Quem não se lembra de aprender na escola, que a máquina da imprensa terá surgido por volta do ano de 1430, na Alemanha, com Gutenberg? Eu na altura, achava fascinante pensar como alguém se teria lembrado de criar uma prancha e carateres para fazer a impressão de páginas, que mais tarde dariam lugar a livros (dos quais eu gostava tanto), que nos ensinavam tanto e faziam voar a nossa imaginação. Mas à medida que as aulas aprofundavam o tema, seguia-se a importância dos jornais, coisa que eu não compreendia em tão tenra idade. Achava que os jornais tinham demasiado texto e poucas imagens, a preto e branco e não me prendiam muito a atenção para dizer a verdade. Mas, lá nos pediam alguns trabalhos, fazíamos uns recortes e tentávamos perceber a importância daquelas páginas.
Mas, quando é que comecei a valorizar verdadeiramente a imprensa? Anos mais tarde, graças aos meus professores de português que sempre foram grandes defensores da importância da imprensa para a liberdade e a democracia. Talvez porque tivessem ainda bem presente o período do antes 25 de Abril de 1974, sempre me passaram de uma forma muito apaixonada e veemente, a importância daquilo que era INFORMAR. Sempre me incentivaram a escrever e a participar nos jornais da escola, que era comum existirem. Aliás, nas várias atividades e grupos associativos aos quais fui pertencendo, sempre fiz questão de incentivar a escrita de artigos de informação ou de opinião, que fossem transmitindo as linhas de pensamento que nos guiavam e de trabalho que nos propúnhamos realizar. Acho que sempre acreditei, de forma genuína, no poder da informação. A informação verdadeira impede-nos de voltar a cometer erros anteriormente cometidos. Mas para isso, para a garantia da nossa liberdade, temos de conhecer a verdadeira informação sobre o nosso passado e presente. Sem manipulação.
A Democracia a que nos habituamos nos últimos 51 anos tem tido um parceiro fundamental que informa e dá voz às várias vozes: a imprensa. Com o objetivo de promover o debate público informado, a pluralidade de opiniões e a proteção de direitos e liberdades (como a liberdade de expressão, a imprensa cumpre um papel primordial nas comunidades. Só assim, na diversidade das opiniões, podemos construir a crítica construtiva que tanto a democracia necessita. Infelizmente, as boas práticas nesta matéria são cada vez menos… A crítica parece que só pode ser destrutiva ou pessoal. Não abrange o campo do pensamento refletivo e das ideias. Atrevo-me a dizer que precisamos urgentemente de pessoas que consideremos referências de pensamento. A capacidade para analisar e pensar, exige tempo… E o tempo é cada vez menos, mais rápido. Não permite esperar resultados da reflexão. Parece que tudo tem de ter resposta imediata. E na verdade, não tem. Às vezes, é preciso ter tempo para pesquisar, encontrar factos e analisar até conseguirmos construir um documento que transmita a realidade da informação, sem impor ou influenciar a opinião de quem lê. Para que cada um possa tirar as suas próprias ilações.
No entanto, nesta era digital somos assoberbados pelas fake news, pela falta de qualidade da informação e pela dificuldade que temos em não consumir informação instantânea e generalizada. A informação (qualquer que ela seja), entra-nos “pelos olhos dentro”, a toda a hora e momento, mesmo quando não a procuramos. Isso faz com que não tenhamos tempo sequer de processar a informação, vamos sendo acumuladores de informação e não distingamos o essencial do acessório. Temos a informação que procuramos e a que não procuramos. Parece que se demorar mais tempo já é extemporâneo… Mas, à semelhança do modelo de vida que se começa a defender agora de “Slow living”, talvez devamos começar a defender uma imprensa menos sensacionalista e minimalista no que se refere à utilização de hipérboles e disfemismos por exemplo.
Mas, será que o problema está na forma jornalística que é agora veiculada no ensino ou será que o problema está na veia comercial que é necessário os meios de comunicação social terem para sobreviverem à concorrência?
A minha grande questão coloca-se agora numa outra dimensão: no futuro da recolha, arquivo e informação fidedigna. Atualmente, toda a informação que existe está muito dispersa. Quer seja na “nuvem”, quer seja nas máquinas fotográficas digitais e discos rígidos (que não imprimimos) e em todos os meios digitais que utilizamos. O facto de já não termos a circular tanto papel (o que é bom em termos ambientais), também não nos permite, na minha forma de pensar, um arquivo bem definido para consulta futura. Acho que se pode mesmo perder muita informação...
Por isso mesmo, na atualidade, com a desinformação constante, a existência de meios de comunicação social, verdadeiros e fiáveis torna-se cada vez mais importante para uma democracia saudável.
A capacidade de independência editorial, de compromisso com a verdade, de ética jornalística, de capilaridade social e de resiliência/liberdade tornam a sua missão verdadeiramente um pilar democrático.
E ainda mais, a nível local, quando, um jornal como a Voz da Póvoa, que se tornou uma ponte entre gerações, preservando a memória coletiva da nossa região e valorizando a cultura local nos facultou conteúdos que dificilmente encontraríamos nos jornais de dimensão nacional.
Através do nosso jornal local, agora em versão papel e digital, para atingir novos públicos, vamos estando a par dos eventos que ocorrem na nossa região e sem o qual, muitas pessoas não teriam conhecimento dos mesmos. O facto de se dar visibilidade e voz às iniciativas e cidadãos locais, promove sem dúvida uma cidadania mais ativa e consciente. E essa capacidade ou competência adquirida, permite decidir melhor.
Parabéns pelos 87 anos de vida, Voz da Póvoa! A mais 87!
Andrea Silva, candidata à presidência da Câmara pelo PSD
(Nos 87 anos A Voz da Póvoa)