Voz da Póvoa
 
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Centro Hospitalar no Apoio à Qualidade de Vida da Cidade

Centro Hospitalar no Apoio à Qualidade de Vida da Cidade

Geral | 19 Junho 2021

As datas nasceram para dar ao momento uma identidade. Às vezes, somos levados a contar o tempo, outras a admirar a sua passagem. O Centro Hospitalar Póvoa de Varzim – Vila do Conde (CHPVVC) foi constituído a 27 de Abril de 2000 e é composto por duas Unidades Hospitalares, uma localizada na Póvoa de Varzim e outra em Vila do Conde. Não mais do que três quilómetros as separam e correspondem aos antigos hospitais que serviam cada uma das cidades. O seu crescimento não é sinónimo do acaso, mas de um trabalho de equipa sustentada por uma base sólida.

José Gaspar Pinto de Andrade Pais nasceu em 1971, em Lisboa. É licenciado em Economia e pós-graduado em Administração Hospitalar, e actualmente, é o Presidente do Conselho de Administração do CHPVVC. O percurso profissional no sector da saúde, teve início em 1998: foi Assessor do Conselho de Administração, no Hospital Curry Cabral, a seguir, em 2001, exerceu a função de Administrador Hospitalar do Centro Hospitalar Tâmega e Sousa (CHTS) em Penafiel, até à transformação em Hospitais S.A.; posteriormente, assumiu a Administração da área financeira do Hospital de Vila Nova de Famalicão. Seguintemente, foi presidente da Administração do Hospital de Espinho, e mais tarde, integrou o Conselho de Administração do Hospital de Gaia.
 
No ano de 2008, José Gaspar Pais foi convidado a presidir ao CHPVVC, “uma experiência enriquecedora. Gostei acima de tudo da qualidade humana dos profissionais, senti que apesar de não me conhecerem, acolheram-me como se fosse da família. Este é um Hospital com alma própria. Se dúvidas houvesse bastaria vivenciar o Dia do Enfermeiro, para perceber o espírito de grupo e de missão que daqui emana, a família que aqui trabalha. No meu primeiro mandato, fiz quase 4 anos. Em 2012, regressei ao meu lugar no quadro do CHTS, como membro do respectivo Conselho de Administração. Quando me convidaram, em 2018, para regressar a este Centro Hospitalar, nem hesitei, disse logo que sim, porque sinto esta, como a minha casa”.
 
O Centro Hospitalar, raramente, recebe uma crítica dos utentes ou entidades responsáveis, mas vai acumulando elogios, nomeadamente as equipas médicas que o servem: “Temos médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico, entre muitos outros grupos profissionais bastante qualificados, que vão desde o eletricista, ao técnico informático, ao porteiro, entre outros. Para aferir-se a complexidade de uma unidade hospitalar basta percecionar que a parte ‘mais fácil’ de gerir (refeições, limpeza e segurança) é a componente hoteleira”.

Mais declara: “Na saúde, temos de estar sempre na vanguarda. De facto, em termos médicos, as coisas funcionam bem. Muito se deve à circunstância de as lideranças dos Serviços serem excelentes. Por vezes, um médico quer vir para cá trabalhar, mesmo por concurso, porque o director de uma determinada especialidade tem muita reputação no meio”.

