Voz da Póvoa
 
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Naval Povoense um Clube Entre a Cidade e o Mar

Naval Povoense um Clube Entre a Cidade e o Mar

Desporto | 12 Agosto 2022

O mar desenhou na nossa memória uma trajectória de fascinação por esconder do outro lado o achamento. Este ser vivo feito de água, sempre serviu de contemplação e de alimento ao humano que lhe habita as margens. Do divertido prazer de se banhar, mergulhar descobrir as marés, vencer as ondas e navegar, nasceram dezenas de desportos náuticos.

Não será de admirar que, na Póvoa de Varzim a mais antiga agremiação desportiva, cultural e bairrista tenha surgido em terra com os olhos no mar. Em 1904 nascia nesta pequena vila o Clube Naval Povoense (CNP), com a intenção de promover regatas, natação e o remo, sem descorar, entre os associados, o seu desenvolvimento físico e intelectual. Daí a criação de uma biblioteca em nome próprio. Actualmente, pratica as modalidades de Vela, Bodyboard, Pólo Aquático, Natação, Pesca Desportiva do Alto Mar e actividades Subaquáticas. Fundado por António Santos Graça, o CNP foi agraciado com a Medalha de Ouro de Reconhecimento Poveiro e reconhecido como Instituição de Utilidade Pública e Desportiva.

Paulo Manuel Braga Vieira Neves nasceu no Porto, em 1961, ainda contava um ano de vida e fez-se poveiro. Como velejador no Clube Naval, foi atleta federado de Windsurf e chegou ao 7º lugar no Ranking Nacional. A sua ligação ao Clube Naval Povoense levou-o à Presidência, lugar que ocupa há mais de duas décadas.

Embora o vírus continue a infectar, a normalidade voltou ao desporto e à vida das pessoas, “conseguimos manter o número de atletas mesmo com a paragem em tempo de pandemia. As nossas modalidades desportivas foram das primeiras a ter permissão para voltar à actividade. Os atletas do Bodyboard foram para a praia praticar, numa altura em que as pessoas estavam proibidas de a frequentar. De certa forma, acabámos por ser beneficiados com as medidas restritivas, estivemos pouco tempo impedidos de praticar. Aconteceu uma curiosidade, o Instituto Português do Desporto e Juventude atribuiu um subsídio aos clubes que tinham perdido atletas por causa da pandemia. Nós candidatamo-nos e fomos contemplados com uma pequena verba porque ao contrário dos outros clubes, durante a pandemia crescemos em número de atletas”.

O Bodyboard, segundo Paulo Neves, foi mesmo uma das modalidades em destaque e que fez crescer o número de praticantes: “Joel Rodrigues ao sagrar-se vice-campeão do Mundo de Bodyboard teve um enorme impacto na comunidade escolar. De um momento para o outro saiu do anonimato e passou a ser uma referência para os jovens da sua idade, assim como o clube, que além da actividade desportiva saudável começa também a apresentar resultados. O bom ambiente que proporcionamos e a qualidade que oferecemos, leva os pais a procurar o clube para inscreverem os seus filhos, nesta ou naquela modalidade. Depois, os miúdos acabam por ter uma experiência em cada modalidade de forma a encontrarem aquela que se identificam melhor”.

Muitos pais com filhos em idades tenras, procuram o clube: “A nossa condição única é saber nadar. Hoje em dia, as crianças evoluem rapidamente e aparecem no clube com 5 e 6 anos. Primeiro vêm sentir o ambiente e dar uma volta no barco de apoio no porto de abrigo. Depois contactam com miúdos que já se entendem com o barco e a navegação. No segundo ano já se inscrevem para praticar de forma regular. O primeiro contacto com a água é muito importante, uma má experiência pode resultar na perda definitiva de um futuro atleta. Também temos um programa de férias desportivas e os miúdos vêm passar aqui uma semana, quinze dias ou um mês. A ideia passa por proporcionar-lhes uma nova experiência ou um desafio para uma prática futura”.


