Voz da Póvoa
 
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Póvoa, Beiriz e Argivai ou a União Que Fez a Força

Póvoa, Beiriz e Argivai ou a União Que Fez a Força

Freguesias | 18 Maio 2020

Com as viagens abriram-se outros horizontes e saberes. Com trocas de amizades nasceram entre as cidades e vilas partilha de culturas, geminações. A União de Freguesias Póvoa de Varzim, Beiriz e Argivai é hoje uma geminação capaz de partilhar ideias culturais, desportivas e recreativas sem beliscar a identidade e as tradições de cada natural. É esta herança que nos envaidece.

O menos atento cidadão pode resumir as Juntas de Freguesia ao papel menor das cidades. Talvez possamos dizer que as pequenas coisas também nos engrandecem e a proximidade nos transforma numa espécie de família onde todos se conhecem. Foi esta verdade que ajudou a combater um inimigo invisível, mas que semeou no país um Estado de Emergência que ‘obrigou’ a seguir as recomendações da Direcção-Geral da Saúde e abriu a porta a visíveis necessidades sociais.  

O medo ou o pessimismo que tomou conta de muita gente assumiu o nome de pandemia e foi preciso tomar a rédea da orientação, para fazer regressar uma normalidade em estado de inquietação. “Nunca fechamos, mantivemos a maioria das delegações a funcionar. Adaptamos o serviço à contingência, criando normas para continuar abertos. Reduzimos o horário e ficamos a funcionar, entre as 09h00 e as 13h00, nas delegações da Póvoa de Varzim norte, Beiriz e Argivai. Logo na semana de apresentação do ‘Plano de Contingência’ pela Câmara Municipal, colocamos tudo a funcionar com guichês, como era antigamente. Por ser mais complicado pôr em prática essas defesas, fechamos a delegação da Matriz e do Sul, reabertas esta segunda-feira com os guichês para permitir um atendimento seguro. Agora voltamos à normalidade possível com cinco delegações abertas da parte da manhã”, esclareceu Ricardo Silva, presidente da União de Freguesias Póvoa de Varzim, Beiriz e Argivai.

E acrescentou outros passos depois do alerta da pandemia: “Suspendemos a cobrança de taxas e licenças para evitar aglomerados de pessoas nas delegações. Até conseguirmos uma forma segura de trabalhar, suspendemos durante três dias o serviço de distribuição e loja dos CTT, em Argivai e Beiriz. Era importante manter o serviço de encomendas, Payshop, pagamentos de vales e reformas. Como reduzimos os horários de atendimento permitiu ter funcionários, que por questões de saúde pertenciam ao grupo de risco, em regime de teletrabalho. Outras recolheram a casa para apoiar filhos menores e ainda foram destacados funcionários para a protecção civil”.

A Urgência e Exigência do Estado de Emergência

O Estado de Emergência, que obrigou ao confinamento, arrastou consigo pessoas para uma situação de emergência social, que segundo Ricardo Silva exigiu maior intervenção social: “Já tínhamos um serviço de entregas ao domicílio muito relevante no trabalho social da Junta de Freguesia. Era um serviço de apoio e ajuda à população mais idosa, que agora se tornou num serviço de urgência. Como as pessoas passaram a estar numa situação de isolamento social começaram a surgir uma série de problemas, que esta valência da Junta de Freguesia teve que socorrer. Temos uma carrinha que faz este apoio ao domicílio, com dois funcionários no transporte e outros dois na logística. Vão à farmácia, ao mercado fazer compras, tudo o que é preciso tratar. Como temos os dados das pessoas que frequentam a nossa academia sénior, uma das actividades que foi suspensa, começamos a contactá-las, mas verificamos que algumas estavam incontactáveis. A Acção Social da Junta foi a casa das pessoas, fez um inventário e compramos telemóveis pré-pagos, para ceder e conseguir contactar. Também aumentou muito o número de atestados feitos ao domicílio, provas de vida presenciais. Para que a pessoa não saísse de casa foi lá um funcionário fazer o atestado e depois reportava à Junta”.

Aos serviços de urgência social valeu a experiência de um trabalho que a Junta já realizava: “Tínhamos um serviço de teleassistência que também mudou o contexto, a razão e a justificação porque se fazia, que era um serviço de assistência pelo telefone, onde o funcionário contactava principalmente pessoas com problemas de saúde ou sem retaguarda familiar, em Beiriz, Argivai ou na Póvoa. Com a pandemia passamos a usar todos os contactos da nossa Base de Dados para saber se estava tudo bem ou era preciso algum apoio ao domicílio. Também temos duas psicólogas que prestam este tipo de apoio, sempre que necessário”.

Ricardo Silva recorda que a rápida reacção do município ajudou a agilizar os serviços: “Logo que surgiu o alerta de pandemia fizemos uma reunião com o executivo. Daí surgiu o ‘Plano de Contingência’, onde ficou logo estabelecido o reforço financeiro. As despesas que temos com o transporte, que aumentaram imenso, as despesas com os cabazes alimentares, com a transformação de todas as delegações para que possamos trabalhar em segurança. De imediato alocamos 15 mil euros de verba para apoio. No entanto estamos sempre a rever esta situação que tende a agravar-se. As pessoas que estão em carência social não têm uma saída a curto prazo. Por isso, estamos a rever o orçamento da Junta de Freguesia e os apoios das actividades que foram canceladas ou suspensas, de forma a canalizar essas verbas para o apoio social”.

