Voz da Póvoa
 
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No Póvoa Andebol o Homem Sonha e o Campeão Nasce

No Póvoa Andebol o Homem Sonha e o Campeão Nasce

Desporto | 18 Setembro 2020

Como se constrói uma equipa de campeões? Não, não foi esta a pergunta, mas foram muitas as certezas consagradas em títulos, em vários escalões e, subidas de divisão que, tornaram o Póvoa Andebol num Clube de 1ª Divisão. Depois, podemos sempre admirar o trabalho de um grupo de pessoas que fundou o Clube em 2003, porque sempre acreditou que a Póvoa merecia voltar a ter Andebol e de primeira.

“Formaram uma equipa sénior e fizeram renascer o Andebol na Póvoa de Varzim. Depois, o clube passou por uma fase menos boa, com dirigentes e atletas a saírem por falta de disponibilidade. Nessa altura, Armando Silva começa a apostar na formação e a captar miúdos através de um trabalho junto das escolas. O clube passou a ter mais escalões. Com o tempo o clube foi crescendo e hoje, tem oito escalões de formação, desde os bâmbis até aos seniores. Recordo-me que na altura que entrei para a equipa directiva não tínhamos meio de transporte, nem meios financeiros para a sustentabilidade do clube. Hoje, a realidade é bem diferente, mesmo ao nível dos custos. Os números são muito acima, porque a estrutura também é outra, recorda o Presidente José Manuel de Oliveira Pereira.

Nasceu na Maternidade Júlio Dinis, em 1968, mas é poveiro. É licenciado em Finanças e fez uma Pós-graduação em Direito Bancário Bolsa e Seguros. O Andebol deixou de ser segredo, ainda menino: “Fui atleta de Andebol desde os infantis até à equipa sénior no Clube Desportivo da Póvoa. Depois, fui para a vida militar e para concluir os estudos abandonei a modalidade. Alguns anos depois, o CDP acaba com a secção e, em 2003 um grupo de pessoas, antigos dirigentes e atletas daquele clube, decidiram fundar o Clube de Andebol da Póvoa de Varzim. Mais tarde, em 2007, recebo um convite do Armando Silva que liderava o clube na parte desportiva e, pede-me para o vir apoiar, numa fase menos boa. Inicialmente, recusei, por falta de disponibilidade, sabendo que estas coisas exigem muita entrega. Só que, o Armando Silva fez um excelente trabalho e, contactou pessoas minhas amigas que se comprometeram, apoiar-me caso viesse para o andebol. Acabei por integrar a direcção, trabalhei muito com o Armando Silva, entretanto fomos metendo algumas pessoas, antigos andebolistas do meu tempo, um deles é o meu ex. treinador, o Jorge Castro Lopes e, fizemos este trabalho que gerou os seus frutos”.

Os passos seguros rumo à 1ª divisão: “Quando chegamos ao clube estava muito circunscrito ao pavilhão. Nós apostamos numa diferenciação em relação àquilo que é o clube normal. Abrimos o clube à comunidade, começamos a fazer concertos, o primeiro com o Vitorino e a Banda de Música de São Paio de Antas, no Garrett. Seguiu-se o coro do Grande Colégio com quem temos uma parceria. Fizemos algumas conferências, debates e exposições de arte. Se ficássemos circunscritos ao pavilhão e ao apoio camarário não podíamos abrir o clube a novos horizontes e objectivos. Foi um trabalho gradual, começamos a trazer as empresas para o nosso lado, sempre com uma relação próxima. Depois, as parcerias que fizemos com o Grande Colégio e com as escolas permitiram o aumento do número de atletas. Tudo este trabalho foi reforçado com uma equipa sénior competitiva e de referência, para que um miúdo, no Andebol, possa dizer que joga numa equipa de primeira divisão”.

