Voz da Póvoa
 
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Acto de Doação do Uniforme de Silva Ribeiro ao Município

Acto de Doação do Uniforme de Silva Ribeiro ao Município

Local | 26 Fevereiro 2023

 

Na função de servir a Nação e honrar a Pátria, foram mais de quatro décadas que o Chefe de Estado-Maior-General das Forças Armadas, almirante Silva Ribeiro, dedicou da sua vida ao serviço da Marinha de Guerra Portuguesa. Os laços que o uniram à Póvoa de Varzim foram agraciados, em 2018, com a medalha de Cidadão Poveiro grau ouro. Razão entre outras, que o levou a doar, no dia 22 de Fevereiro, o seu uniforme de Almirante ao Município da Póvoa de Varzim. A peça fica, agora, em exposição pública no Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim.

“O símbolo mais íntimo e perene da minha condição de marinheiro. Faço-o porque esta farda representa muito mais do que eu, traduz uma comunidade de portugueses e militares da armada que com brilho e abnegação servem os seus concidadãos do mar. Aqui fica para que, quem a olhar compreenda a visão que norteou a minha longa carreira militar – servir a Nação e honrar a Pátria. Aqui fica também para que de forma genuína e franca, prestar uma homenagem perene aos poveiros que, desde tempos imemoriais, simbolizam a característica mais distintiva da nação portuguesa, que é o seu modo de vida ligado ao mar”, disse o Almirante Silva Ribeiro.

E acrescentou: “Aqui fica, ainda, como sinal do meu profundo respeito por alguns extraordinários marinheiros poveiros que, por feitos altruístas e patrióticos, como Camões refere, se libertaram da lei da morte e ascenderam ao estatuto de heróis nacionais. Refiro-me a José Rodrigues Maio, imortalizado como Cego do Maio, a João Martins Areias, afamado como Patrão Sérgio, e a Manuel António Ferreira, celebrizado como Patrão Lagoa. Foram três patrões de salva-vidas lendários que resgataram muitos náufragos de embarcações de pesca, de navios mercantes e do NRP São Rafael, evitando, como referiu o poeta vilacondense José Régio, ‘que Deus fosse servido de dar-lhes no mar sepultura’, ou ainda o marinheiro telegrafista Elísio Martins da Nova, que durante a primeira Guerra Mundial morreu no seu posto, no combate travado com o submarino alemão U139, ao largo dos Açores”.

A “um povo de marinheiros”, entre os quais se incluem antepassados de Silva Ribeiro, “presto com a entrega desta farda, a minha singela e sentida homenagem!”

Numa das últimas cerimónias oficiais como Chefe de Estado-Maior-General das Forças Armadas, referiu que “no desempenho dos cargos que exerci, pude constatar nas minhas múltiplas visitas a esta magnífica cidade, o carinho, a simpatia e a fraternidade das suas gentes”, lembrando com saudade “as celebrações do Dia da Marinha de 2017, onde para assinalar os 700 anos da instituição, houve uma extraordinária manifestação do espírito da cultura e das tradições marítimas desta terra”, concluiu Silva Ribeiro.

No seu discurso, o Presidente da Câmara Municipal, Aires Pereira, recuou a 2018, quando distinguiu o Almirante com a medalha de Cidadão Poveiro, consciente de que “não foi tanto a si que prestigiámos: nós, Poveiros, é que acrescentámos prestígio, dignidade e honra aos nossos pergaminhos comunitários. Eu sei, nós aqui sabemos que ser português é uma honra, ser Poveiro são duas! É que além da condição de portugueses, os poveiros orgulham-se da forma específica do exercício da sua portugalidade”, frisando que “o almirante Silva Ribeiro é de facto um português ‘à poveiro’, mas já era antes de lhe termos atribuído oficialmente essa condição”.

O Edil referiu ainda que não esquece “que o ramo militar que chefiava teve, então, com a Póvoa de Varzim uma proximidade nunca antes vista. Designadamente nas comemorações do segundo centenário de nascimento do Cego do Maio e da transladação dos seus restos mortais e dos seus dois companheiros do salva-vidas para o memorial municipal, um acto em que a marinha por si chefiada prestou as honras militares devidas àqueles heróis”.

Aires Pereira lembrou que “se a nossa relação com a marinha era por força de circunstâncias naturais a mais antiga, é também mais do que centenária a nossa relação com o exército feita igualmente de proximidade”. Por isso, “a Póvoa na interacção com as forças armadas é uma cidade privilegiada e mais prestigiada se sente quando o muito prestigiado Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas decide, num gesto do mais alto simbolismo, nos doar, para exposição no nosso museu, um dos seus fardamentos. Através desta doação, o senhor almirante continua connosco, num dos símbolos principais da sua missão de serviço à Nação”.

A honra que concebe aos poveiros em doar “o conjunto de fardamento que hoje nos doa, e que o acompanhou em acontecimentos importantes da sua vida, continuará entre nós como sua representação imaterial, como que vestindo o seu corpo ausente e perpetuando a sua memória. Mas, aviso já, não dispensando a sua visita, regular, à cidade que há muito o estima e que a partir de hoje tem mais um motivo para se confessar eternamente grata e devedora”.
 
Em nome do Município da Póvoa de Varzim, Aires Pereira retribuiu o generoso gesto do Almirante com a doação do uniforme, com a oferta de uma escultura evocativa do Cego do Maio, a arrancar do mar vidas, da autoria de Afonso Pinhão Ferreira, artista plástico e Presidente da Assembleia Municipal da Póvoa de Varzim.

Durante a tarde, realizou-se num lotado Salão Nobre, uma mesa-redonda “Nato e as cidades costeiras: O papel na coesão transatlântica”. O evento, teve a participação do Presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, Aires Pereira; do Chefe de Estado-Maior-General das Forças Armadas, Almirante Silva Ribeiro; do Coordenador do International Studies Programme da Universidade Católica do Porto, Azeredo Lopes, e do Presidente da Associação da Juventude Portuguesa do Atlântico, Manuel Matos dos Santos, tendo sido abordadas questões ligadas à defesa nacional e internacional, regresso ou não do serviço militar obrigatório, assim como a importância de olharmos com redobrada atenção, no âmbito da Aliança Atlântica, para temas como a juventude, o mar, as migrações e as alterações climáticas, problemas que afectam cada vez mais uma sociedade que se quer livre e proporcionada.

Por: 
José Peixoto

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