Voz da Póvoa
 
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A Tapeçaria de Bayeux e a Batalha de Hastings (1066)

A Tapeçaria de Bayeux e a Batalha de Hastings (1066)

Opinião | 4 Outubro 2023

 

A Tapeçaria de Bayeux é um bordado sobre linho branco, com mais de 70 metros de comprimento e 50 cm de altura, que “muitos consideram … a mais antiga banda desenhada do mundo!” – Grandes conflitos da história da Europa- de Alexandre Magno a Guilherme “O Conquistador” – João Gouveia Monteiro – Imprensa da Universidade de Coimbra, base deste escrito. É um documento, há outros sobre a batalha, uma peça de arte que chegou aos nossos dias – pode ser vista no Centre Gillaume le Conquérant, em Bayeux, Normandia – depois duma história de sobrevivência (na Revolução Francesa foi salva milagrosamente, chegou a ser escondida do exército prussiano em 1871 e durante a segunda guerra mundial “foi transferida à pressa para as caves do Louvre” por causa do desembarque aliado nas praias da Normandia.

A batalha de Hastings travou-se na actual Inglaterra entre Guilherme, duque da Normandia, e o rei anglo-saxónico Haroldo II que sucedera a Eduardo “o Confessor”. Um mau presságio para Haroldo foi a passagem pela Inglaterra do cometa Halley…

Ao contrário do prometido a Guilherme por Eduardo, a coroa de Inglaterra foi entregue a Haroldo, eleito pelos grandes senhores.

Guilherme era normando. Os Normandos, Nordmen, “homens do norte”, vikings que invadiram quer a Inglaterra quer a Gália e aqui passaram, do simples ataque com repartição do despojo, à conquista e ocupação do território. Em 911 por tratado com o rei da França ocupam o território entre a Bretanha e a Flandres, que ficou a ser conhecido por Normandia, única região em que os vikings sobreviveram “como uma unidade política forte (embora nunca tenha chegado a constituir um reino, já que reconhecia o monarca de França”.)

Falamos da Normandia. E a Bretanha, qual a história desta região francesa? A Britânia ou Bretanha foi província romana durante quatro séculos, desde Cláudio, imperador, até à chegada dos invasores germânicos, anglos e saxões, que acabaram por expulsar os bretões que, fugindo, atravessaram o canal e fundaram a Bretanha francesa.

Ao ter conhecimento da coroação de Haroldo, Guilherme começa imediatamente os preparativos de invasão e a tapeçaria é elucidativa, desde a construção dos navios – “… o desenho dos navios normandos mantinha-se razoavelmente fiel à sua herança viking” – aos carregamentos variados – cavalos, barris de vinho e armamento. Entre 450 e 600 navios, de 5000 a 10000 homens e 2000 cavalos constituiriam o exército invasor. A travessia não foi fácil pela falta de vento favorável e à aproximação do fim do verão. Mas os ventos chegaram e os normandos conseguiram chegar ao destino.

O exército inglês tinha nos housecards “possivelmente a melhor força militar europeia. Combatiam com machado de duas mãos e cabo longo (com qual conseguiam abater um homem e o seu cavalo de um só golpe), ou com a espada (dizendo-se que, com ela, eram capazes de rachar um adversário ao meio, de alto a baixo, sem se notar o corte!)”. Haroldo, entretanto, foi obrigado a deslocar-se ao centro da Inglaterra, Stamford Bridge, para combater um invasor norueguês, o que provocou grande desgaste nos homens, “tendo muitos deles travado dois combates no espaço de cinco noites!” Mas não houve descanso pois três dias depois Guilherme desembarcava no sul de Inglaterra. Mais marcha forçada e decisão controversa de dar batalha “com muitos conselheiros a procurarem travá-lo.” O exército inglês teria 10000 homens sendo a principal lacuna a falta de arqueiros.

É interessante sublinhar que o corcel preferido de Guilherme era uma prenda do rei Afonso VI de Leão, avô materno do nosso Afonso Henriques.

A batalha durou cerca de 12 horas e decidiu-se com a morte do “rei Haroldo e de muitos outros homens de valor.”

Consequências de longo prazo segundo JGMonteiro: “na sequência desta batalha e devido a ela, a Inglaterra entrou num novo patamar histórico. A faceta mais importante da síntese anglo-normanda foi, talvez, a combinação de um rei conquistador e de uma nova classe governante, por um lado, com os tribunais anglo-saxónicos, as tradições legais e os poderes régios, por outro”. O que, segundo Stephen Morillo – The Battle of Hastings – ajudou a lançar os alicerces da common law inglesa, do constitucionalismo (Magna Carta de João Sem Terra, em 1215) e do governo representativo. Mudando a história de Inglaterra e da Europa até aos nossos dias.

 

Abílio Travessas

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