Concretizada a subida, as responsabilidades aumentam, reconhece José Oliveira:
“Estamos a viver um tempo menos bom, com esta pandemia, mas vamos ter jogos televisionados com uma promoção maior dos nossos patrocinadores, vamos ter na Póvoa o Benfica, o Porto, o Sporting, o ABC, o Belenenses, equipas que são a elite do Andebol nacional. Temos que ter o clube mais organizado, com um orçamento mais abrangente. Se chegamos até aqui, só podemos crescer. Primeiro objectivo, é manter a equipa na 1ª divisão e depois pensar em novos voos. Quando tivermos as infraestruturas, podemos mesmo internacionalizar a Póvoa de Varzim. Com uma equipa competitiva que possa ir a uma Liga Europa podemos ter aqui a jogar as melhores equipas a nível mundial e, os seus adeptos a visitarem a nossa cidade”.

Saber Crescer Continua a Ser o Segredo dos Campeões

Dos mais pequenos aos seniores, a bola muda de tamanho. “Começa com uma bola muito mais pequena, que no fundo acompanha a evolução do ser humano até à equipa sénior, onde as bolas são maiores e mais pesadas. Primeiro, queremos que os miúdos se divirtam. Mesmo a nível do tempo de jogo, há alterações entre os escalões. Os seniores jogam 30 minutos em cada parte. O Andebol é um jogo muito intenso e físico, duro sem ser violento. Tem, ao contrário de outras modalidades, muita disciplina. Um jogador que é admoestado com uma falta, tem que pôr a bola no chão, se a mandar para o lado ou não aceitar a decisão do árbitro, corre um sério risco de ser expulso do jogo. Qualquer atitude menos correcta é penalizada com expulsão por dois minutos e se houver acumulação é expulso do jogo em definitivo”, explica José Oliveira.

E acrescenta: “O aspecto físico é cada vez mais exigente. Nas melhores equipas seniores do mundo, os atletas aproximam-se dos dois metros de altura. Como são possantes e entroncados não se nota. No entanto, face ao tipo de jogo e de posição dá para todos, por isso, temos jogadores com baixa estatura a jogar numa ponta ou a central e jogadores altos a jogar como laterais. Depois, é um jogo de equipa, onde todos atacam e defendem. O treinador tem 16 jogadores e todos têm que estar aptos a entrar no jogo”.

Um presidente que foi andebolista olha o jogo com outro saber: “Concordo, mas quanto a mim e aos outros colegas de direcção, estamos aqui mais por aquilo que o Andebol fez por nós, do que para nos intrometer no trabalho dos jogadores e técnicos. É esse o sentimento que me prende ao Andebol. Mais que a adrenalina do jogo, a minha preocupação é a estrutura do clube e assegurar o seu futuro. É também um pouco, o sentido de responsabilidade perante a comunidade. Gosto de olhar para trás ou para o lado e ver que faço alguma coisa pela sociedade. Abracei este projecto que permite através do meu trabalho e do dos meus colegas, que haja a possibilidade de 200 miúdos poderem praticar Andebol. Não quer dizer que não haja momentos menos bons e que não nos apeteça largar, porque vamos encontrando muitas dificuldades. Hoje, as pessoas estão todas ao nosso lado, também porque veem o projecto a desenvolver-se e a ter algum sucesso, como a subida ao escalão maior do Andebol português”.

José Oliveira avisa que o trabalho feito ultrapassa a barreira do associativismo: “Acho que estamos num patamar mais elevado. Associativismo seria um pouco como se tivéssemos um ou dois escalões, que ao fim de semana faziam uns jogos para se divertir. No Povoa Andebol, temos duas ou três reuniões por semana, dirigentes em todos os treinos, temos directores de escalão a acompanhar os miúdos e, ainda dois autocarros, que já são poucos para as necessidades. Há, por isso, um conjunto de exigências a nível organizacional que vai para além do associativismo, isto é quase uma empresa”.

