Voz da Póvoa
 
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Pólo Aquático do Clube Naval Povoense Quer Jogar em Casa

Pólo Aquático do Clube Naval Povoense Quer Jogar em Casa

Desporto | 18 Agosto 2021

O Clube Naval Povoense foi fundado em 1904, com uma alma bairrista, cultural e desportiva. A promoção de diversões entre os associados, principalmente regatas, a prática do remo e a natação, mas se a intenção de manter a saúde física estava assegurada, era preciso fazer o mesmo com a intelectual, daí a criação de uma biblioteca, um museu e até promover a construção de embarcações. Atravessou o século e o centenário, enriqueceu a memória com glória e é hoje um dos clubes mais respeitados da cidade do Cego do Maio, monumento que ajudou a erguer.

Da mais antiga ligação ao mar, os desportos de água são uma prática corrente no CNP, entre os quais a vela, a pesca desportiva, as actividades subaquáticas, o surf, bodyboard, natação ou o pólo aquático, modalidade que foi criada no clube há 19 anos.

Com uma Taça de Portugal conquistada, um título de campeão nacional da 2ª divisão e duas vezes vice-campeão nacional da 1ª divisão, onde se podem juntar vários títulos ao nível da formação, o Pólo Aquático é hoje uma modalidade de referência do Clube Naval Povoense.

Como resistiu e sobreviveu à pandemia foi o mote para uma conversa com Bruno Loureiro, coordenador do Pólo Aquático, aventura que assumiu em Julho de 2020, depois de uma longa carreira de praticante: “Estive envolvido no pólo aquático desde a sua criação em 2002. Fui jogador desde essa altura até à época passada. Parei e resolvi assumir esta responsabilidade. Antes de abraçar esta modalidade, fui nadador de competição no Grupo Desportivo Sopete e, após a sua extinção, passei a representar o FC do Porto, onde terminei a minha carreira como nadador aos 26 anos”.

Pelo segundo ano consecutivo, a modalidade sofreu as interrogações e incertezas da pandemia: “Quando os campeonatos foram suspensos, acho que foi transversal a todos os desportos e modalidades, houve sempre a incerteza de como e quando iriam reiniciar. Em comparação com a maioria dos outros desportos colectivos, o pólo aquático foi classificado como modalidade de alto risco, o que obrigava a um conjunto de condições operacionais mais exigentes a todos os níveis. Curiosamente, a equipa Absoluta até conseguiu treinar melhor porque na altura do confinamento, basicamente tínhamos a piscina da Varzim Lazer só para nós. A esse nível estivemos bem, o que mudou foi a organização do campeonato e os custos associados porque tivemos que fazer testes no início de cada jogo e as restrições nos transportes também trouxeram custos acrescidos com deslocações. Depois de muitas hesitações, a Federação Portuguesa de Natação decidiu em Novembro publicar os regulamentos e avançar com os campeonatos absolutos. Normalmente, disputavam-se entre Outubro e Junho, esta época foram disputados entre Janeiro e Maio, divididos em duas fases, uma Regional e outra Nacional, mas com menos equipas, porque houve clubes que optaram por não jogar na primeira divisão. Tiveram também uma flexibilidade exagerada na primeira fase dos campeonatos. Houve jogos que foram realizados depois do final da primeira fase. Fomos a única equipa que cumpriu o calendário com rigor. Sentimos que era importante para a modalidade. Ficámos em 6º lugar no campeonato”.

E acrescenta: “Na Taça de Portugal por ser uma competição especial disputada num formato concentrado, convidámos um nosso ex. guarda-redes, bem como dois atletas que também já tinham treinado e jogado no clube, mas que, por motivos académicos foram para o estrangeiro, a regressar e jogar essa competição, onde fomos semifinalistas”.

