Voz da Póvoa
 
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Balasar no Caminho do Progresso

Balasar no Caminho do Progresso

Freguesias | 24 Julho 2025

 

Não há história sem memória. Os primeiros registos associados a Balasar datam de 1090. Foi preciso chegar ao século XIII, para encontrar um documento onde Afonso II referencia a terra como Sancta Eolália de Belsar. Com o decorrer dos séculos Belsar passou a chamar-se Belisári, que por sua vez, daria origem a Balasar ou ainda como a conhecemos, Santa Eulália de Balasar.

As comunidades sempre souberam encontrar entre os seus homens ou mulheres, pessoas capazes de organizar e harmonizar os dias que nos levam ao futuro, sem perder a identidade da terra, as suas raízes e tradições.

José Martins Loureiro de Araújo nasceu em 1962, na freguesia de Balasar, bancário de profissão assumiu os destinos da freguesia, a 23 de Dezembro de 2009, da forma menos desejada, após o falecimento do até aí presidente e irmão Lino Araújo: “Eu fazia parte do executivo da Junta e acabei por assumir a presidência. Nunca tinha pertencido a nenhuma Junta. Pela primeira vez integrei uma lista candidata pelo PSD às eleições autárquicas de 2009”.

Para quem vive e exerce a profissão na terra é sempre mais fácil conhecer as pessoas: “Conheço praticamente toda a população de Balasar, trabalho em Balasar, a minha profissão é de atendimento público, contacto com toda a gente. Os meus pais tinham a funerária (Palhares) e eu também ajudava. Entrava pelas casas das pessoas que iam perdendo os seus familiares. Integrei algumas associações, estive quase 20 anos na Associação Desportiva e Cultural de Balasar. Naturalmente, gerir uma associação dá sempre traquejo, as pessoas confiam em nós e nós devolvemos essa confiança”.

As obras nas freguesias dependem sempre do apoio da Câmara Municipal, mas assumir uma Junta é também realizar projectos, concretizar sonhos. Qual foi a primeira obra que realizou? “Foi a reconversão da escola das Fontainhas, no mandato de 2009 a 2013, mas também uma parte da pavimentação da rua das Pedreiras, que deu acesso ao Parque Desportivo, que mais tarde veio a ser construído. Fizemos ainda uma ou outra pavimentação numa ou outra rua. Foi um mandato muito difícil, a dívida pública convidou a Troika a entrar no país e houve muita contenção da despesa pública das autarquias. Praticamente não havia verbas disponíveis para as freguesias. Foi viver os gastos do dia-a-dia e pouco mais”.

A água e o saneamento continuam a fazer um caminho lento até Balasar: “Vamos conseguindo aos poucos essas infraestruturas. Instalámos a água pública em várias ruas: rua do Monte Tapado, rua de S. José, rua do Monte, entre outras. O grande impulso das obras de saneamento começou no segundo mandato de 2013 a 2017. Na rua Stº António, Padre Leopoldino, rua da Fábrica, rua Urbanização da Algot, avenida José António de Sousa Ferreira, instalámos o saneamento e construímos uma ETAR como aqui junto ao cemitério. A sua capacidade tinha limites e teríamos que arranjar outra solução. Agora, com a construção em 2019, do Complexo Desportivo Lino Araújo, metemos água e saneamento na rua Alexandrina Maria da Costa, na rua Caminho Largo. Na rua do Monte que liga ao campo de futebol, instalámos saneamento, água, e alargámos e pavimentámos a rua. Neste momento estamos na zona das Fontainhas, ou seja na rua da Fábrica, rua da Ponde do Vau e rua Dr. Arlindo Carvalho e José António de Sousa Ferreira. E já temos uma candidatura para fazer a cobertura do saneamento desde Gestrins ao apeadeiro de Balasar. Estamos à espera que seja aprovada a verba para dar início à segunda fase do saneamento”.

