A história precisa ser documentada para que as gerações vindouras a possam conhecer e orgulhar-se dela. Entre os séculos, as terras, o seu baptismo e grandiosidade se deve à humanização que as gentes do passado foram capazes de erguer, quer edificando, quer criando raízes e tradições como aconteceu em São Pedro de Rates.
Naturalmente o caminhar dos tempos até ao presente, trouxeram uma organização administrativa que permitiu harmonizar e priorizar as necessidades. Nos últimos 12 anos, coube a Paulo João Lopes da Silva agarrar o leme da Junta de Freguesia de São Pedro de Rates, onde nasceu, e dar-lhe o rumo da modernidade. Antes de presidir à Junta foi director e presidente da Associação de Amizade de São Pedro de Rates. “Vistas bem as coisas foram 10 anos porque dois foram de pandemia. De qualquer das formas, quero realçar a minha gratidão pela vida me ter dado a oportunidade de servir a minha terra. Sinto-me enriquecido como pessoa, ganhei muitas amizades e estou feliz por ter tido estes 12 anos na minha vida”.
Para que uma liderança funcione tem que haver um trabalho de equipa: “Já como presidente da Associação tinha tido essa experiência. Hoje, na Junta de Freguesia, orgulho-me de ter trabalhado com todos de forma franca e leal. Nos dois primeiros mandatos tive a meu lado o Celestino da Fonte, como Secretário, e o Gaspar Lage, como Tesoureiro. No presente mandato, a Marta Varzim, como Secretária e o Gaspar como Tesoureiro. Deixo também uma palavra de gratidão e profundo reconhecimento pelo seu trabalho ao Presidente da Assembleia da Junta, António Mariz, e a todos os membros da Assembleia. Não posso deixar de fazer um reconhecimento público a todas as instituições e à população em geral com quem tive sempre uma relação de grande respeito e colaboração. A esses amigos e a essas instituições que me foram apoiando, agradeço profundamente. Por último, quero deixar o meu profundo reconhecimento à Câmara Municipal que sempre teve uma relação institucional muito positiva e proactiva com a Junta de Freguesia a todos os níveis, quer o Presidente Aires Pereira, quer toda a Vereação. Não exagero se disser que nestes 12 anos fizemos talvez o maior investimento de sempre na freguesia, não estou a falar de 30 anos, nem de 25, mas apenas de 12 anos”.
Que balanço faz dos três mandatos consecutivos que agora terminam? “Executámos obras essenciais para a vida dos Ratenses. Começo por destacar as obras feitas ao nível de equipamentos culturais, educativos, sociais, recreativos e desportivos. A velhinha Escola da Praça foi substituída por uma escola completamente nova e a Escola da Granja passou a ter um recreio onde as crianças possam brincar. O ringue de futebol passou a ter um relvado sintético e excelentes condições para a prática desportiva. Ao lado, no Souto, o Parque Infantil foi inaugurado há 8 anos e continua a ser estimado pelos Ratenses”.
A ampliação do cemitério era uma obra há muito desejada pela população? “Sem dúvida! A grande procura de sepulturas exigia uma resposta pronta por parte da Junta. Resolvemos isso rapidamente e sem reclamações, entregando 90 sepulturas e satisfazendo as necessidades das pessoas. Também zelámos pelos equipamentos públicos, como o edifício Sede da Junta de Freguesia, alguns edifícios do Ecomuseu, em particular, o Moinho de Vento e a Casa do Trabalhador Rural. A construção da ecopista também foi uma obra muito importante, pois trouxe mais qualidade de vida aos Ratenses e aumentou o número de turistas e de visitantes”.
Nos equipamentos desportivos Paulo João destaca “a construção do campo de futebol do Limarinho. Esse projeto ficou parado durante anos porque se entendia que deveria ser deslocado para outro local. Era preciso ter a coragem de tomar uma decisão e foi isso que fizemos, mantendo-o onde está. Avançámos rapidamente para a negociação dos terrenos e conseguimo-lo em muito pouco tempo. Esse investimento de dois milhões de euros é hoje um orgulho para Rates e para o concelho, até porque implicou a requalificação dos vários arruamentos envolventes. Quero sublinhar que os equipamentos desportivos estão espalhados pela Freguesia porque é importante dar vida a todos os lugares da nossa terra”.
A Rede de Saneamento da Freguesia Aproxima-se do Desejado
“É inegável que em Rates há um antes e há um depois da obra de instalação da rede de saneamento. Era impensável que em pleno século XXI não houvesse praticamente Rede de Saneamento em Rates. Hoje, temos cerca de 85% da população de Rates servida, o que representa um impulso significativo para a qualidade de vida dos Ratenses. Foi uma obra muito complicada, sobretudo devido à topografia do terreno. Além disso, era fundamental manter um diálogo construtivo entre os proprietários e a empresa, de forma a resolver os problemas que foram surgindo. Todos colaboraram e concluímos com sucesso esta obra determinante para a modernização da nossa Vila”, sublinha Paulo João.
