Voz da Póvoa
 
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Construir no Presente o Futuro do Desportivo da Póvoa

Construir no Presente o Futuro do Desportivo da Póvoa

Desporto | 9 Abril 2022

A história conta-nos que a 26 de Dezembro de 1943, um grupo de jovens decidiu formar um grupo de futebol e sobre o lema “Ao Serviço do Desporto, da Cultura e da Póvoa”, fundaram o Clube Desportivo da Póvoa. Anos depois, a bola deixaria de rolar nos pelados de então, mas outras modalidades começaram a ser praticadas e compuseram a memória de troféus, conquistas e títulos, erguendo na cidade o mais eclético clube desportivo.

Em resultado das eleições a 10 de Fevereiro, Sérgio Filipe da Silva Duarte assumiu a presidência do Clube Desportivo da Póvoa (CDP). Médico de profissão, iniciou a prática desportiva aos 11 anos no clube, e aos 43 ainda integra o plantel da equipa que participa na Liga de Basquetebol, com os maiores clubes da modalidade.  

“Por convite de uns amigos fui a um treino e a partir de 1990 até aos dias de hoje, nunca mais deixei de praticar. São estes anos todos de amor ao clube e ao desporto. Sou ainda atleta federado da equipa sénior masculina. Encesto menos agora, mas continuo a treinar. Até assumir as responsabilidades directivas no clube treinava todas as semanas e participava em todos os jogos”, revela Sérgio Duarte.

A chegada ao topo do Basquetebol ao nível dos campeonatos aconteceu primeiro numa passagem pelo Basquete Clube de Barcelos: “Representei há cerca de 8 anos atrás, com o professor José Ricardo, como treinador. Fizemos um trajecto parecido com este no CDP. Desde a CNB1 (terceira divisão), à Proliga e depois à Liga. A última época que lá joguei, terminámos em terceiro lugar. Aqui é diferente porque se trata de um vínculo afectivo. Comecei com 11 anos, fui conhecendo várias gerações de atletas, treinadores e dirigentes. Foi um trajecto que me deu a conhecer a essência, os valores e os princípios do Clube Desportivo da Póvoa. Uma relação de amor para a vida”.

Para Sérgio Duarte, entre a simples preparação física e a alta competição, a prática desportiva é sempre saudável: “Quando o desporto é feito na base do empenho da disponibilidade física, do compromisso, da honra, por mais desgastante ou exigente que seja, o corpo acaba por se adaptar. Tenho 43 anos e ainda consigo acompanhar um treino de seniores com jovens que estão na plenitude do exercício físico. Passa por uma questão de disciplina, de hábitos de vida saudáveis. O corpo é uma máquina de desgaste rápido, se o preservarmos, tivermos os cuidados com o descanso, a alimentação, se nos prepararmos fisicamente e nos protegermos, o desporto é sempre saudável e recomendável, não só do ponto de vista físico, mas também da estrutura da nossa personalidade. Um grande atleta de competição por norma é uma pessoa disciplinada”.

Na viagem de jogador não estava prevista a de presidente “Honestamente, nunca tive ambições de ocupar um cargo desportivo no clube. Tenho com o clube uma relação de amor desinteressada, que surgiu muito cedo. Nunca ganhei um tostão nem pretendo ganhar. Enquanto jogador ofereceram-me dinheiro para jogar no Desportivo da Póvoa e recusei de imediato. Como treinador, honestamente, nunca tive jeito nem ambição, nem sequer tinha tempo para tirar as formações necessárias. Como atleta, o clube foi sempre precisando de mim e há cerca de seis anos atrás idealizei um projecto com mais uma ou outra pessoa, mas nessa altura embora me tenha retirado, acabei por atender ao pedido de voltar a ficar disponível para jogar”.

