Voz da Póvoa
 
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A Póvoa de Varzim na Linha da Frente na Reciclagem

A Póvoa de Varzim na Linha da Frente na Reciclagem

Local | 6 Outubro 2020

O mundo avança e as responsabilidades não podem envelhecer. Da velha Grécia, há milénios, chegou até nós o conhecimento da existência de uma civilização que já respondia a uma cultura de conhecimento que fez nascer e crescer cidades com uma organização extraordinária, quer ao nível da comodidade, quer ao nível da higiene. Os edifícios e as cidades tinham já aquilo a que chamamos hoje, de Saneamento Básico.

Os séculos avançaram e em 2020, ainda não temos conseguido dar respostas adequadas às exigências naturais do meio ambiente. A evolução e o mundo ‘civilizado’ transformaram a quase natural reciclagem dos objectos na obrigação de a fazer. O mesmo se poderá dizer em relação ao quase total aproveitamento alimentar de ontem e o enorme desperdício de hoje.

Os municípios que perceberam o caminho a seguir, criaram e estabeleceram parcerias, mas também objectivos para construir uma sociedade mais sustentável e com preocupações ambientais. Para isso, foi necessário promover acções capazes de despertar nas pessoas uma grande mudança de comportamentos ao nível da reciclagem: “De facto tive à minha frente um desafio muito grande, que era alterar por completo a metodologia da recolha de resíduos. Nós passamos de um regime de recolha de proximidade, em que a pessoa vai com os seus resíduos junto do ecoponto ou contentor mais próximo e deposita-os, para a recolha porta a porta. Tivemos que contar com a boa vontade da população em colaborar neste processo de reciclagem. É um caminho que o município tem vindo a fazer ao longo dos anos, também com a integração na LIPOR e com todos os processos que esta foi implementando ao longo dos anos. Esta recolha porta a porta foi mais um projecto da LIPOR, que agarramos desde o início com muito interesse. Sabíamos que o modelo em vigor de recolha de resíduos selectivos estava ultrapassado. Havia por isso, a necessidade de criar algo inovador para podermos atingir as metas estipuladas a nível nacional para a separação de resíduos, que eram ambiciosas. Transportadas estas metas para os sistemas de gestão de resíduos, no nosso caso a LIPOR, por inerência os municípios têm, depois, as suas próprias metas a atingir. O projecto porta a porta marcou de facto essa mudança. Ou seja, a pessoa passa a ter um ecoponto dentro de portas, sem fazer um esforço adicional, porque no exacto momento em que produz os resíduos pode fazer imediatamente a separação em casa. Depois, é só respeitar o calendário de recolha. É um processo muito mais cómodo, eficiente e mais sustentável. Os resultados são prova disso mesmo”, explica Sílvia Andrea Gomes da Costa, Vereadora do Ambiente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim.

Para tornar eficiente a recolha porta a porta, foi necessário sensibilizar os munícipes: “Foi também feita porta a porta. Em cada fracção, em cada habitação, uma equipa de técnicos de sensibilização ambiental da LIPOR, juntamente com a equipa do município estiveram em cada uma das casas a sensibilizar, a informar. Particularmente, na zona do Bairro Sul, há habitações muito pequeninas e percebemos que era difícil ter os quatro equipamentos. Houve aqui uma adaptação no próprio processo que passou por transformar estes quatro contentores num só. As pessoas passaram a fazer a separação dos resíduos nuns Eco Bagues (ecobags) e colocam no contentor que é sempre o mesmo a ir à recolha. Uma adaptação pioneira em função das circunstâncias”.

