Voz da Póvoa
 
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Um Coração a Bater Pelo Varzim

Um Coração a Bater Pelo Varzim

Geral | 16 Dezembro 2020

A Terra, o planeta, onde vivemos não é exactamente redondo, mas rola como uma bola, na direcção do Mundo. Também nós somos fecundados num ovo e depois embrião feito feijão, alguns meses pulmão e vamos arredondando a barriga da progenitora até ao respirar do lado de fora, onde passamos a contar horas, dias, semanas, meses, anos, muitos e, começamos a gostar primeiro, depois a amar.

O amor não se entrega só ao corpo, mas ao sentimento e, sentir, pode ser pelo outro, pela terra, pelo clube da terra. Podemos mudar de companhia, mas de clube é mesmo que mandar parar o coração.

Mário Alberto Pontes Cruz tem um coração a bater pela Póvoa e pelo Varzim, desde 1978, mas diz não saber explicar como é que se pode amar tanto um clube: “É algo que não consigo explicar. É como se estivesse dentro de mim. Sou poveiro, mas às vezes, dou comigo a pensar como é que se pode ter um coração aos saltos por um clube de futebol. Curiosamente, nem era aquele menino maluco pela bola, tinha pouco jeito e deixei essa vontade para os outros. Desde menino que tenho esta paixão pelo Varzim. Fui sócio muito jovem. Depois, senti-me maltratado por uma direcção e deixei alguns anos de ser, mas logo que as coisas se corrigiram, voltei. O coração bateu mais forte e agora, mesmo discordando de algumas opções das direcções, o Varzim está acima de todos e não penso deixar algum dia de ser sócio, muito menos de ser varzinista”.

E acrescenta: “Nos últimos cinco anos não me recordo de ter perdido um jogo do Varzim, mesmo nas ilhas da Madeira ou Açores. Independentemente do Varzim neste momento, estar a passar por uma má fase, não deixo de acompanhar a equipa para todo o lado. Acredito sempre e é isso que tento passar para os mais jovens varzinistas. Este meu querer tem convencido muitos miúdos e jovens, que me pedem para os levar ao futebol. Orgulho-me em fazer crescer este amor pelo Varzim”.

Depois de anos de glória, o Varzim atravessou o deserto. Depois, por mérito conquistou a subida, não concretizada por questões financeiras: “Aceitar isso foi muito complicado. Sei que o clube não subiu por capricho de alguém. Sei o porquê, não perdoo a quem fez isso, estou atento, mas neste momento o Varzim precisa é de união e não de guerrinhas. É preciso acabar com a sina de uma direcção entrar para tapar o buraco da outra, isso afasta adeptos. A responsabilidade não pode ser sempre do outro. Uma mudança estatutária podia ajudar”.
Para Mário Cruz, lutar pela subida é sempre uma obrigação: “Todas as alturas têm que ser boas para subir. O Varzim não se pode manter numa II Liga. A Póvoa merece e o Varzim tem todas as condições para estar na primeira Liga. Na época passada tinha sido a altura certa. Tínhamos o melhor plantel dos últimos anos. Quando a pandemia obrigou à paragem dos campeonatos, o Varzim ainda estava numa posição que dava para acreditar na subida. Esta época, cheia de mudanças, criou-se uma grande espectativa, mas está a correr muito mal. Acredito sempre porque no futebol não há certezas, mas não vai ser nada fácil e primeiro, é preciso sair dos lugares de descida. Acredito no presidente Edgar Pinho, no vice-presidente Paulo Costa, eles também estão em fase de aprendizagem e a primeira ideia era salvar o clube. Tenho muita confiança neles e acredito que com o tempo vão conseguir os objectivos que os poveiros ambicionam, que é subir à I Liga. O Varzim tem uma vantagem em relação a muitos clubes, tem os ordenados em dia. Com a pandemia é muito difícil os clubes honrarem os seus compromissos”.