Para evitar e isolar as possibilidades de contágio pelo coronavírus, o volume de trabalho da Junta aumentou: “Com a pandemia abateu-se uma crise. As pessoas fazem as compras através da Junta de Freguesia. Ou seja a Junta é adjuvante e leva as compras a casa. No entanto, começaram a surgir muitos casos de urgência social. O atendimento está centralizado no Município, no departamento de Acção Social, onde há uma equipa que faz o atendimento e depois encaminha as ajudas para as famílias em situação de carência. Só em Março entregamos 126 cabazes alimentares completos, carne, legumes, fruta, com tudo o necessário. Sabemos que nos próximos tempos não vão sair da situação de carência, de desempregados e por isso, temos um apoio continuado a estas famílias. Tem sido esse nos últimos tempos o grande papel da junta”.

E Ricardo Silva acrescenta: “Todo este trabalho que surgiu num repente não era possível efectuar sem a grande ajuda e coordenação da autarquia. O apoio social da Junta é em absoluto articulado com a Acção Social da Câmara Municipal. Quanto ao trabalho de desinfecção das ruas, espaços públicos ou mobiliário urbano, como os contentores do lixo, que actualmente é feita três vezes por semana, a Câmara fornece o produto e nós fazemos a desinfecção. A delegação de Argivai tem um tractor, onde equipamos um depósito e fazemos a desinfecção naquela freguesia e Beiriz. Também adaptamos uma carrinha com uma máquina para ajudar nesse processo, um trabalho que é feito durante a noite. Temos em Beiriz a ajuda de um agricultor, que faz a desinfecção nas ruas mais largas, porque o tractor dele ter outra capacidade”.

A Resposta Imediata às Recomendações da DGS

O Estado de Emergência e as directrizes da Direcção-Geral da Saúde (DGS) exigiu uma capacidade de resposta fora do habitual mas a Junta correspondeu: “A capacidade de resposta foi rápida porque temos os meios. Fizemos uma campanha de sensibilização através das redes sociais, com mensagens adequadas. Mas, é complicado porque cada pessoa tem a sua maneira de ser e é preciso saber argumentar. Mesmo para mim, por vezes é complicado andar na rua porque as pessoas têm tendência a aproximarem-se e eu sou uma pessoa que gosto de cumprimentar, sou muito tátil e tive que assumir outra postura. Nas delegações da Junta tivemos que nos organizar de maneira a salvaguardar as pessoas do executivo que têm uma situação mais frágil em relação a esta pandemia”.

O confinamento social obrigou a fechar os cemitérios, uma abertura que segundo o presidente aguarda uma decisão do executivo camarário: “Naturalmente onde havia mais pessoas e as regras do distanciamento social não estavam a ser cumpridas, tivemos que fechar. Nos cemitérios de Beiriz e Argivai não tivemos problemas de aglomeração de pessoas, fechávamos aos fins-de-semana. A reabertura vai obedecer a algumas regras de distanciamento social e controle de entradas, ainda não sabemos exactamente quando vamos abrir. Os cemitérios são muito frequentados, principalmente por pessoas idosas, que se sentem na obrigação de visitar os seus, trocar as flores, pôr velas e rezar”.

Ricardo Silva diz que não é tempo de olhar a orçamentos mas reconhece que as receitas da Junta foram bastante penalizadas: “A grande receita, que é a Feira da Póvoa, está completamente posta em causa. Outro financiamento vem do aluguer do espaço para os carrosséis, no S. Pedro. No ano passado foi o ano em que conseguimos ter a maior organização e o melhor equilíbrio, com o acordo feito com a Docapesca que nos cede o espaço. É uma perda considerável para este ano. A feira é ao ar livre, como vantagem, mas depois tem o problema da aglomeração de pessoas, segundo há feiras todos os dias e terceiro os comerciantes movem-se entre concelhos, cria-se ali uma tempestade perfeita e tem que ser muito bem pensada a sua abertura. Penso que haverá uma directiva do Estado, que vai promover uma série de regras para fazer as feiras que têm um dia e uma duração determinada. Vai ter que haver uma série de acordos. Na Póvoa, a feira é muito frequentada e o espaço está bastante preenchido”.

A situação pandémica não vai acabar amanhã, por isso convidamos Ricardo Silva a deixar uma mensagem: “Somos uma terra do litoral onde passa muita gente. Estamos todos a cumprir e isto custou, foi uma experiência terrível, mas o resultado está a ser muito positivo. Temos dos índices mais baixos de infectados e poucas perdas de vidas. Era importante perceber que isto é muito complicado, mas nós estamos a passar muito bem por uma coisa que é muito má. Estamos a conseguir cumprir e penso que isso pode ser uma motivação para continuar a manter a nossa segurança”.

 E o presidente conclui com um agradecimento: “Não posso esquecer todos os funcionários que andam na linha da frente, que permitem que continuemos a pagar vales, prestações e reformas em Beiriz e Argivai, que mantiveram a Junta sempre aberta durante o Estado de Emergência. Que fazem a limpeza, desinfecção e manutenção das ruas, que levam o apoio da junta (cabazes completos de alimentos), também a quem está infectado, a quem está de quarentena, a quem não tem como sobreviver. O meu profundo agradecimento”.

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