E acrescenta: “Também interviemos ao nível da instalação da Rede de Abastecimento de Água. Era uma outra obra dispendiosa, mas prioritária, pois os Ratenses não podiam continuar privados do acesso à água da rede pública. Não foi fácil. Nalguns casos foi necessário instalar centenas de metros de condutas para servir um número reduzido de pessoas, mas tinha que ser e foi feito. Ficaram ainda troços por fazer, mas o essencial está feito e quem nos suceder tem todas as condições para concluir este processo”.
A rede de saneamento e de águas facilitou o investimento na rede viária? “É verdade, mas é preciso saber aproveitar essas sinergias. Teria sido mais cómodo retificar apenas a parte do arruamento que a instalação das redes de abastecimento de água e de saneamento obrigou a destruir, mas isso não honraria o nosso trabalho. Ao longo destes anos, foi, pois, possível fazer o alargamento e a repavimentação de muitos dos nossos arruamentos. Destaco a Rua Caminho de S. Pedro, mais conhecida por Rua do Limarinho; as Ruas do Emigrante, do Calvário, Senhora do Rosário, Senhora de Fátima, da Comenda, Moinhos de Vento, Santo António, da Escola Nova, da Cova da Andorinha, Rua da Via Sacra. Rates passou por uma profunda requalificação da sua rede viária o que lhe confere uma imagem bem mais moderna”.
Projectos em curso que precisam de continuidade e de mais investimento: “Destaco a abertura da Variante ao Centro Histórico, um processo que, em primeiro lugar exigiu muita negociação com os proprietários dos terrenos. Foram muitos meses de negociação com privados, mas conseguimos. Entretanto, até à data, procedeu-se à abertura e compactação do novo arruamento, aguardando-se que, brevemente, seja possível avançar com a construção dos necessários muros de vedação, para depois serem feitas as infraestruturas e a pavimentação. Eu gostava muito de concluir esta obra neste mandato, mas acredito que já não será possível. Mais importante do que a inaugurar, é perceber que este é um processo que não tem retorno e que, em breve, o problema da circulação de veículos pesados no Centro de Rates será resolvido. Outra obra que destaco é a construção de um Parque de Lazer no Centro Histórico de Rates, onde, para além de um espaço de convívio pretendemos homenagear os emigrantes Ratenses, erigindo-lhes um memorial”.
A melhoria da iluminação também foi uma preocupação? “Já ninguém vive sem Iluminação Pública. A este nível destaco o desvio de postes do Centro Histórico. Já poucos se lembrarão que grande parte deles se encontrava no meio dos passeios. O Monumento à Família, que se encontrava praticamente abandonado, foi objecto de uma intervenção profunda. Agora está limpo e devidamente iluminado. Era importante mostrar que estimamos o que é nosso. Instalámos a rede de iluminação no arruamento de acesso à Leicar e noutros pontos da Freguesia. Mantivemos contactos quase diários com a EDP, no sentido de assegurarmos a reparação de avarias. Tudo isto, embora pouco visível, faz muita diferença no nosso dia-a-dia”.
A Importância das Instituições na Fixação e atracção de Pessoas
“As associações da Freguesia são essenciais e devem ser respeitadas. Tivemos sempre um bom relacionamento com todas. Houve sempre paz social em Rates nestes últimos 12 anos. O Presidente da Junta não tem de interferir nas direcções das instituições, nem impor absolutamente nada aos órgãos sociais legitimamente eleitos. Todas as instituições da freguesia mantêm relações excelentes com a Junta e esse espírito de diálogo deve continuar a prevalecer. O Centro Social de S. Pedro de Rates faz um trabalho meritório e tem realizado investimentos avultadíssimos para poder acolher mais crianças e idosos. A Associação de Amizade S. Pedro de Rates tem uma intervenção social determinante, acompanhando e dando ocupação desportiva a cerca de 200 jovens durante toda a semana. A Escola de Música, que vai desenvolvendo a sua actividade com níveis de excelência notáveis, brevemente contará com instalações próprias e ajustadas à sua missão. É igualmente meritório o trabalho feito pela Associação de Pais e pelos Escuteiros - estes viram requalificada a sua sede na Antiga estação do caminho-de-ferro; pelo Clube de Tiro, pela Leicar, pela Escola Agrícola. Todas as instituições de Rates merecem o nosso respeito e merecem ter um tratamento digno. Graças à colaboração da Câmara conseguimos fazer obras num conjunto de estabelecimentos desocupados na zona de habitação social, onde instalámos a sede da Associação de Pais e, mais recentemente, a Associação Póvoa em Transição, mais conhecida por Centro do Clima. Também temos uma Delegação Norte da FENCAÇA, Federação Portuguesa de Caça”.
