
Algumas batalhas passam ocultas aos olhos dos outros…
Não deixam vestígios de sangue, tampouco troféus na estante, mas ardem por dentro, silenciosas, como brasas sob a pele.
São disputas que travamos com o Ego, que insiste em seguir sempre os mesmos padrões, olvidando que a lição não está no erro, e sim na vontade de acertar.
É fácil admirar a conquista visível: o diploma, o aplauso, o reconhecimento público. Entretanto, legitimar o empenho de quem aprende a edificar-se em meio ao próprio caos, consiste tarefa árdua demais.
O ato quase heroico de levantar-se da cama quando o corpo diz que não há força para carregar os males do espírito, ou a coragem de olhar-se ao espelho e ver o presente, ignorando os fantasmas do passado, é triunfo sem ovação ou direito a medalha.
O momento em que alguém escolhe o perdão em vez da culpa é invisível para o mundo exterior. A decisão de calar, não por receio, mas por entender que o silêncio revela o impronunciável, constitui pequenas vitórias que constroem uma profunda dignidade.
Aprender a mergulhar em si mesmo é como submergir nas profundezas do oceano, sem perder o fôlego. É enfrentar memórias que rasgam como corais, é encontrar em cada concha fechada fragmentos de tudo o que fomos. E, creiam, muitas vezes o medo de encontrar-se é maior que o de se perder.
Buscar o autoconhecimento é uma travessia em mar revolto, onde o barco somos nós e o destino é a nossa própria essência.
Há quem confunda autodescoberta com egoísmo. Mas como se pode amar o outro sem antes amar a si mesmo? Apenas quem mergulha nas próprias sombras percebe a importância da luz. E só quem se permite ver-se inteiro, imperfeito, magoado, combalido, pode dar ao mundo algo verdadeiro.
Evoluir não é vencer sempre, é levantar depois de um pealo e dar tempo à emoção para entender o que a razão já sabe. É permitir-se ser processo, não produto.
É por detrás das cortinas que os gestos mais nobres acontecem: a ousadia de recomeçar, a humildade em pedir desculpas, o perdão concedido sem testemunhas, são movimentos inefáveis que mudam o rumo da vida.
E há uma beleza serena em continuar, ainda que nada pareça diferente. Porque o amadurecimento é um movimento inaudível que ecoa nas escolhas que fazemos, nos padrões que abandonamos, nas respostas que calamos, nos sonhos que abraçamos.
É perceber que o verdadeiro sucesso não é conquistar um lugar, mas aprender a habitar-se. A fazer-se morada com mais gratidão, a ser abrigo de si mesmo durante as tempestades.
Há quem invista todos os segundos da vida a buscar o reconhecimento alheio, quando a verdadeira vitória é reconhecer-se.
E, no fim, o que verdadeiramente importa é ter sido fiel ao próprio caminho, pois tudo o que daqui se leva é a experiência, nem plata, nem diploma, nem glória.
A maior de todas as vitórias não reluz aos olhos: ilumina alma e acende o olhar!
Maria Luiza Alba Pombo