Escrever não basta, é preciso dar às palavras sentido. O dever de informar é muitas vezes reflectir sobre a formiga no carreiro em sentido contrário. Sou do tempo em que havia tempo e carreiros. Agora, andamos sempre a dizer que não há tempo a perder. O tempo não se perde, perder é encontrar. Mas, há sempre quem nos dá um tempo para existir, como se existir fosse assim tão complicado. Naturalmente, a tecnologia é bem-vinda e não retira ao papel de jornal o seu papel de informar, até ajuda. Aqueles que veem e leem tudo no ecrã ainda não experimentaram inverter o funil, os horizontes alargam imediatamente. Ler é olhar a página. Ampliar a palavra, a frase, é subtrair a compreensão e por acréscimo a meditação. Depois, não diga que não avisei. É claro que temos jornais escondidos na prateleira, a montra é para os grandes, somos pequeninos, trocados por raspadinhas cheias de promessas de uma vida melhor. Melhor o tanas, só se for para a Santa Casa. De regresso à escritas, à informação, posso dizer que há muitas pessoas, poveiros e poveiras, um mundo lá fora com duas dezenas de países e algumas centenas de assinantes que nos querem ler e empresas que nos querem ter como parceiros comerciais para promover os seus negócios. Agradecidos ficamos. A Voz continua a ser da Póvoa, mas porque se informatizou e também se digitalizou, um dia será lida em Marte ou em Júpiter. Por isso, Amar-te apenas em dia de aniversário seria entenderes de uma vez por todas que amor é Roma ao contrário.
José Peixoto, director A Voz da Póvoa (n0s 87 anos do Jornal)
Fotos: Rui Sousa
