Voz da Póvoa
 
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A CONQUISTA DO PARAÍSO

A CONQUISTA DO PARAÍSO

Opinião | 19 Abril 2025

 

As ideias comunistas ou anarquistas datam, pelo menos, dos profetas da Antiguidade Judaica:

"A terra será comum a todos, e não haverá muros nem fronteiras...todos viverão em comum e a riqueza tornar-se-á inútil... E já não há, não haverá nem pobres, nem ricos, nem tiranos, nem escravos, nem grandes, nem pequenos, nem reis, nem senhores, todos serão iguais."

Já o "profeta" do neo-liberalismo, o patife Milton Friedman, afirmou que o mercado é "um mecanismo mágico que permite unir quotidianamente milhões de indivíduos, sem que eles tenham a necessidade de se amar e nem mesmo de se falar." Daí que urja destruir o dinheiro e o mercado.

O comunismo é a destituição da economia. E "sociedade" é sinónimo de empresa. Por essas e outras, há muitos anos atrás, abandonei a Faculdade de Economia do Porto e mudei-me para a Faculdade de Letras, para o curso de Sociologia. O primado da economia é cruel, absurdo e desumano.

O gesto comunista ou anarquista significa agarrar as coisas e os seres a partir do interior.

"O Mc Donald's é a oferta absoluta da colectividade. Come-se a mesma merda e todos estão (aparentemente) contentes. Há o cliché do comunismo enquanto colectivização. Nada disso: o capitalismo é que a colectivização. O comunismo é o abandono do Homem à sua solidão." (Heiner Muller)

Daí o caminho do solitário, rumo a si mesmo, rumo à sabedoria, ao gozo, ao amor, à libertação, como preconizam Nietzsche, Sócrates e Platão. Daí o "Único" de Max Stirner. Ninguém manda em nós. Somos os nossos próprios deuses, como diz Jim Morrison. Não há Deus, nem patrões, nem governos, nem senhores das bolsas, dos bancos, da finança ou dos computadores. "O governo é a negação do eu", afirma Henry Miller.

A verdadeira questão comunista não é "como produzir?", mas sim, "como viver?". Viver a vida boa, sem controle, sem cruzes, sem sacrifícios, o Céu na Terra, o Natal na Terra de Rimbaud, o Paraíso, o Paraíso Reconquistado de John Milton. Assim seja. Não há regras nem limites. Somos infinitamente livres. Para todo o sempre.

António Pedro Ribeiro, sociólogo, poeta, desassossegado e inquieto

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