Ser a primeira mulher a assumir o cargo de Capitão de Porto e Comandante-local da Polícia Marítima da Póvoa de Varzim e Vila do Conde, abriu uma nova página na história da Marinha Portuguesa, mas o tempo encarregar-se-á de a transformar em novo normal, porque em causa está apenas a capacidade que a capitão-de-fragata Mónica Pereira Martins, de 46 anos e natural de Tomar, demonstrou para ocupar um cargo de grande responsabilidade.
A oficial tomou posse, na sexta-feira, numa cerimónia realizada na Capitania do Porto da Póvoa de Varzim, e presidida pelo Director-geral da Autoridade Marítima e Comandante-geral da Polícia Marítima, Vice-almirante João Dores Aresta, que contou com a presença do Presidente da Câmara Municipal, Aires Pereira e do seu executivo, Presidentes de Junta de Freguesia, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Vila do Conde, Sara Lobão, entre outras entidades oficiais e presidentes de associações de pesca da maior comunidade piscatória do país.
Em contexto profissional, o facto de ser mulher, segundo Mónica Martins não lhe mereceu grande reflexão. “Tendo integrado o primeiro curso de mulheres da Escola Naval, é natural que seja pioneira em diversas situações. Certamente, que mais mulheres com competência, vão chegar a estes cargos. Claro que sinto um peso maior nos ombros pelo facto de ser a primeira mulher, e sei que tenho os olhos colocados em mim, mas tentarei gerir o meu dia-a-dia, executar as funções e todas as minhas competências, da mesma forma que o fizeram todos os meus antecessores. Só tenho de seguir o bom exemplo deles e dar o meu melhor”, disse a nova comandante da Capitania poveira e vilacondense, no final da tomada de posse.
E confidenciou que, “em lado nenhum onde tenha chegado até agora, me senti tão acolhida, acarinhada e tão bem-vinda. Isso deve-se, creio, à forma de ser das gentes do Norte, mas também ao facto de Póvoa de Varzim e Vila do Conde ter pessoas muito chegadas ao mar e, por isso, veem na Autoridade Marítima Nacional e nestas capitanias em particular, um parceiro e alguém que toma conta deles no mar”.
Quanto à missão a desempenhar: “Estamos presentes para apoiar as populações, para cumprir com aquilo que são as nossas obrigações em termos de competências e garantir que as pessoas vão para a praia e os pescadores para o mar em segurança”.
A Capitão-de-fragata Mónica Martins sucede ao Capitão-de-mar-e-guerra Bruno Ferreira Teles, que comandou a Capitania da Póvoa de Varzim e Vila do Conde, nos últimos três anos, deixando uma mensagem de felicidade à inédita sucessora: “Que seja tão feliz como eu fui nestes dois territórios, de onde parto de coração cheio, com muitas amizades e dívidas de gratidão que nunca conseguirei retribuir a todos os que me ajudaram nesta missão”.
A oficializar a rendição do cargo pela primeira mulher capitão de porto, esteve o Vice-almirante, João Dores Aresta, que considerou o facto de uma mulher assumir cargos de relevo “é um forte indicador das mudanças sociais, culturais e profissionais”. E sublinha “a notória e crescente relevância do papel feminino em cargos e profissões nos quais, as nomeações estavam exclusivamente direccionadas para homens". Mostrando-se convicto de que com o tempo “outros exemplos se seguirão e vão acontecer na Autoridade Marítima Nacional”.
No seu discurso, Aires Pereira aproveitou o momento para revelar a atribuição de um Voto de Louvor ao Comandante Bruno Teles, que a Câmara aprovará em Reunião e que, “testemunha aquilo que foi o seu desempenho profissional, a sua capacidade de nos juntar a todos e a forma com que, superiormente, dirigiu esta capitania do Porto da Póvoa de Varzim e Vila do Conde”. E presenteou o Capitão-de-mar-e-guerra com uma réplica da Lancha Poveira, “para que navegue com bons ventos para onde for”. Por sua vez, à nova Comandante da Capitania Mónica Martins, deu as boas-vindas recordando os problemas de sempre “a barra assoreada, as dificuldades que isso acarreta para os pescadores, o que faz de si um elemento fundamental na economia local. As associações de pesca local têm sempre no Capitão do Porto um aliado, que tem que gerir a segurança em primeiro lugar, mas também a economia face aos dias em que muitas vezes a barra está encerrada e não permite saídas ao mar. Esse é um problema recorrente nas barras da Póvoa ou Vila do Conde que urge resolver. Essa será uma preocupação que a senhora Comandante terá neste seu mandato”.
No final, “para que a partir deste momento se sinta um dos nossos”, o Presidente da Câmara ofereceu “a nossa farda oficial: a Camisola Poveira”.
Por José Peixoto
Fotos: Rui Sousa