E acrescenta que ter chegado à presidência do CDP, “foi um chamamento. Idealizei um projecto e com as pessoas certas e uma exigente celeridade construímos esta nova direcção. Na realidade fui sempre dizendo que sim ao clube, enquanto atleta, enquanto capitão de equipa, e mais recentemente, um espírito de missão, um apelo ao qual não poderia dizer não. Honestamente não estava a contar, mas viam em mim a pessoa indicada para liderar um projecto e não podia defraudar o clube nem esta gente que me acompanhou, os atletas, os associados, a cidade. Tenho uma vida exigente e preenchida do ponto de vista profissional e familiar, mas não poderia virar as costas numa fase tão complicada que o clube atravessava e que é pública”.

Todas as Modalidades no Mesmo Ângulo de Visão

O CDP não tem uma modalidade rainha: “Somos o clube mais eclético e abrangente da cidade, sendo que a nossa realidade e essência é a formação. Damos a oportunidade primeiro aos miúdos da Póvoa para praticar desporto e progredir, seja no Judo, Basquetebol, Voleibol, Hóquei Patins, ou outra modalidade. A partir daí, o desenvolvimento acaba por ser uma consequência. Há fases em que há oportunidade das equipas se expandirem e singrarem. Há dois anos atrás foi o Voleibol que esteve na 1ª divisão, ainda que por um curto período de tempo. Há cinco ou seis anos atrás foi o Hóquei Patins que esteve na 1ª divisão, há 10 anos tivemos a equipa sénior feminina de basquetebol que jogou competições europeias e foi campeã nacional. Neste momento, temos uma equipa na Liga de Basquetebol. Os atletas descendem da nossa formação e vão alimentando as equipas seniores. Há gerações com elementos mais dotados técnica e fisicamente para determinada modalidade e as equipas beneficiam com isso. A actual geração da equipa de basquetebol é de ouro, temos jovens com muita qualidade, reforçada pela experiência de outros. Este confluir de gerações proporciona alta competitividade e competência a uma equipa, neste caso é o basquetebol, já foi o vólei, já foi o hóquei e espero que voltem a ser novamente. Quando entrei nos infantis, olhava para a equipa sénior e via ali o meu objectivo. Todos os miúdos querem um dia representar o Desportivo da Póvoa na equipa sénior”.

Uma modalidade que desenvolve a sua actividade num escalão superior é sempre um factor extra de motivação para uma criança querer praticá-la: “Neste momento, o Basquetebol é a modalidade com maior visibilidade. A equipa está há um ano na Liga profissional, mas os pavilhões já se enchiam há três ou quatro anos, descontando a pandemia. Joguei muitas vezes com o pavilhão cheio. A história tem muito peso na escolha e o Desportivo tem história em várias modalidades, acresce ainda as influências dos familiares que praticam aqui uma modalidade. O espectáculo que proporcionamos numa competição de grande nível, onde defrontamos os melhores jogadores nacionais e por vezes internacionais, obviamente é um factor de alento e de impacto positivo para um miúdo decidir jogar basquetebol”.

É sempre positivo um atleta entrar na universidade, uma situação que pode não ser compatível com a prática desportiva no clube, mas Sérgio Duarte acredita que há sempre solução: “Obviamente, a localização do ponto de vista académico poderá não corresponder e não ser compatível a uma actividade de treino e de jogo, aí sentimos alguma dificuldade, mas há sempre uma alternativa. Eu encontrei a minha há mais de 20 anos e continuei a treinar e a jogar no Desportivo. Temos na nossa equipa sénior vários alunos universitários exemplares que não faltam a um treino. É uma questão de disciplina. Tive um professor na faculdade que dizia que o tempo dá para tudo até para estudar. Alguns não conseguem conciliar mas no final do curso voltam a representar o clube. Temos que ter prioridades, o clube é também uma mais-valia para a vida. Nunca conseguirei retribuir o que o Desportivo da Póvoa me deu até hoje. Conheci os meus melhores amigos no clube e aqui passei as melhores memórias”.