A Vela do Passado quer Agarrar o Vento do Futuro  


“A vela no Desporto Escolar começou nos dois concelhos, Póvoa de Varzim e Vila do Conde. Havia uma parceria entre o remo, a canoagem e a vela. Fizemos um acordo com o Ministério da Educação, em que os miúdos das escolas dos dois concelhos que quisessem praticar remo e canoagem iriam para o Fluvial Vilacondense e os que quisessem experimentar vela vinham para o Clube Naval Povoense. Temos recebido cada vez mais escolas. No ano passado, tivemos 300 miúdos, tanto no Desporto Escolar como a Escola no Mar, um outro projecto que temos e que vamos alargar no próximo ano lectivo à natação, nesta modalidade vamos começar só pela Póvoa”. Paulo Neves recorda que, “a atleta do Clube Naval Povoense Anastacia Kovalchuk foi campeã nacional de Juvenis do Desporto Escolar na classe Laser Pico”.

Também Serafim Gonçalves tem conquistado títulos na vela além-fronteiras “é nosso atleta há muitos anos e optou por uma carreira na Galiza. A Espanha em geral está muito avançada na vela em relação ao nosso país. A criação, por um antigo Rei, dos Real Clubes Náuticos espanhóis, levou muita gente para a prática da vela. Como é sabido as Rias galegas oferecem condições excelentes para a prática da modalidade e todas as semanas são organizadas regatas, o que não acontece no norte de Portugal, onde há muito poucas regatas na classe Laser. Serafim Gonçalves optou por praticar vela de competição num local onde para além de haver regatas todos os fins-de-semana, tem também muitos praticantes inscritos, com 30 ou 40 atletas. Em Portugal isso não acontece. É o atleta nacional federado com mais regatas”.

Falar da classe IOM, embarcações de um metro de comprimento, será o mesmo que imaginar como brincar competindo: “São barcos radio-comandados. O rádio mexe só a vela e o leme, o que faz andar o barco é o vento. As regras das regatas são as mesmas da vela tradicional. Há apenas 4 ou 5 alíneas que se prendem com o facto de ser um barco telecomandado, onde pode haver uma perda de sinal de rádio. Alguns dos nossos atletas mais velhos que deixaram de velejar em barcos tradicionais no mar, para não perderem esta ligação, começaram a praticar vela nestas embarcações. Neste momento, estamos a inverter as coisas com uma frota de miúdos em iniciação a experimentar essas embarcações. Estão a aprender regras mais facilmente que no mar, de onde vem o vento e a sua intensidade, se estão muito arribados ou não. Juntamos os mais velhos com os mais novos. Depois, seguem a vela tradicional normalmente”.

Paulo Neves diz que na classe de vela o clube só não tem nas embarcações maiores que obrigaria a um investimento não suportável: “Temos as principais, ou seja, quase todas. A nível nacional existem várias classes de vela, mas os atletas estão muito dispersos e acaba por existir poucas regatas. É uma luta antiga em Portugal, fazer concentrar as embarcações em duas ou três classes para podermos ter mais regatas e com mais atletas”.

Ainda com o mar no horizonte a equipa de pesca desportiva do Naval Povoense tem vindo a amealhar títulos nacionais: “No desporto e na vida temos que ter sorte, mas eles quanto mais praticam mais sorte têm. A pesca, apesar de tudo, tem muito saber, não é meter o isco e o peixe vem morder o anzol. A pesca desportiva tem sido o resultado do que nós fazemos nas outras modalidades, tentamos sempre dar aos atletas as melhores condições possíveis para a prática da modalidade e os resultados aparecem”.

O Pólo Aquático é outra modalidade que tem no seu percurso a conquista de vários títulos. Recentemente, a equipa de Sub20 venceu o título nacional e a de Sub18 o título Regional. “Nos escalões de formação temos conquistado alguns títulos e boas classificações. O reverso da medalha é quando os jovens chegam aos 18, 19 e 20 anos, e por força da entrada no mundo do trabalho ou das universidades, deixam a prática da modalidade, seja ela qual for. Acontece que obriga a ter os fins-de-semana todos ocupados com deslocações, daí uma maior desistência nessas idades. Outros começam a constituir família e deixam de ter possibilidade de continuar a praticar um desporto pela sua exigência. Podemos tirar um curso superior e praticar um desporto federado, mas tem que haver muita força de vontade”.


