Voz da Póvoa
 
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Os Lobos do Mar Querem ser de Primeira em Terra

Os Lobos do Mar Querem ser de Primeira em Terra

Desporto | 11 Setembro 2020

O futebol era já uma realidade no país e uma prática comum nas ruas e bairros da vila poveira. Histórias de bolas de trapo chegaram aos nossos dias, tal como a vontade de fundar um clube, tornada realidade a 25 de Dezembro de 1915. Os pioneiros amantes do mais popular desporto do mundo não imaginariam que, o seu Varzim Sport Club, um dia saltaria consecutivamente da 3ª até à 1ª divisão, onde em várias épocas consecutivas ombreou com os grandes do futebol Português.

Foi a vontade de ver regressar o clube aos grandes palcos do futebol nacional que convenceu Edgar Pinho a assumir a presidência do clube de coração: “No ano que antecedeu a eleição de Luís Oliveira, fui convidado a candidatar-me à presidência do Varzim, por pessoas como o Lídio Marques, que na altura era presidente da comissão administrativa, ou o ex. presidente da Câmara Macedo Vieira, mas por razões de ordem pessoal e profissional não pude aceitar. No ano passado alguns amigos que tenho na Póvoa fizeram-me acreditar, que havia um grupo de pessoas que me apoiavam e estariam comigo no projecto. Depois de ponderar decidi aceitar o desafio”.
E acrescenta: “As conversas que vamos mantendo com dirigentes muito experimentados no futebol, dizem-nos que qualquer clube se aguenta muito melhor na primeira Liga do que na Liga-Pró. Por isso o nosso primeiro objectivo é criar uma equipa competitiva para que possa, mais ano menos ano, aspirar ao lugar que todos os poveiros querem ver o Varzim. Não é fácil, porque todos os clubes sonham o mesmo. Enquanto varzinistas não nos podemos demitir desse desejo, desejo que a concretizar-se tornará possível, com maior facilidade, fazer face à obra no Estádio que o clube tem pela frente, uma realidade que queremos ver concretizada nos próximos cinco anos. É esse o caminho e acredito que, com união de todos os varzinistas vamos conseguir”.

Edgar Silva Pinho nasceu na freguesia de Moreira da Maia há 59 anos. Com apenas 2 anos passou a viver em Aguçadoura, onde os pais exerciam actividade comercial. Durante três anos frequentou a Faculdade de Economia do Porto, desistiu do curso e foi trabalhar na empresa dos pais. Foi durante um mandato de dois anos presidente do Aguçadoura, que militava na 2ª e subiu à 1ª divisão Distrital do Porto. “Foi uma experiencia interessante, porque me possibilitou conhecer um bocadinho daquilo que era o dirigismo desportivo. Nessa altura tive a oportunidade de conhecer o presidente do Varzim, Domingos Lopes de Castro, uma pessoa bastante generosa. Este bichinho pelo futebol foi incutido pelo meu pai, que foi Vice-presidente e tesoureiro do Varzim à época de Manuel Vaz e, me levava a ver os jogos todos do Varzim”.

A força e a grandeza de um clube começam a construir-se na formação: “Um clube como o Varzim movimenta mais de 400 atletas. E a curto prazo este número vai crescer. Desde logo, com o alargamento da Escola dos Tarrotes, que vai abrir o núcleo de Balasar. Cresce também com a inclusão do futebol feminino na próxima época. Estamos também a desenhar uma parceria com o Póvoa Futsal. Dentro de quatro anos é intenção nossa e do Póvoa Futsal ser uma identidade só. Pelo menos que estas duas modalidades estejam integradas nesta estrutura do Varzim. Com este projecto o número de atletas a praticar desporto à volta do Varzim vai duplicar num curto espaço de tempo. Com uma estrutura financeira de um clube de Liga-Pró, não é fácil, porque as pessoas que vem dar o seu tempo ao Varzim, a grande maioria quer ser retribuídas pela sua prestação. E os recursos são escassos. Gostaríamos muito que os recursos fossem um pouco mais amplos para podermos pagar um pouco melhor. É a realidade que temos e dentro deste quadro vamos fazer o nosso percurso”.  

A aposta no Futebol Feminino recupera um passado recente do clube mas também pretende antecipar-se a uma obrigação futura. Segundo Edgar Pinho “é ter a consciência que dentro de dois anos os clubes da Liga profissional, que tem formação, são obrigados a ter futebol feminino e nós quisemos antecipar esse passo. Esta possibilidade que surgiu, de encetar uma parceria com o Centro Social Bonitos de Amorim, vem no caminho das pretensões desta direcção em abordar com mais proximidade todas as colectividades do nosso concelho. Confesso que há muito trabalho a fazer, mas o mandato é de três anos e no curto tempo que levamos já trouxemos ao Varzim algumas lufadas de ar fresco que podem catapultar-nos para aquilo que são os desígnios desta nação varzinista. É com este espírito que todos trabalhamos”.

Apostar na Formação é Construir os Pilares do Futuro

Actualmente a área de formação do Varzim é muito basta: “Temos formação em todos os escalões, cada um com duas equipas e é nesta área que estamos a fazer um investimento muito forte. Acreditamos que a formação no clube possa vir a ser a alavanca para o futuro. Esperamos que as diversas categorias possam futuramente fornecer a equipa principal e, depois, poderem ser negociados ajudando o clube a crescer. Este trabalho de formação, que encontramos num determinado estado, que não quero classifica-lo, queremos melhorá-lo e criar condições para que possa a curto e médio prazo, em três quatro anos, a ter de facto essa força necessária para poder impulsionar talentos para o futuro”.