A intermitência dos últimos dois anos com campeonatos suspensos e a ausência de público, foram para Sérgio Duarte momentos de profunda tristeza: “Foram situações muito delicadas que nos retiraram o mais puro que temos, a liberdade. Ver o pavilhão vazio, a prática da modalidade e treinos cancelados. Equipas a querer treinar e não ser permitido, foi com profunda mágoa e desgaste que assisti a tudo isso. Infelizmente, muitos atletas, uma realidade nacional, acabaram por abandonar algumas modalidades, mas a prova que o desporto é vitalidade, com a retoma, temos cada vez mais procura. Podemos dizer que está a ser ultrapassada uma fase que foi demasiado sombria”.

É Urgente Revitalizar as Estruturas Desportivas do Clube

Como gerir algumas centenas de atletas, várias modalidades e escalões, treinos e jogos: “Só é possível com rigor e recursos humanos. Actualmente, estamos numa fase de completa reestruturação do clube, essencialmente baseada no rigor e numa maior disciplina relativamente à distribuição de espaços de treino para as modalidades. Quanto mais oportunidades dermos aos miúdos da nossa cidade melhor. Estando no pavilhão a treinar já não estão com os ecrãs à frente dos olhos ou a ser desencaminhados para atitudes menos favoráveis. Cabe-nos a nós dotar o clube com uma infraestrutura que seja capaz de dar resposta. Neste momento temos algumas secções que estão plenas de capacidade em aceitar novos praticantes, outras não. O nosso desafio é que as modalidades que ainda não têm essa capacidade, a consigam. Queremos que as modalidades todas cresçam e estamos aqui para organizar todas as estruturas e recursos humanos necessários para dar essa resposta”.

O Plano de Pormenor da Zona E54 engloba a Praça de Touros, o estádio e campo de treinos do Varzim Sport Club e a área desportiva e instalações do Clube Desportivo da Póvoa, prevê a construção de um novo pavilhão para o Clube “Neste momento, as nossas estruturas estão completamente degradadas, precisamos reabilitar tudo o que é estrutura do Desportivo da Póvoa, desde os ginásios, pavilhão ou sede. O E54 pode ser uma excelente oportunidade para o clube revitalizar-se do ponto de vista das infraestruturas. Está prevista a construção de um pavilhão, e sabemos que no Plano há uma certa abertura para pequenas flexibilizações ao que está aprovado, mas ainda não debatemos esse assunto. Tem a ver com questões de pormenor dentro das infraestruturas desportivas, mas o Presidente da Câmara demonstrou essa flexibilidade e disponibilidade para sugerirmos alterações que fossem mais vantajosas. Faremos oportunamente as sugestões, mas agora estamos ainda num processo de percepção do estado que o Clube se encontra”.

Transporte, deslocações, os apoios da autarquia não chegam, é preciso procurar outros apoios. Uma equipa mais forte e competitiva é sempre uma mais-valia para captar novos patrocinadores “A visibilidade de uma modalidade tem consequência imediata na imagem e no patrocínio de quem está à nossa volta, não por interesse, mas muitas vezes por lembrança. Relativamente aos transportes é uma questão muito sensível. Encontrámos uma situação insuficiente e degradada. Estamos num plano de revitalização dos transportes. É nossa intenção, a médio longo prazo, proporcionar transportes adequados aos nossos atletas, mas neste momento vivemos de parcerias. Temos viaturas próprias que alimentam, dentro do possível, o transporte dos nossos miúdos para os jogos ou treinos e temos também apoios de patrocinadores. O Hospital Luz Saúde ajuda no transporte da equipa sénior, a Junta de Freguesia da Póvoa disponibiliza uma carrinha para levar os nossos miúdos aos jogos. Temos também um protocolo com o Grande Colégio que nos ajuda nos transportes. O Desportivo da Póvoa é uma instituição querida, desde que tomámos posse não houve uma porta que estivesse fechada e toda a gente ajudou no que pôde. Estamos a procurar portas cada vez mais abertas para suprir as nossas necessidades”.