E acrescenta: “A intenção da Câmara é não parar porque andámos muitos anos a lutar com as Águas do Norte pelo colector. Este ano lançaram o primeiro concurso que ficou deserto, mas no segundo a obra foi adjudicada. No dia 21 de Junho, começaram a fazer medições, a marcar o terreno para abrir em duas frentes. A altura não é muito boa porque os campos estão cheios de milho, mas vai ter que ser porque eles no Inverno também não podem por causa das cheias. O colector vem da freguesia de Arcos até ao Parque Verde, sempre à face do rio Este, tanto da margem direita como da margem esquerda. O prazo de execução da obra é até 2026. No mesmo dia, o Gás Natural vai ser instalado pela Portgás na rua da Ponte do Vau até à zona central das Fontainhas. A empresa vai buscar o Gás a Arcos. Como vai haver muita construção e aumento da população, a Portgás analisou, viu os projectos a entrar e avançou”.

José Araújo revela que a intenção é dar sequência ao saneamento: “Vamos avançar com a candidatura de Gestrins, um lugar que abrange várias ruas: rua do Cubo, rua de Gestrins, rua das Partilhas, rua Nova, rua da Azenha do Crespo, rua Manuel Fernandes Campos, até ao apeadeiro das Fontainhas, vai ser aquele núcleo todo, uma obra estratégica. Tem a ver com a qualidade de vida, a qualidade das águas dos poços, a maior parte estão contaminadas, daí a água pública ser essencial. Embora a maior parte da freguesia seja rural, as pessoas têm as suas explorações agrícolas, alguns são um pouco renitentes, mas é necessário. O saneamento está a avançar. As informações que tenho são de não parar até à conclusão. Com a conclusão do santuário vai haver um aumento de população. Por isso, é necessário assegurar as infraestruturas. Neste momento a ETAR que temos não tem capacidade para o volume de saneamento”.

A Criação de Infraestruturas Ajuda na Fixação de Pessoas

“Uma outra obra fundamental foi o alargamento do cemitério no decorrer do segundo mandato. Havia muita procura pelas famílias e não tínhamos lotação disponível. Aumentámos a capacidade do espaço público e correspondemos aos pedidos das famílias que queriam comprar. Depois, toda a gente está sujeita ao regulamento do cemitério. As campas públicas são da Junta e correspondem ao geral, as outras são privadas, foram adquiridas à Junta conforme as taxas aprovadas em Assembleia, mas estão também sujeitas ao regulamento do cemitério”.

Numa freguesia rural há também a necessidade de criar um Parque Verde? “Posso dizer que foi das obras mais importantes em Balasar, até pela visita que temos à Santinha da terra. Os primeiros passos do Parque Verde foram dados através de um protocolo de comodato com a Fábrica da Igreja, de seguida fizemos algumas obras. Mais tarde, a Junta e a Câmara Municipal acabaram por negociar e comprar o terreno. O Parque Verde, cerca de 25 mil metros quadrados, incluiu o parque de estacionamento e todas as infraestruturas. Como o próprio leito do rio com as cheias estava a entrar no Parque Verde, teve que se fazer uma forra com a colaboração da Agência Portuguesa do Ambiente que contribuiu também financeiramente”.

Um sonho antigo era construir um novo Parque Desportivo que incluísse o campo de futebol. O forte investimento tem também o dedo da Junta de freguesia que comprou os terrenos: “Havia uma verba disponível de quando foi a expropriação dos terrenos para a construção da A7. A Junta de Balasar tinha um terreno que foi cortado e nós fizemos ponto de honra que aquele dinheiro seria para a aquisição de um terreno para o Parque Desportivo. Comprámos um terreno com cerca de 25 mil metros quadrados, mais próximo do centro da freguesia para ao mesmo tempo dinamizar a actual área onde está inserido. Isso serviu para remodelar aquela zona toda, alargar e pavimentar as ruas. Pela rua das Pedreiras está desviado do centro cerca de 700 a 800 metros e pelo lado da Gandra a distância não aumenta. Temos acesso dos dois lados. Tivemos que reconstruir um ponto de água, um depósito, que estava sinalizado na carta de incêndios. Tem todas as condições para os helicópteros se abasteceram. Está prevista a construção de um nó de acesso à A7 que nos vai permitir preparar nos terrenos próximos a criação de uma zona industrial. Além de fixar pessoas na terra, vai permitir desviar o trânsito pesado do centro e facilitar quem nos visita. Naturalmente, concluídas as obras do Santuário Beata Alexandrina, as visitas vão aumentar”.

Tem alguma previsão para a construção do nó da A7 depois de tantas promessas adiadas? “A informação que temos é que o nó da A7 vai estar incorporado na nova concessão. Agora, parece que sempre vai avançar e é essa também a vontade do Ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz”.