A construção da Academia é fundamental, reconhece Edgar Pinho: “Esta dimensão de praticantes que o clube tem já precisa de um espaço seu para puder ter as melhores condições para evoluir como atletas e como homens. É importante também para quem chega ao Varzim que possa perceber a mística e a raça dos atletas da casa, de forma a sentirem orgulho na camisa que vestem. Esta mística e orgulho em representar o clube têm também que ser passado pelos mais velhos aos mais jovens. Este espírito varzinista tem que ser transversal a todos atletas e treinadores”.

 A pandemia que ainda vivemos foi responsável pela paragem dos campeonatos e acabou por ter consequências negativas para todos os clubes: “Quando decidimos encetar este desafio e este projecto sabíamos das dificuldades que o Varzim atravessava. O Covid-19 apareceu e a sociedade não estava nem está preparada para esta situação de pandemia. Penso que ninguém ainda consegue equacionar a fase em que estamos. Na verdade é um período de preocupação para a sociedade em geral e para o futebol em particular. Ninguém no futebol desejava a paragem, nenhum clube da liga ou dos campeonatos de Portugal queria que o futebol parasse, mas percebia-se que o avançar da pandemia exigia medidas para conter o vírus. A posição do governo face ao parecer da Direcção-Geral da Saúde foi irredutível. Todo o futebol profissional parou. Nessa célebre reunião os três grandes estiveram em representação todos os clubes e o presidente do Sporting Frederico Varandas, que é médico, terá tido um papel decisivo face aos conhecimentos enquanto clinico e conseguiu pelo menos que a 1ª Liga pudesse acabar os campeonatos. Foi a decisão possível e os clubes profissionais tiveram que aceitar. Tentou-se criar incentivos que minimizassem esta paragem da Liga-Pró. Na verdade as medidas foram um paliativo. De uma forma geral toda a gente perdeu. Não só a nível financeiro, mas também a nível pessoal ficamos privados da nossa liberdade, alguns de filhos e netos, outros privados do seu emprego. Foi muito complicado”.

A retoma do futebol trouxe despesas extras e perda de receitas: “Todos nós percebemos que estamos perante um adversário extremamente difícil. É evidente que há um abrandamento, mas não deixa de exigir, daqueles que tem sobre eles os holofotes, uma carga de responsabilidade maior. Os futebolistas já o sentiram na pele. Os valores da massa salarial dos clubes para que o futebol pudesse continuar tiveram que ser contidos e até reduzidos. Mesmo as transferências estão em patamares mais baixos. Os atletas sentem isso e não é preciso, nós direcção, corpo clinico ou quem quer que seja, falar-lhes disso, porque esses comportamentos estão assumidos e todos sabem que são importantes para a sua integridade. Sendo eles profissionais vão ter face a este quadro uma responsabilidade maior, porque a vida deles depende efectivamente do estado de saúde e o clube também está em jogo. Uma infecção pode criar um grande embaraço para todos. Por isso não foi preciso pressionar ninguém adaptamos um plano de contingência que pretende balizar esta actividade face à presença do vírus”.

O Reforço do Plantel do Varzim Visa Sonhos Maiores
 
Em cada ano o Varzim vê partir jogadores, regressar outros, mas também novas caras vem à procura de se afirmarem: “Diria que saíram do Varzim jogadores que terminavam o contrato, quer de prestação directa ou de empréstimo. Saíram jogadores que por questões de ordem técnica não houve interesse na renovação e outros que regressaram aos seus clubes. Entre as saídas estão atletas que equacionamos mantê-los no clube, mas as condições financeiras apresentadas pelos empresários dos atletas, não correspondiam com os valores que estávamos disponíveis a pagar. Foram decisões normais no futebol. Toda a gente saiu de bem com o Varzim e o clube com eles. Não houve nenhum tipo de conflitualidade”.

E Edgar Pinho acrescenta: “Entraram 17 jogadores, mas uma boa parte veio para reforçar a lacuna da formação e também a equipa B. São atletas que consideramos de elevado potencial, podendo alguns, este ano, serem aproveitados pela equipa principal. Estamos a pensar numa equipa a dois ou três anos e é este o perfil de atleta que iremos continuar a querer contratar, jovens com possibilidade de viver a mística do clube, antes de ingressar na equipa principal. Há um grupo bastante basto com idades abaixo dos 22 anos. Temos uma equipa ambiciosa, queremos ganhar os jogos e que o somatório de pontos nos permitam atingir os nossos objectivos. Nesse quadro fomos também dosear a equipa com jogadores experientes e experimentados, como guarda-redes Ricardo, um poveiro que é uma referência do clube mas também de balneário”.

Para o presidente do Varzim interessa mais olhar o futuro que o passado: “O que importa neste momento é contar com a realidade que somos hoje, como podemos chegar aos nossos objectivos. É esse o caminho que estamos a delinear. Era público que o Varzim vivia dificuldades, mas todos os clubes de futebol vivem. Hoje mais do que buscar desculpas para alguma inação é buscar forças para encontrar soluções. É isso que esta direcção procura fazer. Estamos empenhados em reconstruir um Varzim que possa orgulhar a Póvoa e os varzinistas. Penso que é um desejo de todos, mesmo os que por aqui passaram, esperamos ter engenho e arte para o conseguir”.

E conclui: “Pelo seu histórico o Varzim é o clube com maior representatividade. Digo-o com muito respeito por todos os dirigentes desportivos que fazem tudo pelas associações e clubes que representam na Póvoa. Pelo país fora ainda se confunde Póvoa de Varzim com Póvoa do Varzim. Penso que tem a ver com aquilo que o Varzim representou e representa na nossa terra”.

 

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