Devolver o Clube aos Sócios e à Comunidade Poveira

“Queria que os sócios e a comunidade tivessem amor ao clube, para recuperar isso temos que dar resposta às necessidades de todos os sócios. Os sócios têm que vir ao clube e fazer parte dele, do seu dia-a-dia. Isto vive de sócios e de pessoas que contribuem para o clube com a sua presença. O meu sonho é ver o Clube Desportivo da Póvoa a proporcionar formação e oportunidade aos atletas, vincada por princípios e valores que aqui transmitimos diariamente”, assume Sérgio Duarte.

A nova direcção apostou numa campanha de angariação de sócios” “É um processo dinâmico e de médio longo prazo. O Desportivo da Póvoa, como muitos outros clubes, vive dos sócios e felizmente temos os melhores, que estão a responder à chamada e a ajudar, estamos gratos por isso. Temos um plano de ofertas e vantagens para os sócios, queremos os que já o foram no passado, os presentes e os futuros. Estamos a criar condições para que isso aconteça. Temos que reconhecer e retribuir aos sócios o que deram e continuam a dar ao clube. Queremos também ter a massa associativa a praticar o dia-a-dia e a viver o clube connosco”.

O presidente do CDP pretende nos próximos anos reforçar o número de modalidades: “Primeiro queremos ter o clube revitalizado do ponto de vista financeiro e estruturado, um trabalho que temos que fazer. Depois, queremos que o clube seja cada vez mais eclético. Percebemos que durante alguns anos foram perdidas algumas oportunidades e queremos devolvê-las. Vamos criar uma secção de jogos tradicionais como a Petanca, as Damas e os jogos de Cartas, para que os sócios mais velhos possam passar o seu dia-a-dia no clube. Pretendemos fazer as captações na comunidade, na escola, dar a conhecer o clube aos mais pequenos para que tenham a oportunidade de nos virem conhecer, e ter uma educação e um percurso vinculado a hábitos de vida saudáveis num clube que lhes vai transmitir princípios e rigor na sua personalidade”.

E acrescenta: “Neste momento as secções estão atentas ao desenvolvimento e exigências desta época. Durante o Verão onde supostamente há um interregno da actividade competitiva, é um tempo fundamental para estruturar e preparar a próxima época. Estamos permanentemente à disponibilidade do clube porque quem corre por gosto cansa menos”.

Em relação ao processo a decorrer em tribunal contra a Câmara Municipal, deixado em mãos pela anterior direcção do CDP, Sérgio Duarte assume: “Estamos a analisar e a tentar perceber o processo e o seu desenvolvimento. Obviamente, sabemos que há um litígio com a autarquia e a empresa que fez o contrato com a antiga direcção. Estamos atentos às premissas de todo esse processo e a observar o seu desenrolar jurídico”. 

Quanto ao ambiente de camaradagem com outros clubes poveiros: “Pela experiência que eu tenho, é muito saudável. Alguns presidentes estiveram na tomada de posse desta direcção, a relação e a vontade de ter uma proximidade entre as colectividades é de salutar. Um dos nossos desafios é aproximar as comunidades numa interacção entre todos. Estivemos recentemente no Varzim, na tomada de posse dos Leões da Lapa e estaremos com todo o gosto em outras colectividades”.

Uma sala cheia na apresentação pública da direcção é motivo de orgulho e responsabilidade para Sérgio Duarte: “É um grande desafio. Se tínhamos as expectativas elevadas, ficou patente nesse mesmo dia que os sócios do Desportivo da Póvoa honram os pergaminhos e a história do clube. No passado recente houve alguma quebra entre os sócios e o clube, sentimos a necessidade de reaproximar os sócios do clube e da comunidade poveira. É uma responsabilidade acrescida e um prazer muito grande”.

Por: José Peixoto

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