Como vê a crescente visita de peregrinos de visita a Balasar? “Temos que estar cada vez mais preparados para os receber. O ajustamento do PDM à nova realidade é muito importante, tanto para a criação da Zona Industrial, como uma atenção redobrada ao crescente turismo religioso que implica criar infraestruturas de restauração, hotelaria e alojamento. Temos que definir estrategicamente o desvio do trânsito pesado do centro da freguesia e junto do santuário, é mais uma das razões para o nó da A7 avançar. Estamos a fazer estudos para criar as condições necessárias para receber a cada vez maior procura, mesmo de construção de habitações. A construção e conclusão da primeira fase do santuário ainda vai demorar, pelo menos mais um ano. Depois é preciso criar mais parques de viaturas, outras condições e infraestruturas”.

Balasar Oferece aos Cidadãos Melhor Qualidade de Vida

“Não está como desejaríamos, mas está bem melhor. Quando não temos rendimentos próprios dependemos muito da Câmara Municipal e das candidaturas que fazemos. Temos sempre que trabalhar em equipa e acho que tem sido feito um bom trabalho. Cada vez mais a Câmara nos responsabiliza ao fazer as transferências de verbas. Mas, somos nós que temos que fazer as candidaturas e os projectos. Isso já não acontece nas grandes obras, como as de saneamento. Uma das melhores obras que fizemos foi a remodelação da sede da Junta de Freguesia, que poucas condições tinha e hoje é uma obra de referência para qualquer Junta de freguesia. O piso ao nível da estrada é de valências da Junta, secretaria, sala de formações, Salão Nobre, e salas de reuniões. Temos no piso zero o infantário e várias salas. Na parte de cima temos uma sala onde se reúne a Assembleia da Junta e salas sede das associações: Associação do Poder Local de Balasar, a Tertúlia Balasarense, a Escola de Música, e a Associação de Pais. O edifício é grande e criámos condições para albergar várias valências. Somos nós que fazemos a entrega do correio para servir a população de Balasar e das freguesias vizinhas. Obriga-nos a ter um funcionário quase a tempo inteiro e os benefícios são da população que assim não tem que se deslocar à Póvoa. Aqui fazemos a entrega das cartas e encomendas. Pelo menos nós entregamos a tempo e horas. Nos CTT, hoje é um, amanhã é outro funcionário. Às vezes parece que guardam o correio meia dúzia de dias e depois trazem tudo junto”.

Uma obra que tem vindo a ser adiada, mas que tem aberto o caminho para avançar é a desejada construção de uma Creche: “Nós apresentámos o projecto e a candidatura foi feita pelos serviços da Câmara e apresentada em Março. Sei que o processo está bem encaminhado, estamos a aguardar, como cumpre os requisitos tudo indica que será aprovada. Até pode ser que ainda arranque neste mandato, mas o importante é que avance o mais breve possível para colmatar esta necessidade dos pais. Vamos receber na nova creche, 42 crianças. É uma das grandes lacunas que temos. A primeira candidatura que fizemos não foi aprovada. Não quero ser crítico, mas cumprimos todos os requisitos, temos provas disso. Sabemos que uma creche é sempre um investimento dispendioso, que obriga a muitos requisitos e é intenção nossa aproveitar a área de terreno que temos na parte baixa do edifício da Junta onde terá uma entrada de luz natural e espaço ao ar livre”.

O Centro Pastoral e Social da Paróquia de Balasar foi outro grande investimento na freguesia: “Os nossos apoios são sempre reduzidos. O compromisso deste mandato foi a construção da Capela Mortuária, prometemos e cumprimos. A Câmara atribuiu uma verba considerável ao Centro Social e isentou das licenças. Há também um compromisso entre a Câmara e a Junta de executar as acessibilidades para o Santuário da Beata Alexandrina, que albergará o túmulo da Santinha de Balasar. O processo de canonização está a ser tratado. Temos acompanhado de perto a construção, mantendo conversas e contactos com a Fábrica da Igreja ou com a Fundação Alexandrina de Balasar, o presidente é o mesmo, o padre Manuel Neiva. Em breve, deverão arrancar as obras do arranjo do adro da igreja de Santa Eulália”.