José Gaspar Pais revela que, “o Conselho de Administração implementou recentemente, departamentos que agregam serviços para dar uma liderança de maior proximidade. Globalmente, somos conceituados e na parte médica, temos muito prestígio em algumas valências. Conseguimos atrair alguns bons médicos, mesmo por concurso nacional, porque sabem que é bom trabalhar aqui. Depois, é na fase da formação que tentamos fidelizar o médico para que continue cá, mas esse mérito é muito mais da liderança de cada Serviço. Ao nível dos enfermeiros, por exemplo, a qualidade de excelência dos nossos recursos humanos, inicia-se no processo de recrutamento, com uma rigorosa selecção dos nossos profissionais que se aculturam de uma prática de exigência, rigor e formação contínua, devendo-se este trabalho a uma cadeia de comando - que funciona muito bem - superiormente liderada pela Enfermeira Directora, Isabel Rocha. Reitero que todos os profissionais são importantes, mas os médicos representam o recurso mais diferenciado e escasso - é o profissional-epicentro da atividade hospitalar - também ao nível médico, felizmente, o Centro Hospitalar tem um excelente Director Clínico, o Dr. Joaquim Monteiro, que dignifica a função e garante a boa prática clínica que reconhecemos ter. Para se ter uma noção da grandeza numérica dos recursos humanos que hoje temos, somos quase 1.000 profissionais, se contabilizarmos os vínculos contratuais e os prestadores de serviços. A excelência a que estes recursos humanos nos habituaram, deve-se também a um trabalho que, sendo coordenado pelo Conselho de Administração, tem nas competentes chefias intermédias, a capacidade de integrar nos novos elementos com a cultura do rigor, para melhor servir a população.

Sobreviver à Pandemia sem Sair da Linha da Frente

Primeiro a surpresa, depois a pouca informação, mas nunca foi fácil lidar com a pandemia. “Tivemos uma alteração de paradigma, na maneira como olhamos e vivenciamos a nossa instituição. Não falo só dos equipamentos de proteção individual, que na altura escasseavam, uma simples máscara cirúrgica era muito difícil de adquirir.

Geraram-se muitas dúvidas e até alguma fraude ao nível de protecção das máscaras, que causaram muita ansiedade e receios junto dos profissionais da linha da frente, por estarem mais expostos ao risco. Tivemos muita dificuldade em testar, dada a escassez de testes e reagentes. Apesar de efectivarmos a colheita de análises, não existia capacidade laboratorial, tínhamos, por isso, de enviar os testes realizados, aos doentes, para outras unidades de saúde”.

E José Gaspar Pais recorda: “Foi de facto um ano de mudança total. Destaco a mudança de padrão, impulsionada pela mobilização do sector da saúde, em geral, e também do mundo académico. Tivemos que alterar circuitos de doentes, fazer obras. Fizemos as teleconsultas, evitando a deslocação dos doentes ao hospital. No período de maior incidência da Covid-19 enfrentámos também o lado da desumanização, manifestamente a ausência dos entes queridos nos momentos dolorosos em que se percebe a circunstância da morte sem a proximidade e a despedida. Criámos regras para protecção dos doentes e dos profissionais de saúde. Foi um período que espero não ver repetido”.

A população percebeu o que se passava: “Houve algumas excepções, mas no geral prevaleceu a compreensão. Estavam proibidas visitas, mas numa situação de doença terminal, não-covid, avisávamos a família para se despedir da pessoa com as normas e todos os cuidados. Num parto, a grávida é testada e o companheiro também, mas como temos um parto muito personalizado, com a presença do que designamos como convivente significativo, tentámos facilitar cumprindo as regras de segurança”.

Lidar com um excedente de procura nunca é fácil, muito menos quando se trata de uma doença infecciosa e mortífera: “Numa situação de emergência ou catástrofe todos ajudamos, mas temos que perceber que um cirurgião, no limite pode dar apoio, mas as especialidades cirúrgicas não estão vocacionadas para tratar de doentes do foro médico. Subitamente, tivemos um acréscimo significativo de doentes do foro médico, não só relacionados com o contágio vírus SARS-CoV-2. A este nível, a situação acarretou uma grande pressão sobre os médicos de Medicina Interna, que já se desdobravam no apoio à Urgência, à Consulta e no Internamento (acumulando o surto de Legionella). Esta situação causou maiores dificuldades e atendendo à limitação dos recursos, na unidade da Póvoa, abrimos outra ala de internamento (na área cirúrgica – 2.º piso) com 42 camas para doentes Covid (quando confrontados com a escassez de camas, tivemos que recorrer ao sector social). Deste modo, foi possível, criar na unidade de Vila do Conde, um hospital Covid free, testando os doentes, antes de interna-los aí.

