Voz da Póvoa
 
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No Centro Social Paroquial de Terroso Amar é Servir

No Centro Social Paroquial de Terroso Amar é Servir

Freguesias | 21 Janeiro 2021

Envelhecer não é uma doença e, sem repercussões clínicas, pode ser “bem-sucedido”, nas suas funções físicas, cognitivas, sociais e emocionais, mas também há o contrário, acompanhado de doenças e das suas sequelas. Daí quando a retaguarda falta é necessário encontrar apoios como o Centro Social Paroquial de Terroso, fundado a 30 de Novembro de 1990, pelas mãos de um grupo de fiéis (Comissão de Santo António) que se propôs servir voluntariamente a sociedade, de forma a minorar as carências existentes a nível social. Foi com um espírito cristão que o grupo de amigos orientou as suas vontades e fez nascer o CSPT com o lema “Amar é Servir”.

António Pedro Campos Amorim nasceu na Póvoa de Varzim, em 1945, mas viveu em Aver-o-Mar em casa dos seus pais. É pároco de Terroso desde 1988 e com o sacerdócio da paróquia foi percebendo que, “havia idosos que em tempos tinham emigrado e deixaram os filhos por terras distantes. Depois, regressaram para viverem na terra onde nasceram. Acontece que não tinham retaguarda de apoio por parte dos familiares. Daí a necessidade de fazer uma obra para a terceira idade. Um outro motivo é o apoio às nossas crianças, não só jardim infantil e creche, mas também às crianças na fase escolar. Aqui em Terroso, nem um Centro de Estudos havia, para dar apoio às crianças com maiores dificuldades de aprendizagem. Daí a necessidade não só do apoio à terceira idade, mas também do ATL e creche, desde o berçário, três ou quatro meses de vida. Nas várias valências, creche e infantário, temos 84 crianças e mais 70 em ATL. Neste momento, estamos repletos. As crianças ficam ligadas à instituição, às pessoas com quem cresceram e por via disso acabam por ligar-se à paróquia”.

A estrutura Residencial para Idosos tem também apoio ao domicílio e Centro de Dia que, “funcionava com os idosos do Lar, mas devido à pandemia, procuramos separar, gerindo em espaços diferentes. O Centro de Dia é muito importante, porque os filhos vão trabalhar e os idosos não ficam sozinhos nas suas casas e aqui podem conviver com os outros. Sentem-se felizes quando recebem uma visita e pelo cordial trabalho dos funcionários, a quem recorrem sempre que necessário. Neste momento, por causa da pandemia o Centro de Dia tem doze utentes e três empregados, que apoiam no transporte e a outras solicitações. Nos momentos mais críticos tivemos que fechar as portas a visitas para limitar contactos com o exterior. Houve também um cuidado enorme com funcionários e colaboradores, porque basta um deles contraír o vírus para infectar muitos idosos, que não têm as defesas dos mais novos. Além disto, temos que estar atentos ao menor sinal de fraqueza, febre, tosse ou outros sintomas, que a nossa Assistente Social regista imediatamente. Temos também uma ligação forte com o delegado de Saúde, que tem dado uma ajuda fantástica. A nossa função é estarmos atentos. O idoso não precisa só de pão, de abrigo, precisa principalmente de carinho”. 
 
Para o padre Pedro Amorim não há intenção de aumentar o número de utentes no Lar Residêncial, as necessidades passam por outros objectivos: “Não queremos aumentar o número de quartos. Há necessidade e esperámos ainda ser contemplados com um financiamento do programa 2020, para criar um maior número de salas, quer sejam de convívio ou de leituras, espaços amplos, onde as pessoas possam circular à vontade e não estarem limitadas a uma sala. A ideia passa por manter o número de utentes e dar-lhes melhores condições”.
A assistência religiosa é outra forte componente do Lar: “Este espaço do Centro Social não era nosso. Comprámos por dois motivos, não só porque ficava no centro da freguesia de Terroso, o cruzamento principal fica junto ao Centro Social, mas também por estar ao lado de um terreno e de uma capela que é dedicada a Santo António. A capela está aberta e pode ser frequentada diariamente pelos idosos do Lar. Também não há dia que eu não passe pelo Centro Social. Se houver uma manhã que não passe por aqui, recebo logo um telefonema”.