Mudar um plantel quase por inteiro, pode não ter sido a melhor opção da direcção: “Assisti com muita apreensão. Na história do futebol não me recordo de um caso em que isso tenha acontecido. Foi uma opção. Eu penso que havia muita qualidade no plantel da época passada, o João Amorim, o Minhoca, entre outros. Perdemos jogadores que estavam emprestados, mas penso que havia outros que deveriam ter continuado. Agora, temos que acreditar e apoiar o clube. Penso que se houvesse gente no estádio, o Varzim não estava nesta situação”.

O adepto é sempre um treinador de bancada: “Acho que o Varzim está melhor com o Miguel Leal, um técnico experiente na I e II Ligas. É uma pessoa muito directa e frontal. Acredito que deverá fazer alguns acertos até ao final do ano, reajustar o plantel à sua medida e corrigir as lacunas que a equipa tem. Creio que o Paulo Alves fez o que podia, mas que a época foi mal preparada, parece não restar dúvidas, os resultados estão à vista. Para mim, a culpa é sempre de quem planeia o início de época, porque é aí que se vai traçando o rumo. Se está a correr mal as responsabilidades têm que ser assumidas. Estou atento como outros sócios estarão e, penso que não é altura para criar divisões, porque o Varzim precisa rapidamente sair do fundo da tabela. Mais do que ninguém também me custa regressar a casa, vergado pelas derrotas”.

A Aposta na Formação Pode Valer o Futuro ao Varzim

A aposta nas escolas escasseia. Há no passado uma boa memória com os jovens poveiros a darem o seu melhor a um Varzim na primeira divisão: “O futuro só pode passar pela formação e o tempo que vivemos dá-me razão. O Varzim é dos poucos clubes da segunda liga que vende jogadores e isso é muito importante. Não podemos querer tudo a acontecer rapidamente, é preciso ter um presidente com paciência e aguardar pelos frutos da formação, um trabalho de anos. Os varzinistas querem o melhor para o Varzim, mas a estar em último, doía menos se fossem jogadores da casa a jogar. Pelo menos seria uma boa oportunidade para os lançar na equipa. Os rapazes iam ganhando experiência e com o orgulho poveiro ferido, eram bem capazes de ganhar os jogos. O coração da terra bate sempre mais forte”.

O Varzim atravessa um mau momento, mas tem sonhos, como fazer uma Academia e obras de monta no estádio: “Se eu fosse milionário e pudesse gerir o Varzim, nunca abdicaria do campo de treinos. Mandava relvar e colocava arvoredo à volta. O sonho de qualquer clube é ter um estádio remodelado com o campo auxiliar ao lado. Infelizmente, as finanças não o permitem. Penso que se queremos apostar no futebol de formação, temos que dar condições aos miúdos e a Academia é uma necessidade. Constatamos que a autarquia, nos bons e nos maus momentos, sempre ajudou o clube. Acredito que Aires Pereira fez muito pelo Varzim, mas penso que temos que ser mais autónomos e deixar de estar sempre ligado às máquinas. O Varzim só estará bem quando virmos os candidatos derrotados em eleições ou ex vice-presidentes, irem ao estádio ver jogos. Os dirigentes que passam pelo Varzim deixam de ir ao futebol. Isso não me agrada, nem é isso que os sócios querem ver” critica Mário Cruz.

E aponta soluções: “Acredito que o presidente Edgar Pinho é a pessoa certa no lugar certo, mas por vezes penso que é uma pessoa boa de mais para o futebol. Tem as ideias e projectos mais indicados para o Varzim, mas por vezes é preciso dar um murro na mesa e olhar bem nos olhos de quem se assustou, se é ou não uma mais-valia para a direcção. Todos querem vir para o Varzim, neste momento. Todos os jogadores querem vestir a camisola do clube poveiro, porque está a honrar os seus compromissos. Temos que dar tempo ao tempo. Edgar Pinho está a adaptar-se à realidade do futebol e do Varzim, mas acredito que vai conseguir levar o clube a bom porto. Apoiei as parcerias e a aposta noutras modalidades. O regresso do futebol Feminino é bem-vindo, para além de estarem a fazer um belo campeonato e a honrar a camisola”.