O crescimento do Povoa Andebol começa a precisar de casa própria: “O nosso problema está identificado. Queremos que esta equipa sénior seja uma referência para os miúdos e para o clube, a nível nacional. A cidade do Porto e zona da Maia têm dezenas de clubes de Andebol. Ou seja, há ali um grande viveiro de miúdos que vão passando entre os clubes, assim como treinadores ou dirigentes. Aqui perto, há apenas dois clubes de Andebol, em Azurara e Macieira. Na mesma cidade só temos o nosso. Depois, a Póvoa é uma cidade de desporto, com um grupo de opções muito alargado. Por isso, exige dos clubes uma aposta forte na catação de miúdos. Achamos que é fundamental, dentro do trabalho que estamos a fazer, quer na formação, quer na equipa sénior, venha daqui a uns anos a ter aquilo que necessitamos que é um espaço próprio”.

Um Pavilhão e uma Academia Para Fazer Jus à Formação

 “Temos uma dificuldade muito grande que tem penalizado a formação, um número reduzido de treinos por falta de instalações. Os pavilhões onde treinamos também têm outras actividades, daí a incerteza na sua ocupação. Temos miúdos que partilham o mesmo espaço com outro escalão. É uma lacuna que temos no nosso clube. Já apresentamos um projecto ao município que, foi anunciado oportunamente. É um projecto muito interessante, que passa por termos uma Academia de Andebol para apostarmos na formação e um Pavilhão. Quando isso acontecer, passamos a ter melhores condições, um clube mais abrangente e, com outros sonhos. Recordo que fomos Campeões Nacionais de Juvenis e mais recentemente em Infantis, mas também Campeões Regionais de Juniores. Em termos de formação, temos tido muito bons resultados com vários atletas a ser chamados à selecção”, congratula-se José Oliveira.

A formação vive também da possibilidade de conciliar os estudos com o Andebol: “Temos miúdos que hoje têm disponibilidade, conseguem conciliar com a escola, mas na idade de júnior, com a passagem para a Universidade muitos optam por estudar, principalmente quando são colocados longe. Temos que pensar que o Andebol sendo uma opção de vida não deixa de ser secundária. Primeiro estão os estudos e o futuro como profissionais. O Carlos Moreira, seguramente será o Guarda-redes principal da equipa sénior e vem da nossa formação. Penso que uma casa própria para o Andebol, com a possibilidade de treinar todos os dias, assegurava a continuidade dos atletas. Ou seja passa muito por ter um Pavilhão”.

Conheceram o Andebol como praticantes e agora como dirigentes: “No nosso clube a figura do presidente, do vice-presidente, do coordenador, mistura-se com outras figuras. Atente-se no que aconteceu na Nazaré, onde todos nós nos multiplicamos a tratar do alojamento, das inscrições, onde comer ou onde comprar fruta. Queríamos que os atletas estivessem tranquilos para os dois jogos que nos levariam à 1ª divisão. Essa figura no nosso clube mistura-se, qualquer um faz de oficial de mesa, director de campo ou alguém para conduzir a carrinha. Vamos para ‘Os Dias no Parque’ e somos muitas vezes nós dirigentes que vendemos os nossos produtos. Acabamos por criar um espírito de equipa. Reconheço que o facto desta equipa directiva ser composta por antigos andebolistas, ajuda a perceber melhor o que é o clube”.

A ansiedade poderia deitar tudo a perder numa equipa que partiu como favorita: “Passamos sempre este sonho da subida aos atletas e queríamos que fosse por eles partilhado. Conseguimos o objectivo. Temos atletas com alguma idade e uma larga experiencia incluindo na 1ª divisão. O Humberto Gomes é o segundo guarda-redes da Selecção nacional e um dos mais internacionais do Andebol. Os jogadores passaram a fazer parte da memória do clube, porque conseguiram colocar-nos na 1ª divisão. Na Póvoa, o último ano em que o Andebol esteve nesta divisão foi há 37 anos”.