A Padroeira das Candeias é a Senhora da Freguesia

A devoção à Senhora das Candeias, da Luz, da Candelária ou da Purificação, nomes que pertencem à mesma Senhora, tem a sua origem na festa da apresentação do Menino Jesus no Templo e da purificação de Nossa Senhora, quarenta dias após o seu nascimento, daí a celebração acontecer a 2 de Fevereiro. “A devoção à Senhora das Candeias ou da Purificação é uma festa muito ligada à liturgia e muito ligada à pessoa do Menino Jesus. As crianças na religião judaica eram consagradas e Jesus também foi apresentado ao templo e consagrado. Há na nossa paróquia, uma imagem toda em pedra, muito antiga e bem trabalhada, com uma qualidade rara. Em Terroso a devoção à Senhora das Candeias é muito antiga. O dia da festa é de tal forma respeitado, que é das poucas freguesias, onde o dia da padroeira é feriado em Terroso. A festa realiza-se sempre no dia 2 de Fevereiro. É uma paróquia que faz uma novena, para a preparação religiosa. Há sempre uma missa, uma procissão de velas que inicia às 6h15 minutos nos vários pontos da freguesia. As pessoas vêm de cada lugar para depois ouvir a missa e ainda poderem ir trabalhar. Temos uma afluência de jovens que é fantástica. Naquele dia toda a gente vem à primeira missa da Senhora das Candeias. Devido à pandemia que assolou o país a partir de Março, foi a última festa que se realizou em 2020”.
 
Para o padre Pedro Amorim, a freguesia tem vindo a crescer e a ver os seus espaços melhorados, incluindo junto à igreja: “Os espaços exteriores são muito importantes. Primeiro são de acolhimento, não só de pessoas mas também para quem precisa de estacionar a sua viatura, para depois assistir às celebrações religiosas. O espaço que sofreu uma intervenção, feita pela Câmara Municipal, é muito aberto e as pessoas sentem-se bem. Fizemos também umas salas de apoio à paróquia, sala para juventude, escritório e uma sala maior para reflexão. Penso que a obra exteriormente está completa, melhor não podia ser. Falta agora a obra interior. Ninguém cresce sem duas coisas, sem ser amado e sem recolhimento. É em silêncio que as pessoas mais facilmente se ouvem umas às outras e mais facilmente se encontram com Deus”.
 
A vivência com as pessoas de Terroso tornaram o padre Pedro Amorim um filho adoptivo da terra: “Sinto-me mais de Terroso do que de Aver-o-Mar onde sempre vivi ou da Póvoa onde nasci. Da parte desta gente, baptizei, dei o conhecimento da fé, fiz as comunhões e o casamento. Nestes 33 anos todos estes actos religiosos passaram pelas minhas mãos. Já casei pais e mais tarde os seus filhos. A pessoa fica sempre ligada. O que custa mais é ver uma pessoa ou família, que vieram viver para cá, mas ainda não estão muito ligados à terra. Trabalham fora, convivem fora. Gostava que o relacionamento da comunidade fosse mais abrangente. O contacto entre as pessoas é muito importante, não basta viver aqui, é preciso conviver”. 

No Centro Social o Caminho Também se Faz Caminhando

Fátima Carina Vieira Moreira é Assistente Social do Centro Social Paroquial de Terroso, há 13 anos. É natural da freguesia de Terroso e todos os seus caminhos passaram pela paróquia. Recuar a Março de 2020, é recordar a calmaria ou as rotinas diárias a serem imediatamente acauteladas com regras de protecção dos funcionários e utentes: “Fechámos portas às visitas no dia 16 de Março, pelas orientações superiores que recebemos e de imediato as funcionárias ficaram internas em grupos de trabalho, de forma a evitar ao máximo a possibilidade de contágio. O maior problema que tivemos neste tempo todo, foi mesmo o isolamento por parte dos idosos, no distanciamento das famílias. Daí, termos feito o que o padre Pedro disse, o máximo de atenção, o máximo de afecto e carinho, e presença constante junto dos idosos. Não separamos as famílias, tentamos sempre que possível o contacto através de videochamadas. Tentámos sempre fazer com que os idosos não sentissem tanto a falta da visita presencial dos seus familiares, dos seus amigos e entes queridos”.
 
