Há um coração e um pai para homenagear. O Texto que se segue foi lido nas comemorações do Dia da Freguesia de Argivai, pela filha de António Torres da Silva que recebeu a Medalha de Mérito.
Boa tarde!
Senhoras e Senhores,
Hoje, reunimo-nos para prestar homenagem a um homem cujo nome se entrelaça com a história da nossa freguesia, não apenas pelo que fez, mas pelo que continua a inspirar em todos nós. Falamos de António Torres da Silva, nosso pai, um homem de valores, de dedicação e de uma entrega inabalável à comunidade.
Nascido em 1957, natural e residente de Argivai, vem de uma família grande, humilde e trabalhadora. Desde cedo aprendeu que a vida exige esforço e resiliência. Começou a trabalhar aos 13 anos e, com o passar do tempo, tornou-se serralheiro e soldador, inclusive teve emigrado, profissão que desempenhou com a mesma seriedade e compromisso com que abraçou todas as causas da sua vida.
Sempre procurou evoluir, reconhecendo que o conhecimento é um dos pilares fundamentais do progresso. Apesar de não ter tido a oportunidade de estudar por muito tempo em criança, não desistiu e concluiu outros níveis de estudos mais tarde, demonstrando que a aprendizagem não tem idade. Mais do que isso, sempre se interessou por aprender, mantendo-se informado sobre diversas matérias, lendo e refletindo sobre o mundo ao seu redor.
Na juventude, viveu o período pós-25 de Abril com entusiasmo e espírito de iniciativa. Quando Argivai ainda não contava com uma associação estruturada, ele e um grupo de jovens decidiram, numa noite de Carnaval, criar algo que pudesse dinamizar e impulsionar a freguesia. Assim nasceu o C.D.C.A - Centro Desportivo e Cultural de Argivai, que abriu portas ao desporto e à cultura, com futebol, atletismo, teatro, jogos tradicionais, clubes de leitura, rancho infantil e cortejos, onde foi atleta, árbitro, dirigente e treinador. Dessa associação viriam a surgir outras, culminando, em 1988, na fusão de 4 associações que deu origem à U.D.C.A. - União Desportiva e
Cultural de Argivai, instituição que António Torres preside desde 2004 até aos dias de hoje.
Para além de tudo isto, também serviu a pátria. Cumpriu o serviço militar. Mesmo depois de deixar a tropa, manteve o vínculo com os seus camaradas, promovendo há mais de 40 anos um convívio com os colegas e amigos. Um exemplo de lealdade e respeito pela história e pelos que fizeram parte do seu caminho.
A sua dedicação à freguesia também se manifestou no envolvimento com as tradições locais. Durante vários anos, fez parte e dinamizou a Comissão de Festa do Senhor dos Milagres, contribuindo ativamente para a organização e manutenção de uma das celebrações mais importantes da comunidade. Com a sua energia e espírito incansável, ajudou a manter viva a devoção e a unir gerações em torno desta festividade tão significativa para Argivai.
Tudo isto, feito sempre de forma pro bono, é o reflexo do espírito solidário e incansável do nosso pai. Foram anos e anos de dedicação, pouco descanso, muito esforço e uma vontade sólida de ver a sua freguesia crescer e prosperar. No desporto, na cultura, na solidariedade e na política, António Torres deixa sempre a sua marca. Foi membro da Assembleia e da Junta de Freguesia por vários mandatos, sempre com o mesmo propósito: servir.
No meio de tantas responsabilidades, nunca deixou de ser esposo, pai, amigo e homem de tradições. E que orgulho temos disso!
Mas é certo que conciliar todas estas áreas da vida nunca foram fáceis. A logística familiar exigiu compreensão, sacrifícios e muita resiliência. E, mesmo diante dos desafios, nunca deixou de ser uma pessoa ativa, preocupada e presente nas atividades da freguesia e da cidade.
Referir também que por trás desta caminhada extraordinária, há sempre alguém que, com amor, paciência e dedicação, segura as pontas e se mantém firme e essencial. Alicerce inabalável ao longo dos anos, Ermelinda – mulher, filha, esposa, amiga e nossa mãe – soube equilibrar os desafios da família com uma intensa entrega. Sem o seu companheirismo incondicional, esse percurso não teria sido o mesmo. Ela foi e sempre será o pilar de amor e resiliência por trás de tudo. Peça fundamental também na associação que ele preside, o seu trabalho e apoio são essenciais em todas em todas as frentes. Obrigada mãe, obrigada Ermelinda. Mostrando que, por trás de grandes feitos, há sempre muito apoio dos familiares e amigos. Obrigada a todos também que sempre estão do seu lado.
Homem de opiniões fortes, vincadas e sólidas, António Torres sempre defendeu aquilo em que acredita. E, como acontece com qualquer pessoa que se dedica intensamente às causas e não teme expor o seu ponto de vista, foi por muitos admirado e por outros contestado. Mas é inegável que a sua entrega e paixão pela freguesia nunca dependeram de consensos fáceis. Pelo contrário, foram essas mesmas convicções fortes que o tornaram uma figura incontornável, alguém que nunca hesitou em lutar pelo que achava ser o melhor para a comunidade, fiel às convicções.
Hoje, esta homenagem é um reconhecimento mais do que merecido, pelo reflexo do trabalho, do empenho e da paixão que António Torres sempre dedicou à sua terra e à sua gente.
Obrigado, António, obrigado pai, por tudo o que fizeste e continuas a fazer. Que este momento seja apenas um símbolo da gratidão que a freguesia tem por ti.
Uma salva de palmas!
Autoria: Joana Silva e Marta Silva