E recorda: “Neste projecto, escolhemos duas áreas piloto, pela tipologia de habitação, porque naturalmente, este sistema de recolha porta a porta é muito mais adequado para habitações unifamiliares, ou mesmo em propriedades horizontais, mas com poucas fracções. No âmbito do estudo que foi feito para a Póvoa de Varzim, ficou definido que iriamos implementar este sistema nos edifícios até oito fracções, acima disso fica difícil de gerir. Escolhemos as zonas que cumpriam estes pressupostos e fizemos a apresentação do projecto na Escola da Lapa. A receptividade das pessoas na altura foi muito grande, porque a possibilidade de terem os contentores dentro de portas pareceu-lhes interessante, mas também as obrigava a alterar alguns comportamentos. O lixo diferenciado não podia ser colocado, diariamente, à recolha, tinham que o guardar dia sim, dia não, dentro de portas. Interiorizado o processo, as duas primeiras zonas onde iniciamos o projecto está perfeitamente estabilizado, em níveis de colocação à recolha e de adesão. Claro que há sempre quem não concorde, quem encontre dificuldade, mas creio que um munícipe bem informado, convence o outro”.

Sílvia Costa revela que actualmente, o porta a porta residencial, das habitações, representa quase dez por cento da recolha: “Sabemos que há uma parte da cidade onde predomina a propriedade horizontal com um elevado número de fracções, onde este sistema não se adapta. Vamos ter que avançar com uma metodologia de recolha diferente. À medida que os projectos em curso vão ganhando a sua maturidade e sustentabilidade, vamos aumentando e alargando a outras partes da cidade. Esperamos durante o próximo ano, tratar desta questão dos prédios e alargar a recolha selectiva, com um novo modelo. As freguesias também estão nos nossos horizontes. Pela proximidade e pela tipologia mais urbana, iremos alargar numa primeira fase a Aver-o-Mar. É um projecto que está em estudo e avaliação. Durante o próximo ano, iremos assistir à ampliação deste processo”.

Adesão dos Poveiros à Reciclagem é Exemplo na LIPOR

A reciclagem é para a Vereadora do Ambiente uma aposta ganha: “Estou em condições de informar, perante os relatórios da LIPOR recebidos em Agosto, que a Póvoa foi o município que apresentou uma maior capitação por habitante (maior quantidade de resíduos recolhidos selectivamente). Tivemos um indicador no mês de Agosto de 7.24 quilos por habitante e ficamos no lugar cimeiro de todos os municípios que integram a LIPOR. É um motivo de orgulho e uma oportunidade para darmos os parabéns aos poveiros.
Verificamos que tivemos uma redução significativa no resíduo diferenciado e um aumento na recolha selectiva. Acredito que estes projectos que vamos implementando, nomeadamente, a questão da máquina, alertou a população para a importância da separação dos resíduos. As coisas demoram o seu tempo, mas acabam por traduzir-se em dados concretos. Acredito que, todos estes projectos que vão sendo implementados de uma forma integrada, estão a surtir efeito e a população está a aderir a este chamamento para que estas preocupações ambientais estejam cada vez mais presentes no nosso dia-a-dia. E a máquina de separação de resíduos, instalada no Mercado Municipal, que tem um bónus de incentivo à separação, mostrou uma adesão verdadeiramente fantástica. Num ano de actividade, recolhemos o equivalente a 30 toneladas de embalagens e tivemos 170 mil utilizadores, valores verdadeiramente incríveis. A máquina dos resíduos voltou a ser reactivada com novos benefícios e que apelam à mobilidade, no caso, nos transportes públicos”.

Sílvia Costa recorda as metas estabelecidas pelo município para o ano 2020 quanto à produção de resíduos por habitante e os dados fornecidos pela LIPOR: “No que se refere às recolhas selectivas, tínhamos uma meta de 60 quilo de habitante ano. Os dados do primeiro semestre revelam que estamos já em 62,50 quilos habitante ano, com a particularidade de no mês de Agosto termos sido o município com melhor desempenho por habitante e este é o nosso foco, a separação. Todo o sistema LIPOR está de parabéns por conseguir ultrapassar as metas. Sabemos que se as pessoas separarem mais, irão produzir menos resíduo indiferenciado. E a meta é definida neste sentido, relativamente às retomas de origem selectiva. Depois, há também a preparação para a reutilização e reciclagem. E nesse caso, a nossa meta para 2020 era de 32 quilos por habitante ano e, estamos actualmente em 36.76 quilos habitante ano, tendo em conta o primeiro semestre. Penso que estamos todos de parabéns”.