E acrescenta: “A nossa população de utentes é maioritariamente, pais de emigrantes. Em Agosto, os filhos visitam a freguesia e é muito complicado não poderem abraçar ou beijar o pai ou a mãe. Este é um problema transversal. Os filhos trabalham em países onde a pandemia também é uma presença, mas é complicado chegar aqui e não dar um abraço ou um beijo aos seus progenitores. E explicar isso a um idoso é muito complicado, principalmente quando já tem uma idade muito avançada e com alguns problemas de demência”. 

Este é um lugar onde é inevitável o contacto e por isso mesmo, de grande responsabilidade para o funcionário, afirma Carina Moreira: “Estamos a falar de idosos totalmente dependentes. Tivemos disponibilidade total por parte da direcção, a partir do momento em que a pandemia veio para ficar, na aquisição de equipamentos técnicos. Nunca nos foi negado nada, nem tem faltado nada, não houve nenhum tipo de contenção para as necessárias despesas. Tudo o que fosse equipamentos para o bem-estar dos idosos e das colaboradoras, foi sempre uma prioridade. Fatos completos, viseiras, óculos, máscaras, toucas ou calçado. As roupas que usavam no exterior não eram as mesmas que usavam no interior. Tivemos também ajudas externas, da Câmara Municipal e de empresas. Como o Centro de Dia deixou de funcionar juntamente com o Lar, foi criado um espaço separado. No dia 15 de Outubro, quando abrimos o Centro de Dia tínhamos um espaço diferente preparado para receber os idosos. A sala de estar e o refeitório, que era comum, passou a ser só do Lar. Criámos logo um distanciamento com lugar sim e lugar não e, os cadeirões na sala de estar, separados. Tudo foi feito para que houvesse distanciamento entre utentes. Recentemente, recebemos informação a questionar quantos colaboradores e utentes em lar nós temos, para serem vacinados. Creio que poderá acontecer até ao final de Janeiro”.

Para a Assistente Social, “este foi um ano atípico e um dos dias mais tristes que tivemos por cá, foi o dia 24 de Dezembro, Ceia de Natal. Temos idosos em Lar há 18 anos e nunca aconteceu não termos missa à tarde no dia da Ceia. Para os idosos não houve Natal porque não houve missa. Nesse dia, vem muitas famílias assistir, vizinhança, funcionários e este ano não foi possível. Tal como não foi possível no jantar de natal, o padre Pedro estar presente. Esta casa existe desde 1997 e o padre Pedro sempre ceou com os idosos, este foi o primeiro ano em que isso não aconteceu”.

Carina Moreira: “Gostaria que a construção da nova sala para os utentes do Centro de Dia fosse uma realidade. Temos bastantes utentes e o espaço começa a ser pequeno. Era importante diferenciar o espaço para que os mais dependentes pudessem estar à vontade, no seu espaço. Depois, quem quer jogar às cartas, cantar, divertir-se, porque são ainda autónomos, um outro espaço para que os ruídos não se misturem nem perturbem quem quer estar mais em descanso. Para dar qualidade de vida, a devida atenção e carinho aos 34 idosos que temos em Lar, se aumentasse o número, não íamos conseguir prestar um bom serviço aos utentes. Damos resposta aos idosos de Terroso e a famílias das freguesias envolventes, que não têm esta valência para idosos. Dar a qualidade de serviço que pretendemos não passa por aumentar o Lar residencial”. 

Por: José Peixoto

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