Voz da Póvoa
 
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MANUEL MARTINS FELGUEIRAS era da Estela

MANUEL MARTINS FELGUEIRAS era da Estela

Freguesias | 3 Fevereiro 2021

Manuel Martins Felgueiras ao regressar do Brasil, para onde emigrara muito novo, instalou-se no Hotel Moderno e depois no Universal (edifício dos Serviços Municipalizados) onde permaneceu até à sua morte em 30 de janeiro de 1938 no estado de solteiro.

Entretanto, inscreveu-se como irmão da Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Varzim, chegando a ser mesário e onde dispõe de pintura do seu retrato, pintura a óleo da autoria de Manuel Pintor, cujo nome é Manuel Alves da Costa, que conheci.

Aquando da bênção da nova Capela em 12-08-1914, assinou a respetiva ata com os demais mesários.

Como não tinha descendentes, fez testamento cerrado em 28-08-1933, deixando o seu património monetário à referida Santa Casa com determinadas obrigações, entre as quais se incluía um legado de 50 contos para seu fundo, com a obrigação de, pelos respetivos rendimentos, entregar anual e perpetuamente ao pároco da freguesia da Estela a quantia de 300 Escudos, sendo 20 Escudos para ele dizer todos os anos duas missas, uma pela alma do testador no aniversário da sua morte e outra no dia imediato pela alma dos pais do testador e para o referido pároco naquele 1º dia distribuir a restante quantia de 280 Escudos pelos pobres mais necessitados da mesma freguesia que assistissem aquela missa, ou que disso se achassem impedidos por doença ou força maior, passando e entregando à respetiva mesa o devido atestado.

Recordo-me, quando era miúdo da catequese, de assistir a algumas dessas cerimónias e da quantidade de pobres dos 2 sexos que a elas assistiam e do contentamento em que se mostravam agradecidos.

Passados alguns anos essa cerimónia deixou de acontecer, com surpresa para o povo da Estela que se interrogava pelo não cumprimento dessa cláusula do testamento daquele benfeitor.
Consultada a Santa Casa, esta esclareceu que todos os anos cumprira essa obrigação entregando a respetiva importância ao pároco da Estela Rev. Manuel da Silva Pessoa e este sempre passou os competentes recibos.

Naturalmente, que isso deu lugar a procedimento judicial que chegou à Relação do Porto e a processos no Tribunal Eclesiástico de Braga que culminou com a destituição do Padre Pessoa, pároco da Estela em 1973.

Com o seu espírito de “bem-fazer” Manuel Martins Felgueiras custeou também diversas obras no edifício do hospital e já lá não está a lápide de mármore sob os arcos da urgência: “Estas dependências foram reformadas para os serviços de banco a expensas do grande benemérito Manuel Martins Felgueiras em 1930”.

Com muito orgulho de estelense, várias vezes li essa placa e anotei na minha agenda. Por motivo de outras novas obras a placa foi retirada, mas acho que devia voltar a ser colocada, ou noutro sítio adequado, para memória e exemplo das novas gerações. Pode ser uma lembrança para novos benfeitores.

Este “brasileiro” rico frequentava a Associação Comercial e consta na relação de beneméritos que contribuíram para a ampliação da sua sede na Praça do Almada.

Muitas “estórias” se contam do seu convívio nesta instituição centenária, onde se jogava às cartas e outros jogos permitidos.

Mas, o que mais interessa referir neste ano centenário da inauguração do edifício que mantém o seu nome e onde frequentei o ensino primário e que é, desde os anos oitenta, a sede da Junta de Freguesia da Estela. É o exemplo deste estelense que sentindo a falta de instrução para as suas atividades, espera que o mesmo não suceda aos descendentes dos seus conterrâneos.

E isso, deve-se em grande parte ao homem que nasceu em 1861 no lugar de Barros no edifício hoje com o nº 113 da rua com o seu nome e que lhe foi atribuído em 1984 ao distinguir na toponímia como um dos filhos mais ilustres da Estela.

Assim, resumindo dos vários documentos que oportunamente consultei no “Arquivo” da Câmara, constatei que em 16 de março de 1915 expôs à Câmara Municipal a urgente conveniência da criação de uma escola primária para ambos os sexos, no lugar do Alto das Arribas, indicando também o auxílio que pode prestar e as respetivas condições: - oferecer a planta, o terreno necessário (cerca de 1.400 m2) no valor de 200 Escudos e a quantia de 2.300 Escudos em 2 prestações iguais, sendo a 1ª a meio da construção e a 2ª no fim. A construção será iniciada no prazo de 2 meses e será concluída em 2 anos.

A escola terá o nome de “Escola Felgueiras”, sendo exclusivamente destinada ao ensino primário de ambos os sexos, com habitação para os professores.

Por conta da Câmara, ou da entidade a cargo de quem estiver a instrução, ficam todas as despesas para a construção, reparação e funcionamento da escola, bem como a respetiva superintendência e fiscalização.

Aprovado pela Câmara da presidência de António Leite Dourado, o processo teve várias interrupções a que não terão sido estranhas a alterações políticas então muito frequentes.

Mas em 16 de janeiro de 1917, com o auto de praça e arrematação sob a base de 4.720 Escudos, que foi a melhor proposta de 2 mestres de obras que concorreram, e da solicitação do Governo do subsídio respetivo e para ser aprovado pelo Senado, a obra teve andamento, tendo custado 6.210 Escudos pagos da seguinte forma:

 Valor da 1ª arrematação    4.720 Esc.
 Valor da 2ª arrematação    1.490 Esc.

 Soma total                         6.210 Escudos

Entregue por Manuel Martins Felgueiras                   2.300 Esc.
Do Ministério da Instrução em 1915                         1.000 Esc.
Do Ministério da Instrução em 1916                            700 Esc.
Do Ministério da Instrução em 1919                         1.000 Esc.
Em débito aos empreiteiros                                       1.210 Esc.

Soma total                                                                 6.210 Escudos

Foi quanto custou esta obra, claro que são valores da época em escudos, sendo pagos pela Câmara/Estado – 3.910 Escudos e 2.300 Escudos, mais projeto e terreno pagos pelo Manuel Martins Felgueiras.

Fez em Outubro de 2020 um século que o importante edifício foi inaugurado, justo será que o facto seja assinalado e para conhecimento e exemplo das novas gerações.

Por Alberto Eiras

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