Voz da Póvoa
 
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31 de Janeiro de 1891

31 de Janeiro de 1891

Opinião | 14 Fevereiro 2022

O meu avô paterno morreu 30 anos antes de eu vir a este mundo. Dele chegara histórias e aventuras, a sua biblioteca e o republicanismo que herdei. Livre pensador e bon vivant apoiou a revolta republicana do Porto de 31 de Janeiro de 1891.

António José de Sousa Lima tinha voltado do Brasil no ano anterior onde foi companhia de seu pai nos últimos tempos. Uma vez regressado a Portugal retomou o contacto Sampaio Bruno que além de “antigo companheiro de escola e camarada de ilusão” o considerava “constante amigo desde as bancadas do Colégio, espírito limpo de tradicionalistas preconceitos e ânimo disposto a todas as aspirações amplas”. Começou a frequentar a tertúlia republicana que se reunia na padaria da família de Sampaio Bruno, na Rua do Bonjardim, onde ambos residiam. Participavam nessa tertúlia, entre outros, Manuel Teixeira Gomes, Basílio Teles e Ricardo Malheiros.

No rescaldo da falhada revolta republicana de 31 de Janeiro de 1891, Sampaio Bruno por ter participado activamente na revolta, teve de abalar apressadamente a caminho do exílio para escapar à mais que certa perseguição. Anos mais tarde Sampaio Bruno assim narrou a fuga: “nas imediações do Porto nos metemos num coupé que fretámos, eu e outro camarada de colégio, António José de Sousa Lima Júnior, seguindo para a propriedade que este cavalheiro possui nas cercanias de Braga, em Prado.

Em Prado passei a noite e o dia seguinte, no fim da tarde, com Sousa Lima e alguns amigos dele, numa caleche que se arranjou, partimos para Viana do Castelo. Saímos da carruagem que a todos nos conduzia, eu e o Sousa Lima, no começo da rua onde à época residia Guerra Junqueiro, na porta do qual Sousa Lima bateu duas fortes argoladas”.

Bruno, que entretanto seguiu para Paris, escreveu à mãe: “aqui tenho estado com o Lima que creio se demora ainda uns dias”. Na verdade, Sousa Lima aproveitou o exílio do amigo para lhe fazer companhia e se precaver de algum percalço persecutório.

O pai dele viveu com preocupação os acontecimentos do trinta e um de Janeiro e das semanas que se seguiram, temeu pela segurança do filho, cujo futuro igualmente o preocupava; já bem entrado nos trinta anos não dava mostras de querer assentar.

Para tranquilidade do progenitor, algum tempo depois apaixonou-se pela minha avó e casou.

João Sousa Lima

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