O Parque Verde de Rates nunca pretendeu ser uma cópia do parque da cidade? “O projecto atual do nosso Parque Verde será mais enquadrado no espaço e irá ao encontro das expectativas dos Ratenses. Será apresentado publicamente por um arquitecto especialista nesta área, que está a trabalhar em diálogo com a Associação Póvoa em Transição, com a Câmara e com a Junta de Freguesia. Fizemos um trabalho invisível, mas determinante. Nestes 12 anos adquirimos mais seis hectares de terreno e coube-nos, ainda, resolver o pagamento de um terreno comprado há cerca de 15 anos”.
A Aposta na Cultura Vai do Tradicional a Eventos de Grande Relevo
“A cultura é mais do que uma prioridade, sinto-a como um alimento para o nosso bem comum. Tudo o que temos feito tem gerado um crescimento sustentado em termos culturais, quer em representações, quer em originalidade e, claro, em público. Orgulho-me de manter o Ciclo de Música Sacra promovido pela Melodiartes, sob a Direção de Abel Carriço, a quem endereço o profundo reconhecimento da Junta de Freguesia. O Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim também vem a Rates e não faltam concertos na nossa igreja Românica. Demos um salto enorme no que diz respeito ao Núcleo Museológico. Nos últimos 12 anos passou a ter uma programação regular. Ao longo destes doze anos acolheu cerca de 70 exposições de artistas renomados, entre eles, Nadir Afonso, Afonso Pinhão Ferreira, Orlando Pompeu. Mais recentemente, nele foi exposto o espólio cultural de edições de livros do Casino da Póvoa. Deixo um agradecimento público ao Dr. Paulo Sá Machado, pois, ao longo destes 12 anos, foi o meu conselheiro para a cultura, amigo e colaborador”.
Paulo João sublinha iniciativas culturais que ocorreram nos seus mandatos: “É inevitável destacar que criámos os Colóquios Internacionais dos Caminhos de Santiago. A Xª edição do Colóquio ocorreu em novembro de 2024, com o tema ‘Os sentidos do Caminho’. Este Colóquio deu muita projeção nacional e internacional a Rates, dado que acolheu conferencistas e participantes vindos do Brasil, da Itália, da França, da Inglaterra, da Alemanha, do Japão, de Espanha, entre outros. Assinámos um protocolo de geminação entre Rates e a cidade galega de Triacastela, unidos pela ligação comum aos Caminhos de Santiago, que inclui iniciativas em Rates e em Triacastela. Foi por nossa iniciativa que se realizou o Congresso Internacional dedicada a Tomé de Sousa, uma figura muito importante, mas pouco conhecida e valorizada. Investimos na valorização do património imaterial através da integração do Grupo dos Cantares do Linho no projeto nacional Canto a Vozes de Mulheres. Felizmente, contamos com um número significativo de mulheres que cantam a tradição do linho e esse grupo está a ser rejuvenescido. Muitos outros eventos pontuais foram preenchendo a agenda cultura de Rates, como os concertos ao ar livre da Gisela João, da Ana Bacalhau e do Quarteto Verazim, entre outros. Tivemos também cinema ao ar livre”.
Para Paulo João, as Juntas de Freguesia ou as Câmara Municipais não têm que fazer tudo o que é animação, “felizmente, em Rates temos instituições muito dinâmicas. A própria paróquia tem eventos de carácter religioso, como a Romaria do Corpo de Deus, o Santo António ou do Senhor dos Paços. Gostaria de relembrar que, graças ao esforço conjunto da Junta de Freguesia, do nosso Bispo Rosmaninho Mariz, o nosso pároco Manuel Sá Ribeiro, o Presidente da Assembleia, António Mariz e outras pessoas, foi possível que o S. Pedro de Rates voltasse a integrar o Santuário Bracarense. Temos o contributo da Comissão de Festas de Santo António, que realiza a parte profana das festas, dos Escuteiros, da Associação de Amizade de S. Pedro de Rates, que integra no seu seio o Rancho Folclórico de S. Pedro de Rates, a quem cabe a organização de um Festival, e também temos outras iniciativas ligadas ao futebol associativo. Temos um grande conjunto de iniciativas que não são da Junta, pois são essas entidades que se encarregam de as dinamizar.
Outra iniciativa de que nos orgulhamos é as Festas da Vila, que são uma mais-valia em termos de animação e de agregação da comunidade Ratense. Todas as instituições de Rates não só participam nas festas que se realizam no Centro Histórico, como se envolvem nos Dias no Parque da Póvoa, onde angariam verbas para as suas actividades”.