Uma Equipa de Profissionais Apoia a Náutica de Recreio


Como conviver com duas marinas. Há agora mais embarcações. No entanto, Paulo Neves diz que o clube tem uma equipa de profissionais que consegue dar bem conta do recado. A nova marina trouxe as embarcações para a frente marítima da cidade, o que não acontece com a outra, embora não esteja longe. Os utentes e os turistas dão meia dúzia de passos e estão no coração da Póvoa. Sendo uma marina nova, logo os equipamentos são melhores e a zona envolvente é mais bonita e atractiva. Acresce que a nova marina permite a amarração de barcos de maiores dimensões que podem cá ficar o ano todo e é o que está a acontecer, logo pagam mais. Quando estavam atracados na marina Sul, chegavam a Setembro ou Outubro e tínhamos que os mandar embora devido à ressaca. Durante a pandemia entraram poucos barcos, mas também não saíram, o que permitiu manter praticamente a mesma receita”.

E acrescenta: “Temos milhares de turistas que entram pelo mar vindos de dezenas de países dos quatro cantos do mundo. A Póvoa precisa deste turismo náutico de qualidade. Estamos a falar de famílias inteiras que nos chegam do mar. O mundo náutico de recreio mundial já fez a Póvoa entrar no circuito. Temos embarcações que chegam directamente da América do Sul à Póvoa, dos Açores ou da Madeira. A maioria são embarcações do Norte da Europa que fazem este trajecto à volta da Península Ibérica rumo às Caraíbas ou ao Mediterrâneo. A Póvoa de Varzim com a tradição de cidade de mar, antigamente mais ligada à pesca, continua a fazer história numa nova vertente que é a Náutica de Recreio.

O barco solar adquirido pelo CNP vai proporcionar a experiencia de um passeio dentro da bacia do porto de abrigo, conhecer a parte profissional da pesca, mas também de lazer, as marinas: “Estamos na fase de divulgação. Para fazermos os passeios de uma forma legal a embarcação teve que ser licenciada como marítima-turística. Só agora conseguimos ter o barco legalizado e autorizado a fazer passeios a cobrar. Como queremos fazer uma coisa com alguma continuidade e regularidade temos que ter um marinheiro pago. Penso que será uma experiência muito boa para muita gente. O passeio é numa embarcação do futuro. É um projecto e uma construção nacional 100% ecológica, uma curiosidade e um atractivo para muita gente”.

Um clube desta grandeza, para Paulo Neves tem que ter sempre objectivos e sonhos: “Gostaria que o clube com receitas próprias fosse auto-suficientes, isto para não honorar a Câmara Municipal e o cidadão em geral porque de alguma forma os subsídios são pagos por todos. Os subsídios que recebemos da Câmara Municipal e do Turismo de Portugal são para ajudar as famílias que pagam apenas metade do custo que o atleta na realidade representa. Temos famílias que têm dois e três filhos a praticar desporto no clube o que mexe bastante no orçamento familiar. Temos uma quota atleta que é paga pelos pais para ajudar nas despesas que temos com a prática desportiva, mas estamos atentos, se nos apercebermos da dificuldade, não pagam quota atleta. Fazemo-lo de uma forma discreta. Neste momento, estamos a receber crianças refugiadas da Ucrânia que estão a praticar modalidades no clube a custo zero”.

Quanto aos sonhos: “Ter uma piscina com dimensões para podermos fazer os jogos em casa de Pólo Aquático e treinos, libertando a piscina Municipal para a natação. De resto temos todas as condições para a prática das outras modalidades, uma praia imensa, um mar imenso, vento e um excelente posto Náutico”.

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