Há um profundo agradecimento e reconhecimento que se impõe pelo esforço e dedicação, neste particular, de médicos, enfermeiros e assistentes operacionais. A ‘parte boa’ da pandemia foi perceber este trabalho de equipa, desde o sector social, a ARSNorte, o Ministério da Saúde, todos estiveram envolvidos, desde a primeira vaga pandémica, no espírito de dar uma boa resposta. Na primeira fase, a população - não sei se por medo - acatou todas as instruções da Direcção-Geral da Saúde, mas na de Janeiro, parece-me que facilitou um pouco, e consequentemente o drama foi bem maior. A ideia da existência de uma vacina pode ter influenciado algum relaxamento, mas, erradamente, uma vez que a logística para criar uma imunidade de grupo iria demorar cerca de 8 meses”.

A par do imprevisto aumento da despesa, verificou-se a perda de proveitos: “Tivemos que adiar dezenas de cirurgias, milhares de consultas e tivemos uma redução brutal de episódios de urgência. Sendo um hospital público, somos financiados por aquilo que produzimos e de repente deparamo-nos com o aumento extraordinário da despesa directa, por exemplo, em Equipamentos de Protecção Individual ou em milhares de testes. A nossa prioridade – é inerente à nossa missão - foi salvar vidas e criar, o mais rápido possível, condições para tal”.

Centro Hospitalar em Processo de Transformação

A cedência, pela Autarquia, do antigo armazém militar (edifício Cor-de-Rosa) ao lado do Hospital da Póvoa, permitiu a realização de obras e a criação de novas áreas médicas: “Apresentámos um projecto - em fase avançada de apreciação por parte da tutela - só possível porque a Câmara Municipal se empenhou e o tornou viável com a celebração do protocolo, a cedência do terreno e o apoio financeiro de 1.500.000 euros. É um projecto que responde às necessidades de curto médio prazo e não cria nenhum tipo de decisão definitiva. Nós ‘herdámos’ da anterior administração, um plano director que apresentava as deficiências do Hospital de forma exaustiva, algo que era conhecido da tutela, mas as soluções apresentadas tinham algumas fragilidades. Competia-nos, enquanto Conselho de Administração, apresentar a solução válida às entidades tutelares e foi o que fizemos. Para se ter a noção da importância estratégica que o CHPVVC tem na região, circulam entre trabalhadores e utentes, mais de duas mil pessoas por dia, agora menos, mas brevemente retoma a normalidade. Temos um orçamento de mais de 30 milhões de euros”.

E recua na memória para esclarecer motivações: “Quando vim para o Centro Hospitalar, preenchi um documento para a CRESAP onde apresentei cinco pontos-chave de atuação. O primeiro era, claramente dotar o Hospital de um equipamento de TAC. Foi difícil, dada a complexidade do processo que envolvia a aquisição do equipamento dessa envergadura, e em simultâneo a falta de espaço para a sua instalação. Entrou em funcionamento em 2019 e foi fundamental porque em tempos de pandemia, se não tivéssemos o TAC, que possibilitava o diagnóstico mais correcto, teríamos que transferir os doentes todos. Reabilitámos o edifício cor-de-rosa que recebeu a área financeira e os recursos humanos que estavam em Vila do Conde, facto que nos permitiu libertar espaço para dar alguma dignidade ao internamento de medicina. Ou seja, criámos em Vila do Conde, um espaço novo de Medicina Interna com mais conforto, mas continua a ser uma solução temporária. No edifício Cor-de-rosa, criámos também um armazém de aprovisionamento. Temos novos laboratórios (Patologia Clínica e Imuno-Hemoterapia), uma obra que tem menos de meio ano”.

Como o caminho se faz caminhando, foi lançado o concurso para a nova urgência: “Tivemos primeiro que retirar o laboratório do meio da urgência para conseguirmos preparar o concurso para a nova urgência, com melhores condições do aquelas que temos. Vai ter uma zona médico-cirúrgica e gabinetes para todas as especialidades. É uma obra orçada em 800 mil euros. Mas, ainda faltam algumas etapas para que todos os projectos de ampliação e reabilitação estejam concluídos”.