O Elogio a Uma Equipa com Identidade Partilhada
“Tivemos sempre uma colaboração excelente com a igreja. O padre Manuel Sá Ribeiro merece ser destacado, porque tem sido um parceiro da Junta em imensas iniciativas. Já o era, mas penso que essa relação se fortaleceu. A prova disso mesmo é o que está a acontecer na antiga residência paroquial. É um edifício enorme e bonito, mas podia ser mais valorizado. Assumimos, com o apoio da Câmara Municipal, o desafio de criar ali um espaço para funcionamento da Escola de Música e de construir um Museu de Arte Sacra. O edifício estava abandonado e em estado de degradação. É uma obra polémica, sobretudo pela construção do auditório que vai servir a Escola de Música, mas também outros edifícios da região começaram por ser polémicos e hoje são referências arquitectónicas, como a Casa da Música do Porto. Creio que dentro de alguns anos a obra estará integrada num conceito de arte que não choca com o Centro Histórico e que será também ela admirada. Estamos a falar de uma obra da autoria de Maia Gomes, um arquitecto reconhecido a nível nacional pelo restauro de monumentos nacionais, nomeadamente o Centro histórico de Vila do Conde”.
Quanto à equipa da Junta de Freguesia, Paulo João diz estar “muito grato pelo trabalho que todos desempenharam. Estou grato pelo contributo que todos deram ao longo destes anos, apoiando e chamando à atenção. Estou convencido que é fundamental saber ouvir antes de decidir”.
Dar à terra onde nascemos é sempre uma honra? “Desde a minha adolescência tive sempre uma participação activa na Freguesia, tendo integrado a Direcção de várias Instituições da minha terra. Ou seja, estive sempre ao serviço de Rates e dos Ratenses. Sinto-me grato por ter contribuído para o desenvolvimento da Vila de Rates”.
A Equipa que Ajudou a Transformar Rates
As Freguesias deixaram de ser o parente pobre da política das cidades. Há cada vez mais o conceito de concelho, a sua valorização e qualidade de vida só é possível com uma aposta na criação de infraestruturas sociais, culturais e desportivas.
Na actual Junta de Freguesia de São Pedro de Rates, Marta Isabel Varzim Matias Silva assume o papel de Secretária: “Não fazia parte dos meus planos de vida integrar a Junta, embora desde muito jovem tenha feito parte da Assembleia de Freguesia de Rates. Foi uma experiência muito positiva, tanto ao nível da aprendizagem como de camaradagem entre uma equipa que esteve sempre unida”.
Em relação à política activa defende que “mais mulheres deveriam estar nos executivos das Juntas e nas Assembleias, para participarem em todas as áreas da comunidade e da Freguesia. Somos realmente uma força que tem muito para dar e partilhar. Eu consegui no executivo mostrar um pouco de mim naquilo que eu sei e pude fazer. Creio que fomos capazes de fazer mais e melhor”.
E acrescenta: “Trabalhar com o Paulo João e com o senhor Gaspar Lages foi sem dúvida uma mais-valia. Além do trabalho feito na Freguesia, fica uma amizade”.
Marta Varzim recorda o tempo de pandemia e a colaboração dos agricultores: “foram muito importantes para fazer o trabalho de desinfecção em todas as ruas da Freguesia. É de louvar a sua entrega, responsabilidade e união, foram muito importantes nessa fase da Pandemia em Rates”. E recorda: “A nossa freguesia é muito rural, quase toda a gente tem jardim e quintal, e nessa altura isso foi um bem, porque as pessoas não tiveram tanta necessidade de sair de casa porque tinham espaço e o que fazer”.
Por sua vez, no papel de Tesoureiro, Gaspar Mandim Fernandes Lages, reconhece que “Foi e é muito bom trabalhar com Paulo João na Junta de Freguesia. Já estive com ele na Associação Amizade São Pedro de Rates durante três anos e depois viemos para a Junta. Hoje temos uma amizade muito grande, é um verdadeiro amigo”.
A Pandemia que não deu lugar a obra, não deixou de dar muito trabalho: “Foi preciso muito engenho e paciência. A nossa equipa acabou por conseguir com os agricultores fazer a desinfecção das ruas quando as noites caíam. Foi um trabalho dos lavradores que entre eles formaram equipas e todos os dias à noite faziam a desinfecção das ruas da freguesia, um trabalho executado por grupos de agricultores que usaram os seus próprios tractores e equipamentos. No meu caso fiquei 14 dias em casa, fui dos primeiros a ser infectado pela Covid, mas a vida continua. Sinto orgulho em ter integrado esta equipa na Junta de Freguesia”.
Por: José Peixoto
Fotos: Rui Sousa