O Varzim criou canais de informação próprios: “Foi uma aposta desta direcção, no sentido de promover o clube nos meios digitais. No entanto, penso que a comunicação social deve ser convidada a fazer reportagem das iniciativas do clube, como a apresentação de novos jogadores. Muitos adeptos procuram saber notícias do Varzim nos canais próprios que são a comunicação social. Os varzinistas mais velhos não se entendem com modernices e muitos nem sequer têm acesso às redes sociais”.

Há Sonhos que não Passam só Por um Varzim de Primeira

“Como adepto tenho os meus sonhos que desejava ver aplicados na prática por uma direcção. Gostaria de ver nascer a Fundação Varzim, um projecto pessoal e um sonho antigo. Quando era um elo de ligação dos adeptos ao clube, tinha velhas glórias do Varzim a pedirem-me bilhetes para entrar no estádio e isso foi das coisas que mais me custou. Vieram ter comigo varzinistas que não tinham possibilidades financeiras de ver o seu clube de coração. Não acredito que seja falta de vontade das sucessivas direcções, mas de apoios. Garantidamente, Edgar Pinho tem outras prioridades para resolver”, não duvida Mário Cruz.

E revela outros sonhos: “Um outro projecto que tenho, passava por fazer sócio, com quotas pagas durante cinco anos, todas as crianças que nascessem no hospital da Póvoa. Acredito que acabaríamos por pescar os pais para sócios do Varzim. O amor varzinista cresceria, assim como o número de sócios. Colocaria também à entrada da cidade um outdoor com a mascote do Varzim, ‘o Lobinho do Mar’. É preciso incentivar o amor pelo clube aos mais novos. A Póvoa tem que ter uma identidade varzinista, como acontece com os adeptos do Vitória de Guimarães. Não pode ser só Porto, Benfica e Sporting. Outro projecto que eu tinha e que não é muito difícil de concretizar, era a apresentação do plantel do Varzim no dia do espectáculo das rusgas no estádio. Um estádio cheio de adeptos de todos os bairros, mas um só amor pelo Varzim”.

Viver o Varzim, para Mário Cruz é também conviver com os sócios: “Quando jogamos fora de portas, mesmo saindo cada um por si, encontrámo-nos no campo e, aí encontro o Simba, o Costa, o Victor, sei que vão estar lá todos aqueles que, como eu, acompanham o Varzim. Não faço parte da claque, mas não deixamos de ser todos uma grande família a apoiar o clube. Cheguei a organizar viagens no tempo do presidente Pedro Faria. Por vezes, para arranjar bilhetes, era preciso fazer das tripas coração. Os autocarros para darem lucro, tinham 60 lugares e chegámos a levar 90 pessoas. Agora dá para rir, mas andava sempre com o coração nas mãos. O dinheiro angariado era para o Varzim. Até vir a pandemia, estava a criar-se um grupo cada vez maior de pessoas a acompanhar os jogos fora. Levávamos sempre 200 ou mais adeptos, fosse onde fosse. Tenho pena que este plantel não tenha jogado com adeptos nas bancadas, com certeza iriam ganhar as garras dos lobos-do-mar”.

O empresário poveiro não tem dúvidas que o Varzim continua a ser um clube muito respeitado. “Isso deve-se às velhas glórias, como o Washington, o Zé da Música, o Litos, o Zacarias, o Miranda, o Piedade e tantos outros. Para todo o lado que vamos, ouvimos falar nesses nomes. Quando estávamos mal de finanças e sem credibilidade nenhuma, a nível desportivo sempre fomos um clube respeitado. Precisávamos de um novo Washington a fazer mais meninos, como o Bruno Alves, para o Varzim, a ensinar os outros a serem verdadeiros lobos-do-mar. Quanto a mim, não consigo desviar-me deste amor, que só o meu coração entende. E viva o Varzim”.

Por: José Peixoto

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