José Gaspar Pais reconhece que a pandemia acabou por suspender alguns projectos do Centro Hospitalar: “Travou a vários níveis, porque todo o foco foi acudir a esta situação de emergência. Um dos projectos que ficou suspenso, foi o da acreditação hospitalar que estava a ser trabalhada quando a pandemia se instalou. Outro projecto interrompido foi o da obra de internamento de obstetrícia. Outro exemplo adiado reporta à cirurgia da mama. Faltava-nos ter um mamógrafo para fazer quase todo o processo aqui. Como disse atrás, tinha pensado em cinco grandes projectos, dotar o CHPVVC de um TAC, construir um novo edifício para Centro Hospitalar, ter mais valências, nomeadamente de serviços de ambulatório, particularmente oftalmologia (temos todas as condições para realizar este serviço dentro em breve). Ter, igualmente, um Centro Hospitalar acreditado pela DGS, departamentalizá-lo, ou seja, incrementar o conceito de Centro de Responsabilidade Integrada, com enfoque numa gestão mais eficiente. Um dos grandes projectos criados em tempos de pandemia foi a Hospitalização Domiciliária, iniciada em Dezembro de 2020: “Hoje, asseguramos a assistência a 6 doentes internados em casa e estamos a constituir uma nova equipa. Temos mais uma viatura cedida por mecenas, que permite acompanhar no mesmo modelo de hospitalização, mais 6 doentes. Este novo serviço vai constituir uma nova experiência na gestão intermédia do CHPVVC, permitindo a criação de um Centro de Responsabilidade Integrada à semelhança do que aconteceu com o modelo das USF, nos Cuidados de Saúde Primários, proporcionando o estímulo, maior eficiência e produtividade”.

Os Partos na Póvoa continuam a crescer, revela José Gaspar Pais: “No final de 2020, havia dois hospitais que tinham crescido em número de partos, o nosso e uma unidade no Alentejo. Todavia o crescimento contínuo também obriga a ter um reforço de equipas médicas e de infra-estruturas, o que não se afigura fácil, uma vez que, como é do conhecimento geral, não existe uma oferta ampla de médicos obstetras. Embora adiada pela pandemia, temos a intenção de reabilitar o internamento de Obstetrícia, com quartos de 2 camas, um projecto que em breve terá condições de ser lançado a concurso. Temos outros em diversas fases de evolução e acredito que, nos próximos 2 anos, a principal fragilidade do Hospital (a sua infra-estrutura) estará totalmente ultrapassada”.

A cidade é o seu hospital: “A Póvoa, ser uma instância balnear e ter um Hospital com condições é fundamental. Ter uma boa urgência, não só para quem cá vive, mas para o turista que nos visita e que cada vez mais procura cidades com serviços de saúde eficazes, torna a urbe mais atractiva não só pelo lazer que oferece, mas também pelos serviços prestados. A saúde é fundamental, não pode ser descurada. Por isso, acho que a Câmara Municipal teve visão, porque não só percebeu quanto ganha, mas também soube ler a nossa missão, que é prestar cuidados de saúde com qualidade reconhecida. Este hospital não vale só por aquilo que faz, mas por tudo o que movimenta e envolve à sua volta. Não quero imaginar o que seria um dia, a Póvoa de Varzim e Vila do Conde sem o Centro Hospitalar. Sendo economista, acho que a saúde é dos poucos sectores em que não há equilíbrio - uma vez que não é possível - atendendo ao facto de o elevado valor de quem procura cuidados, ser muito superior ao custo de quem os oferece - a que acresce a questão da assimetria da informação, porquanto quem presta cuidados tem muito mais informação do que quem beneficia dos mesmos. Na minha óptica, a saúde é um bem público e, como tal, é o que de melhor podemos ter”.

Por: José Peixoto

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