Voz da Póvoa
 
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A “Velha Bicicleta do Estado Novo” na Escola Francisco Franco, Funchal

A “Velha Bicicleta do Estado Novo” na Escola Francisco Franco, Funchal

Opinião | 14 Abril 2025

 

No Porto Santo, fugido do frio do continente, apresentei o meu livro de crónicas e, com o patrocínio da professora Maria José Varela, nossa amiga de outras actividades culturais, tive o prazer de me encontrar com turmas do secundário da Escola Francisco Franco, Funchal. A ideia surgiu da vontade de ir a Machico e ter a presença do Padre José Martins Júnior que exerceu o seu múnus na freguesia de Ribeira Seca. O tempo limitado impediu o objectivo mas a presença de Martins Júnior na escola muito me alegrou ao encontrá-lo no vestíbulo. O padre foi presidente da Câmara de Machico nos tempos conturbados do post-25 de Abril com o apoio das forças de esquerda numa Madeira do todo-poderoso Alberto João Jardim; a conversa fluiu como se dois velhos conhecidos se encontrassem, a afinidade de sentimentos e convicções ajudou, de religião não se falou.

Tarde diferente, sala ampla, Maria José apresentando os temas do livro e selecionando três ou quatro crónicas lidas por dois alunos e como é inusitado ouvir d’outros o que escrevemos…

Ofereci o livro ao padre que me retribuiu com O Canto do Melro, biografia romanceada da sua vida, da autoria de Raquel Varela, historiadora que muito admiro, lutadora por causas que nos aproximam e que ultrapassam a espuma dos dias da maioria dos comentadores de serviço.

“Em plena Revolução dos Cravos, o Padre Martins antecipou a abolição do regime da colonia, apoiou a ocupação de terras pelos caseiros e camponeses e recriou a democracia ateniense, 2500 anos depois, tirando Cristo da Cruz, elevando toda a população à condição de cidadãos.” “A utopia não como um não lugar, inatingível, mas como sonho concreto, encarnado pelo Padre Martins” – in badana da capa do livro de Raquel Varela.

No final, a colega Maria José desafiou-me a dar alguns conselhos aos alunos. Surpreendido nos meus quase quarenta anos de ensino, lembrei-me de um, definidor de todo um conceito de vida e que transmitia aos meus alunos: Pode-se perder tudo mas nunca a dignidade! Dignidade que norteou a vida do Padre Martins que o levou a afrontar os poderes dos donos da Madeira em defesa dos mais pobres. Mas também a sede de aprender, aprender sempre, o conhecimento é fundamental, e a curiosidade…

 

Abílio Travessas

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