A pandemia obrigou o pelouro do Ambiente a reformular os processos de recolha e reforçou mesmo as equipas no terreno: “Sabemos que houve municípios que durante a pandemia optaram por reduzir e até suprimir a recolha porta a porta. Nós esforçamo-nos para que os nossos serviços se adaptassem a esta nova realidade. Reforçamos as medidas de higienização e segurança dos trabalhadores e fizemos um esforço para garantir a recolha selectiva e diferenciada. Suspendemos a recolha de monstros porque não era prioritária e implicava entrar dentro da habitação, porque há móveis ou electrodomésticos que as pessoas não conseguem colocar na rua pelo seu volume. Apesar de termos referido que a recolha estava suspensa não deixamos de a fazer, porque as pessoas, como estavam em casa, acabaram por fazer algumas arrumações e colocaram os monos nas ruas. Esse serviço entretanto foi retomado. É de louvar a disponibilidade dos nossos funcionários e a preocupação deles em fazerem este serviço, sentirem que estavam a participar no processo. As pessoas efectivamente ficaram em casa, produziram mais resíduos, mas continuaram a separar. E os dados que temos relativamente ao primeiro semestre, que apanha o período de confinamento revela que continuamos a crescer na recolha selectiva. O único fluxo que teve um impacto significativo foi a recolha do vidro e, isso deveu-se fundamentalmente à diminuição da actividade da restauração, dos cafés e dos bares. Esses eram os grandes ‘produtores’ de vidro. Tivemos no mês de Abril uma redução significativa, com o verão retomamos, mas sem chegar aos valores do ano passado”.

A Sustentabilidade é Sinónimo de Qualidade de Vida

Uma cidade limpa interessa a todos os cidadãos. Amar a cidade no papel só traz benefícios literários, mas a sustentabilidade da cidade exige outros argumentos: “A nossa prioridade é sempre atingir e ultrapassar as metas definidas. Quando ultrapassadas, estamos a contribuir para um projecto comum. A LIPOR é um projecto de vários municípios, que em determinada altura se decidiram juntar para resolver esta questão dos resíduos. Hoje, é um projecto de sucesso a nível nacional e internacional, pelo trabalho inovador que desenvolve. Para nós, a melhor satisfação é podemos transmitir aos nossos munícipes, que o dinheiro público está efectivamente a ser bem aplicado. Ao separarmos mais, o impacto esperado é que seja reduzida a quantidade de resíduos indiferenciados que encaminhamos para tratamento. E são esses resíduos que têm um custo para o município, porque o encaminhamento dos resíduos recicláveis para a LIPOR não tem custo de gestão, apenas o indiferenciado. Portanto, ao reduzirmos, se tivermos um bom desempenho em matéria da separação de resíduos e do encaminhamento para a reciclagem, o que se espera é que haja uma redução na factura dos indiferenciados. Aí, o município passa a pagar menos pela gestão dos resíduos. É este o trabalho que nós estamos a fazer. Temos agora que continuar, ganhar dimensão e mantermo-nos nos lugares cimeiros do melhor desempenho nesta matéria”.

Sílvia Costa acrescenta a excelente relação com a LIPOR: “Para garantir esta maior proximidade da LIPOR com os municípios foi definido um gestor de município. Temos também reuniões periódicas com os nossos técnicos presentes. Nas áreas do poder político há reuniões de vereadores, onde vamos discutindo todos estes projectos. Para além dos implementados, há um conjunto grande de novos projectos que vamos pôr em prática em breve. Por isso, tem que haver sempre uma partilha muito grande e de comunicação permanente entre a LIPOR e os Municípios, de forma a podermos transmitir quais são as nossas necessidades e a LIPOR poder ajustar os projectos de recolha selectiva e de sensibilização ambiental para aquilo que são as nossas necessidades, naturalmente, diferentes das de outro município. Há esta partilha e este trabalho de proximidade e de ajuste à nossa realidade”.

