era a palavra!

Não Pensar, não Ser, não Existir!

Apenas representar, atuar para o grande público em um palco virtual, que O obrigava a esconder as suas Sombras ao invés de abraçá-las e percebê-las.

Transformando-as em segredos obscuros, em autênticos demônios sempre prontos para emergir das profundezas, revelando verdades escondidas, feridas abertas e imperfeições inaceitáveis.

 A barreira transparente que O cercava, tornando-o um mero espectador da vida alheia, impedia-o de conectar-se verdadeiramente ao Universo exterior, enquanto assegurava a ilusão do convívio, de uma intimidade fictícia, que não nutre a alma, nem conforta o coração.

Observava o azul que o envolvia, e que em nada se assemelhava ao celeste azul do céu, que não oprime, mas liberta. Cativo em uma prisão psíquica fria e tecnológica, que dá nome à Solidão.

Sobre as paredes de vidro Ele escrevia frases inspiradoras, partilhava notícias e fotos de momentos felizes (ou que deveriam ter sido) estimulando a curiosidade alheia enquanto recebia, de fora, estímulos que lhe faziam questionar o próprio modo de vida, de estar no mundo, de como encontrar a Felicidade.

A superficialidade O sufocava até o corpo vergar e a mente, desesperada por defender o que de si resta, pintava esse quadro durante o Seu repouso, nas raras horas que passava sem pôr os olhos sobre um ecrã.

O sol da manhã entrou por entre as frinchas da janela, invadindo o quarto, retirando-o do mundo Onírico.

Ele levantou da cama, devagar para não esquecer de nenhum detalhe daquele chamado tão sincero, que ecoou dentro de si mesmo, dizendo em alta voz:

“Acorda para a vida!”

Assim bradou o seu Espírito inquieto, acorrentado pela necessidade do Ego em satisfazer expectativas surreais, que nem sequer são de facto suas, que consistem apenas em reflexos de realidades maquiadas e enganadoras.

“Permite-te derramar a tua Essência sobre relações reais, palpáveis, tangíveis.

Porque um abraço conforta mais que mil likes, um afago diz mais que qualquer palavra. Nem todas as expressões são fotogénicas, mas cada uma delas tem algo profundo a dizer, mensagens ocultas que não se dão à fotografia.

Então vive! Observa, desprovido de lentes, o mundo ao teu redor! Permite-te escutar com o coração, que bate por tempo determinado enquanto subordinas o seu ritmo a fugazes emoções.

Toma para ti o Tempo que é teu, e aproveite ao máximo cada segundo, convidando as tuas Sombras para uma dança de iluminar o salão!

Porque elas são parte de ti e mestres em ensinar o caminho de volta para casa.”

Para experienciar a vida plenamente há que dar ouvidos ao que diz o nosso espírito!

Carpe Diem!

 

Maria Luiza Alba Pombo

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