O mar que nos ladeia as margens e que fascinou em todos os tempos os mais curiosos olhares e inspirados poetas como Fernando Pessoa: “Ó mar salgado, quanto do teu sal / são lágrimas de Portugal! / por te cruzarmos, quantas mães choraram, / quantos filhos em vão rezaram! / quantas noivas ficaram por casar / para que fosses nosso, ó mar! / Valeu a pena? Tudo vale a pena / se a alma não é pequena.”
A Póvoa de Varzim vê o mar de toda a sua terra, não admira por isso, que o Salão Nobre dos Paços do Concelho tenha recebido a primeira Aula Aberta do Curso de Especialização em Estudos do Mar, Estratégia e Segurança Global, ministrada pelo Almirante Silva Ribeiro, que em 2018 foi distinguido pela Câmara Municipal da Póvoa de Varzim com a Medalha de Cidadão Poveiro, grau Ouro.
Na abertura da aula, a Vereadora da Coesão Social, Andrea Silva, que é também aluna do curso, sublinhou a importância da iniciativa pioneira no país que juntou o Município da Póvoa de Varzim, a Escola do Porto da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa e Marinha Portuguesa.
O Curso foi aberto a todos os interessados em saber mais sobre o mar, os oceanos e as suas potencialidades, económicas, de investigação e desenvolvimento, ambiente, desenvolvimento sustentável, tecnologia, recursos, segurança e proteção marítima. Tendo ou não formação superior, o curso pretende ser inclusivo. Pelo que outros se seguirão.
Este, como outros cursos, é orientado por módulos, sendo que a aula teve como base o módulo Economia e Desenvolvimento Sustentável coordenado por Miguel Marques, mas desta vez tendo como orador o Almirante Silva Ribeiro.
Durante cerca de 40 minutos, todas as viagens pelo mar da sua experiência foram explicadas com a minúcia do conhecimento oceanográfico também. A estratégia de apropriação dos oceanos, assunto de extrema importância para Portugal, que a correr bem se tornará um dos países do mundo com mais milhas marítimas da sua responsabilidade administrativa. Os mares, não é de hoje, sempre foram disputados desde o tempo dos Romanos.
O Almirante alertou para a necessidade de despertar a mentalidade marítima dos portugueses. Explicou que realidade e o idealismo precisam de uma estratégia. A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar tem vindo a sofrer mudanças. A Própria União Europeia está atenta e coloca a possibilidade de um mar da União, ou seja o que é nosso é também deles. Por isso, o Almirante Silva Ribeiro quando refere a necessidade de uma política externa e diplomacia hábeis no mar, uma política marítima mobilizadora do poder nacional, conhecimento científico, capacidade tecnológica, actividade económica relevante no mar e capacidade de afirmação da autoridade do Estado no mar, para conseguir uma delimitação justa dos espaços marítimos, por não termos tecnologia capaz, aconselha o Estado Português a fazer parcerias tecnológicas com o Brasil e não com a União Europeia.
O mar é o futuro, mas é preciso que os políticos tenham essa visão.
Por José Peixoto