O momento de paragem devido à pandemia, numa equipa que apostou na subida chegou a assustar, revelou José Oliveira: “Se estivéssemos completamente fora da subida, a pandemia não deixava de ser triste, porque parava a actividade, mas ficávamos resignados. Mas, acontece que liderávamos o campeonato no momento da paragem e ficamos frustrados quando anunciaram uma Liguilha para disputar a subida. Achamos injusto, porque na 1ª divisão decidiram atribuir o título ao FC do Porto, que liderava quando os campeonatos foram interrompidos. O mesmo deveria ter acontecido na 2ª divisão. Estávamos com algum receio, porque a Liguilha já não ia ser disputada pelos mesmos jogadores com que tínhamos terminado o campeonato. Reforçamos a equipa, mas também saíram jogadores importantes. Sabíamos que a Sanjoanense se reforçou com sete jogadores novos. Foi realmente um jogo equilibrado, mas vencemos bem. O Almada mostrou-se uma equipa bem mais frágil”.

A Importância de ter na Póvoa um Pavilhão Municipal    

A Autarquia nunca rejeitou trazer grandes jogos de Andebol, ao nível de selecções, tendo como palco o Pavilhão Municipal. Esta opção acaba por promover a modalidade: “É muito positivo o apoio do município ao desporto. Sou primo do presidente da Câmara, mas há uma coisa que digo muitas vezes ao presidente – eu não quero é que o Povoa Andebol seja prejudicado. Fique bem claro que em todo este trabalho, que os críticos podem insinuar que acontece porque o presidente da Câmara está por trás, não é verdade. O presidente está ao nosso lado, o que é bem diferente. Quero dizer que a forma de Ele actuar nestas coisas, para mim é uma referência. Eu estava a caminho de Lisboa para um congresso da minha instituição e ligou-me o vice presidente da Federação, a dizer que gostava muito de vir à Póvoa fazer a fase final do Campeonato do Mundo, porque tinham jogado na Póvoa um mês antes e foram felizes. Fiz um telefonema, expliquei a situação ao Presidente Aires Pereira, aprovou de imediato porque era muito bom para a Póvoa, para o Andebol e para o Desporto. Mais uma troca de telefonemas e confirmei a vinda das selecções”.

José Oliveira não tem dúvidas que foi uma boa propaganda para o Andebol: “O Pavilhão Municipal esteve completamente cheio, com mais de 2000 pessoas. Toda a gente se lembra que no Desportivo da Póvoa os jogos de Andebol enchiam sempre o seu pavilhão. Queremos também um Pavilhão em nosso nome, para que os poveiros possam acompanhar os jogos das nossas equipas. Actualmente, não temos casa e, por isso, as pessoas não sabem se vamos jogar em Beiriz, se no Pavilhão Municipal ou na Escola, isso afasta o público, mas temos que continuar a fazer o nosso trabalho”.

A equipa depois da subida, teve pouco tempo para respirar: “As portas do campeonato da 1ª divisão já se abriram, mas estamos preparados. Temos uma pessoa que está a liderar o escalão sénior que é o José Henrique, um profundo conhecedor e um ex. atleta. Fomos buscar um grupo de pessoas experientes ao nível de jogadores, mas também um treinador muito experiente, o Jorge Carvalho, que subiu o Boavista `1ª divisão e agora o Póvoa Andebol. Depois temos o treinador adjunto Pedro Santos também com uma larga experiencia, e com grandes conhecimentos técnicos ao nível do Andebol. Temos um treinador de guarda-redes que trabalha também com a selecção nacional e a parte de vídeo e análise de jogos. Todos os escalões têm um director, um treinador principal e um adjunto. Com a pandemia temos uma incerteza muito grande que é a utilização dos pavilhões e isso está a preocupar. Estávamos a contar com a receita do público nos jogos e isso não vai acontecer. Neste momento, estamos a contactar as equipas principais no sentido de fazer a inversão dos jogos para que venham visitar-nos em 2021 e aí poderá, quem sabe, haver público. Acreditamos que a pandemia acabará por ter uma solução”.

A finalizar, José Oliveira diz que a principal aposta na 1ª divisão, é a manutenção: “Acreditamos nessa possibilidade, sabendo que não vai ser fácil. Depende sempre de alguns jogos. Nem sempre o favorito ganha, basta que um jogador ou dois não estejam nos seus dias. O nosso objectivo é a manutenção, mas não descuramos um lugar mais cimeiro. O sonho foi sempre um bom alimento”.

 

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