O Ambiente é transversal a todos os outros pelouros. É possível que no futuro a própria construção obedeça a regras ambientais: “Já percebemos que não podemos continuar a viver numa sociedade de elevado consumismo, faz-se muita coisa nova e reaproveita-se pouca coisa usada e já percebemos que vamos ter que continuar a viver neste planeta. Por isso, vamos ter que encontrar formas alternativas de conseguir viver com menos recursos. Apostar na reutilização é um caminho. O município está integrado num plano de acção na área metropolitana do Porto, para a gestão dos resíduos de construção e demolição. No âmbito deste plano, existem algumas acções que são direccionadas precisamente para promover a reutilização de materiais de construção e demolição, em novos edifícios. Quem os projecta, tem que pensar em formas mais sustentáveis. É todo um processo que está a acontecer e acredito que em breve teremos uma realidade diferente e mais amiga do ambiente. Juntamente com a divisão do licenciamento de obras criamos um trabalho no sentido de incluir, nos novos edifícios de propriedade horizontal, uma área destinada ao armazenamento dos resíduos, para que possam fazer a gestão selectiva e colectiva dos resíduos produzidos. São questões que já vamos incutindo nos novos projectos de construção”.

Só um Bom Ambiente Pode Olhar pela Sua Saúde

As ciclovias passaram a ser uma realidade nas ruas da Póvoa e a sua Saúde agradece: “A Mobilidade Sustentável é um trabalho que fazemos em parceria com o vereador Luís Ramos, que acumula o pelouro da Mobilidade. Mas, os modos suaves de mobilidade têm uma relação muito forte com o Ambiente. Implementamos em tempo recorde uma rede verdadeiramente notável de ciclovias, que passam pelos principais pontos de interesse da cidade. Temos depois, a grande ciclovia que liga a Póvoa a Famalicão que está a terminar. Estamos a falar de mais de 30 quilómetros em ciclovia. O nosso objectivo é que a Póvoa seja uma cidade com baixas emissões de carbono, onde é bom viver e trabalhar, onde as pessoas se possam deslocar de forma saudável, activa e amiga do ambiente. Esta rede de ciclovias veio permitir que as pessoas se possam deslocar de diferentes pontos de uma forma segura, mas é importante também promovermos a utilização dos modos suaves, nomeadamente a bicicleta, o andar a pé, porque somos uma cidade plana. Se todos fizermos este esforço de deixar o carro em casa, acredito que vamos ter uma cidade melhor para todos”.

Sabendo que a praia não é da jurisdição da Câmara Municipal, Sílvia Costa acrescenta que a autarquia é parte interessada: “Quem nos visita, espera encontrar praias limpas e agradáveis. Naturalmente, durante a época balnear a responsabilidade da limpeza das praias é dos concessionários, mas nós sempre estivemos do lado da solução, nunca criamos complicações adicionais, porque não é fácil de gerir e muito particularmente este ano. Fizemos um reforço ao nível da disponibilização de equipamentos de recolha. Colocamos ecopontos novos nas praias para garantir uma melhor separação dos resíduos, reforçamos toda a sinalética e demos um apoio adicional aos concessionários, porque percebemos que era uma época atípica. Tivemos esta preocupação acrescida, porque também somos parte interessada”.

A autarquia reúne, hoje, um conjunto de infraestruturas e de serviços que permite ao munícipe, de uma forma cómoda e fácil, participar e colaborar numa cidade limpa e desejada, mas há sempre um senão: “Às vezes vamos identificando montureiras de resíduos que as pessoas insistem ainda em depositar num beco ou no caminho mais escondido. Quando vamos ao local, com os nossos serviços, fazer a limpeza do espaço, percebemos que a generalidade daqueles resíduos podia ser entregue no ecocentro sem custos, todos os dias da semana, com um horário alargado. Com as infraestruturas que temos disponíveis ao munícipe, como é que há pessoas que ainda pensam em abandonar resíduos num espaço público, com os impactos negativos de imagem e ambientais”. Alerta Sílvia Costa, que não deixa de concluir: “Regra geral, o envolvimento das pessoas está de facto a surtir efeito. O poveiro está a colaborar e a responder a este apelo que vamos fazendo a todos os munícipes, que alinhem connosco”.

 

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