Em Março houve uma restruturação da directriz da Direcção-Geral da Saúde em relação às modalidades desportivas, recorda Bruno Loureiro: “Passámos a ser uma modalidade de médio risco e os escalões de formação tiveram autorização para iniciarem a competição, depois de vários meses sem poder treinar. Mesmo com todas as condicionantes, no campeonato Regional de Infantis (sub14), ficamos em 3º lugar, e no Nacional com as mesmas equipas ficámos em 5º lugar. Fomos infelizes no sorteio porque no nosso grupo calharam o 1º e 2º classificado do Regional. No Regional de Juvenis (sub16) fomos vice-campeões. No regional de sub12, tivemos três atletas a representar uma selecção da Associação de Natação do Norte de Portugal. O clube sempre foi muito forte ao nível da formação. Para uma equipa que não tem meios para contratar jogadores, para poder crescer tem que ter uma boa formação. O mais difícil tem sido manter os atletas quando entram nas universidades e no mercado de trabalho”.

E recorda: “Nas duas últimas épocas, perdemos muitos elementos que faziam parte da equipa principal. Este ano, jogámos praticamente com atletas sub16 e sub19. São muito bons, com campeonatos ganhos, mas falta-lhes experiência, que só se adquire com o tempo, mas evoluímos bastante. Na primeira fase do campeonato, tivemos muita dificuldade, mas na segunda somámos apenas uma derrota no último minuto e dois empates. O trabalho realizado pela equipa técnica liderada pelo Javier Cáceres deu os seus frutos com estes jovens valorosos. Queremos continuar a crescer e ter uma estrutura que nos permita num curto espaço de tempo lutar pelo Título Nacional”.

Em cada ano é feito um trabalho de captação, que segundo Bruno Loureiro também passa pelo boca-a-boca: “As pessoas ouvem falar, ou alguém recomenda e os miúdos aparecem. Depois, tentamos junto das escolas fazer uma divulgação especial de treino para fazer captação de novos atletas. Também entidades que fazem ocupação dos tempos livres ajudam nesse processo. Este ano temos algumas novidades em termos de atletas. Vamos retomar os treinos em Setembro. É fundamental ter muitos miúdos para poder crescer e ambicionar chegar mais longe. Sabemos que qualquer equipa para crescer tem que ter uma base restruturada”.

O facto de fazer os jogos em casa emprestada (Piscinas da Senhora da Hora, em Matosinhos) também não ajuda: “Temos deslocações e despesas também com o aluguer. O nosso maior desejo é poder dentro em breve jogar aqui na Póvoa. Estou convencido que não será um investimento avultado ter a piscina com a profundidade suficiente para podermos disputar jogos. É uma luta nossa desde sempre porque é fundamental para o desenvolvimento do clube realizar aqui os jogos, atrai público e miúdos para a prática do Pólo Aquático. Apesar de tudo e com todas as condicionantes conseguimos, esta época, manter a maior parte dos nossos miúdos. Tivemos um ligeiro decréscimo na altura do confinamento, por medo, pela incerteza. Com o início das férias escolares voltámos a aumentar o número de atletas”.

Para Bruno Loureiro, apesar de todas as condicionantes que a pandemia trouxe o clube soube reagir e restruturar-se na sua organização para poder competir e trabalhar o futuro do pólo aquático: “Em todo este processo, fomos sempre apoiados pela direcção e pelo presidente Paulo Neves. O fundamental é oferecer à população Jovem poveira o acesso a uma modalidade desportiva. Portanto, a formação será sempre um dos pontos base da nossa estrutura e da nossa estratégia. Nessa perspectiva, todo o trabalho que foi feito até agora e o que está pensado para o futuro tem essa base em consideração. Temos todas as condições ao nível de apoios internos e externos, como o apoio excepcional da Varzim Lazer que nos disponibilizou sempre todas as condições de treino para podemos fazer o melhor possível, bem como a Câmara Municipal que também nos apoiou”. E conclui: “Aceitei este desafio por ter a consciência que é um clube com história, que faz coisas bem-feitas e tem uma importância social e desportiva na cidade. É isso também que me leva a agarrar este desafio e a sentir este orgulho de pertencer ao Clube Naval Povoense”.

Por: José Peixoto

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