Voz da Póvoa
 
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Tem a Palavra as Correntes d’Escritas

Tem a Palavra as Correntes d’Escritas

Local | 22 Fevereiro 2023

 

A data pode não ser a mesma, o mês sim. Em cada ano, Fevereiro tem a palavra para nos dizer quem somos. O Salão d’Ouro do Casino da Póvoa voltou a ser o palco da sessão de abertura da 24ª edição do Correntes d’Escritas, onde como habitualmente, entre outros, foi anunciado o vencedor do Prémio literário Casino da Póvoa, desta vez atribuído a Maria do Rosário Pedreira. 
 
Outra honra que se repetiu e reforça a grandeza do encontro de escritores de expressão ibérica, foi a presença do Ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva.

“É um dos maiores festivais literários do nosso país, um acontecimento que de certa forma inaugura o ano literário. Isso acontece pela presença, visível, de tantos escritores, editores e artistas oriundos dos vários países de expressão ibérica. Queria, por isso, saudar autores e eleitores e, naturalmente, em particular a Câmara Municipal da Póvoa de Varzim na pessoa do seu presidente, por ano após ano, ao longo de 24 edições, mesmo com a pandemia pelo meio, ter realizado este evento literário”, reconheceu Pedro Adão e Silva.

Para o Ministro da Cultura “uma das singularidades deste festival é juntar a escrita dos vários países de expressão ibérica, um dos universos linguísticos mais importantes do mundo e a força do festival reside aí”. Acrescentando que a cultura “foi e será sempre um instrumento de transformação dos territórios”.

Por seu lado, o Presidente da Câmara Municipal, fez uma viagem pela palavra, pelas várias faces que a mesma contém, citando Eugénio de Andrade, que nasceu há 100 anos e vive hoje na poesia, “lembro que – As palavras são a nossa condenação. Com palavras se ama, com palavras se odeia. E, suprema irrisão, ama-se e odeia-se com as mesmas palavras.” Será porque, como lamentava Saramago, “a palavra deixou de ter conteúdo e de ter qualquer coisa dentro, e é pronunciada com uma leviandade total?”

Para Aires Pereira, “a palavra é, hoje – mais do que em qualquer outro tempo histórico - uma arma, infelizmente, quase só de arremesso. É com ela que temos de nos defender, na batalha da verdade contra a mentira e da empatia contra o ódio”. 

Numa alusão à crise da palavra, destacou a importância da cultura para “travar a ameaça militante à liberdade, pelo mau uso da palavra”.

Num olhar atento ao presente arguiu que “vivermos na era das múltiplas crises ou, se preferirmos, na era da crise generalizada. E em todos os seus contextos, como dominador comum deste mal social, está a crise da palavra cuja honra através do bom uso, temos de resgatar”.

Há quem já tenha proclamado a morte da palavra, ou o silêncio perante a máquina, mas isso para Aires Pereira, seria “não apenas a morte da verdade, mas, bem pior, a morte da inteligência, a capitulação da memória perante o instante, a emergência avassaladora de um mundo asséptico, onde não haveria lugar para a dúvida, para a contrariedade e para a dificuldade, que são, como bem sabemos, o alfobre do impulso criador”. Para que o mundo possa respirar fundo, desejou por isso, “longa vida à Palavra e àqueles que honradamente a cultivam”.

Por: José Peixoto

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