“Palavra dada tem que ser honrada”

“É preciso continuar a sonhar e ter uma equipa de apoio e certas assessorias. Neste momento, temos uma arquitecta e um contabilista a trabalhar para nós e pessoas licenciadas na Junta. A obra anda mais depressa e sai mais barata, a Câmara faz a transferência de capital e nós fazemos o concurso e executamos a obra quando é da nossa responsabilidade, até por causa dos conflitos de interesses. Agora há um acordo, apresentamos as obras que pretendemos fazer à Câmara, até determinada dimensão monetária e depois recebemos a verba. Uma obra com projecto concluído que não sei se vai ser possível fazer este ano é a ligação a Gondifelos, está previsto. Quem entrar na Junta nas próximas eleições tem já alguns projectos para avançar e outros para acabar, como o Parque Verde. Temos as casas de banho concluídas, mas falta um investimento que já está em concurso. Vamos recuperar uma casa de xisto, fazer um churrasqueira e um anfiteatro, um espaço com cobertura, mas com luz natural para as pessoas usufruírem. Creio que essa obra vai avançar ainda no mês de Agosto. O tempo é importante por isso temos que ter equipas de suporte, preparar projectos, orçamentação para podermos lançar os concursos. Todos queremos o melhor para Balasar, mas são doze freguesias. Ou seja, andamos todos atrás do mesmo”.

José Araújo sublinha: “Tivemos sempre uma boa relação com todos os elementos do Executivo Municipal, se assim não fosse, não conseguíamos nada. Ter uma boa relação não significa concordar com tudo, temos que fazer sentir as nossas necessidades e fazer cumprir as nossas promessas. Palavra dada tem que ser honrada, essa é a principal base de confiança. Não se pode fazer tudo, mas tem que se começar para depois acabar. A exemplo disso foi o arranjo e recuperação da Escola Básica da Quinta, neste momento estamos a avançar com a sede dos escuteiros nesse espaço que deverá ficar pronta até ao final de Setembro. A recuperação e reconstrução da Estação das Fontainhas, uma obra com qualidade e de rara beleza porque mantém a traça original. Outra obra importante foi a Ciclovia. Penso que aos poucos se fez muita obra, alguma ainda por acabar, mas queremos sempre mais e existem projectos já pensados. Gostava por exemplo que fosse concretizado o projecto dos passadiços que ligam a ciclovia ao Parque Verde pela margem do rio Este”.

Celebrar o Dia da Freguesia era uma questão de estudo e pesquisa: “Era um ponto de honra que celebraríamos o Dia da Freguesia quando fosse encontrado um documento. Estivemos alguns anos à procura, mas a ideia passava por encontrar o primeiro documento escrito que assinalasse a data, e conseguimos, 7 de Maio de 1440. Nesta data homenageamos pessoas que fizeram muito pela freguesia, quer seja a nível social, cultural ou desportivo”.

José Araújo orgulha-se de ter ajudado a criar a Feira de Gastronomia e Artesanato de Balasar: “Tivemos uma abordagem por parte dos comerciantes e organizámos a Feira, o sucesso tem-se repetido. Como o espaço nas Fontainhas é o ideal, não pretendemos fazer crescer a Feira. Melhorar sim. A localização é boa, é um local de passagem, programamos as actividades consoante os dias do evento. Uns anos são três, outros 4 dias, depende sempre do feriado do 25 de Abril. O contributo dos expositores não chega e as associações não pagam, mas temos a colaboração da Câmara”. E acrescenta: “Escusado será dizer que colaboramos e apoiamos todas as associações da Freguesia. Temos também, em rede com a Câmara Municipal, apoiado pessoas carenciadas da freguesia. Além disso, temos a Praia Sénior, ou seja, levamos as pessoas à praia, temos ginástica sénior três vezes por semana, ioga, Hip Hop com umas 30 ou 40 pessoas no salão da Junta, organizamos o Carnaval e o Magusto”.

Terminado o mandato na Junta, José Araújo quer ser um cidadão normal: “Vou também deixar de ser bancário. Serei candidato a Presidente da Assembleia da Junta de Freguesia, mas o povo é que vai decidir. Não há vitórias morais nem antecipadas. Há uma certeza, serei um balasarense, sempre, a apoiar Balasar naquilo que for preciso”.

Por: José Peixoto

Fotografias de: Rui Sousa

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