Voz da Póvoa
 
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A Vida de Estudo e a Vida Política

A Vida de Estudo e a Vida Política

Opinião | 26 Maio 2023

 

O que é próprio do ser humano é pensar. Apenas ele o consegue fazer. Apenas ele se questiona acerca do mundo, emite teorias visando explicar as coisas, apenas ele elabora ciências e filosofa.

O conhecimento e a sabedoria são fontes do verdadeiro prazer. Não os mexericos, não os pormenores picantes da vida privada das celebridades, não a podridão dos políticos, não a ostentação dos vendilhões e dos capitalistas, não as mentiras dos media, não o lixo das redes sociais.

Muitos não têm prazer em aprender, em adquirir conhecimento. E o nível de instrução não explica tudo. Há gente licenciada completamente ignorante e pessoas pouco letradas sábias.

Segundo Aristóteles, é impossível ser-se feliz se não se for livre, se se for impedido de se entregar a uma actividade verdadeiramente humana. Os escravos não podem atingir a felicidade. Diz-se que o homem na sociedade capitalista é livre mas isso não passa de uma grande treta. Se ele não possuir fortuna ou se não for um criador, um espírito livre terá que vender a sua força de trabalho ao patrão para sobreviver e submeter-se às leis do sacrossanto mercado. Claro que ele é livre de recusar e morrer de fome. Que porra de liberdade! A escravidão dos tempos antigos não desapareceu, generalizou-se, revestindo uma aparência de liberdade.

Que vida deve escolher o homem livre? Para os gregos havia 3 hipóteses: uma vida de divertimento, uma vida política ou uma vida de estudo.

A vida digna de um homem livre é uma vida de estudo. O homem livre é aquele que dispõe de descanso, que não é um escravo das tarefas da produção, que estuda, que cria e que se cultiva a todo o momento. No entanto, a vida do pensamento não é possível sem um certo número de condições políticas. Urge que reine a paz e que eu possua uma certa prosperidade e um determinado ócio para me entregar à criação e ao estudo. A vida humana é, portanto, indissociável da participação política numa comunidade.

O homem livre entrega-se, então, à política.

Mas há mais. Para Aristóteles, a minha felicidade depende também de uma virtude totalmente interior chamada magnanimidade. O filósofo grego considera-a uma certa estima de si, uma consciência do seu valor que permite desprezar as riquezas e as honrarias quando delas se fica privado.

Aristóteles, tal como Nietzsche, opõe-se ao culto da humildade, o que vai contra o cristianismo. O orgulho e a auto-estima, se devidamente fundados, fazem parte da virtude e da sabedoria.

António Pedro Ribeiro, Sociólogo, crinista, poeta e muito mais...

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