Voz da Póvoa
 
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Museu da Emigração Açoriana: um espaço de memórias da diáspora açoriana

Museu da Emigração Açoriana: um espaço de memórias da diáspora açoriana

Nacional | 20 Agosto 2025

 

A emigração tem sido ao longo do tempo um fenómeno constante no modo de vida de milhares de açorianos. Embora as suas origens remontem aos primórdios do povoamento do arquipélago português situado no Atlântico nordeste, o seu carácter sistemático consubstanciou-se entre os séculos XIX e XX com o surgimento dos cinco grandes destinos da emigração açoriana: Brasil, Estados Unidos da América, Bermudas, Havai e Canadá.

Atualmente estima-se que cerca de 1,5 milhões de açorianos e seus descendentes residam no estrangeiro, números reveladores da grandeza da diáspora açoriana, muito mais se considerarmos que residem no arquipélago cerca de 250 mil pessoas, e que ajudam a compreender a razão destas numerosas comunidades serem denominadas “A Décima Ilha”.

Como sustenta António Machado Pires, acerca da “Emigração, Cultura e Modo de Ser Açoriano”, os “açorianos da emigração são hoje, pelo seu número e pela sua diversidade, um vasto prolongamento da unidade e da diversidade dos Açores. São continuadores, descendentes, representantes de um conjunto de tradições, de uma língua e de uma cultura – de que não têm que se envergonhar. Enquanto conhecem a sua língua materna, enquanto lembrarem as suas terras e as suas festividades, enquanto conservarem, ainda que só reminiscências da história do seu povo, estão a constituir uma comunidade autêntica, assente nos laços de sangue e de cultura”.

A mundividência e relevância da diáspora açoriana encontram-se plasmadas na missão e objetivos do Museu da Emigração Açoriana. Inaugurado em 2005, no antigo Mercado de Peixe da Ribeira Grande, o espaço museológico, aberto à união de esforços e trabalhos em parceria no âmbito da história da emigração portuguesa, preserva através de fotografias, documentos, roupas e memórias de diversos tipos, as trajetórias de milhares de açorianos que ao longo do devir histórico saíram do arquipélago para o estrangeiro em busca de melhores condições de vida.

O Museu da Emigração Açoriana, ao estruturar uma visão geral sobre as razões e destinos da diáspora açoriana, constitui não só, um elemento-chave na história da emigração açoriana, como valida a sua considerável base de dados com fichas de emigrantes e os requerimentos para emigração realizados no século XIX. Mas também, representa um elemento-chave para a compreensão e identidade do arquipélago, e do demais território nacional, ou não fosse a emigração um fenómeno constante da vida portuguesa.

De facto, o Museu da Emigração Açoriana, instalado no terceiro concelho mais populoso da Região Autónoma dos Açores e o segundo da Ilha de São Miguel, tem vindo a resgatar a documentação municipal açoriana relativa a processos de emigração, entre 1879 e 1989, com o objetivo de preservar e dinamizar a pesquisa entre os emigrantes e o torrão arquipelágico. Um trabalho relevante, empreendido pelo espaço museológico, que no próximo mês de setembro assinala o seu 20.º aniversário, e que já abalizou a digitalização e inventariação de dados relativos aos concelhos da Ribeira Grande, Ponta Delgada, Lagoa e Nordeste.

Na esteira das palavras abalizadas da professora luso-americana Rosa Simas, proferidas, em 2022, na cerimónia de reabertura do espaço ao público, então alvo de renovações ao nível do interior e engrandecido com uma nova museografia. O Museu da Emigração Açoriana, uma genuína “Casa da Emigração nos Açores, celebra tudo isso, de uma forma real e dinâmica, dando-nos o privilégio de podermos participar, aqui e no além, da experiência emigrante, da dimensão diáspora que faz parte do próprio ADN da Açorianidade, como também faz parte do ADN da Portugalidade, embora não exista, até à data, um museu nacional da emigração, um enorme lapso, a meu ver, do país”.

Daniel Bastos, historiador

Foto: Museu da Emigração Açoriana-©Câmara Municipal da Ribeira Grande

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