Voz da Póvoa
 
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A Aposta na Formação é a Escola do Futuro

A Aposta na Formação é a Escola do Futuro

Desporto | 15 Fevereiro 2023

 

Ver no chão do mar como peixes na água, gente a crescer ou crescida, esperando o erguer da onda para depois sobre ela deslizar, rodar, saltar, dançar ao ritmo do mar, é olhar na praia da Salgueira os campeões e os futuros, a exibir a pele do Clube Naval Povoense ou o mais velho clube a apostar num dos desportos mais jovens, o bodyboard.

 Rui Nuno Gameiro Couto de Campos nasceu em 1977, na Póvoa de Varzim. É professor de Educação Física na Escola Camilo de Castelo Branco, em Famalicão. Começou a praticar o Surf e Bodyboard desde os 15 anos: “Há cerca de 20 anos tirei o curso de treinador e tenho exercido em paralelo com a prática. Ensinar é passar a nossa experiência e conhecimento e depois trabalhar as partes técnicas, físicas e tácticas. Não é só no futebol, nas nossas provas também temos muitas tácticas e como sou professor não foi difícil passar estes ensinamentos para os jovens praticantes”.

As exigências por escalão diferem das idades: “como é natural, os mais pequeninos praticam em ondas mais pequenas e competem só ao nível regional em Portugal. Os mais velhos começam a surfar ondas maiores, no mar português, mas também no estrangeiro, nomeadamente nas Canárias onde acontecem muitas provas europeias e mundiais, porque tem ondas muito boas. As manobras vão também evoluindo com a idade, até aos seniores”. 
 
Para Rui Campos a base alimentar de um atleta é importante, mas estar bem hidratado é fundamental, “como estamos muito tempo ao sol temos que ingerir muitos líquidos, água e outros. Quanto à alimentação, durante o dia as refeições são sempre muito ligeiras, massa, atum ou bife de frango. Só à noite é que podemos ingerir mais alimentos. As provas são entre as oito da manhã e as oito da noite, os atletas vão várias vezes para dentro da água e o estômago não pode pesar”.

Nem sempre o mar se oferece em onda, por vezes a semana que antecede a competição não foi propícia a treinar: “Quando isso acontece, temos que adaptar os treinos, que passam pela piscina da Varzim Lazer, que não sendo o mar, nos permite estar num meio aquático. Acontece também termos uma preparação muito boa e depois a prova é adiada por falta de onda ou o mar está em alerta vermelho, uma tempestade, e a prova é cancelada. Uma coisa que nos motiva neste desporto é que as coisas são sempre diferentes, as praias, as ondas, e temos que ter sempre um plano B preparado para essas eventualidades”.

Há o prazer de viver o mar, mas também a exigência de cada um em ser cada vez melhor: “Somos o clube que tem mais títulos de Bodyboard em Portugal. No ano passado, em oito títulos nacionais ganhamos cinco e alguns títulos e vice títulos internacionais. Estamos há 18 anos no Clube Naval Povoense, parece muito tempo, mas não deixa de ser uma modalidade recente. O presidente da direcção, tratando-se de um clube histórico e tradicional, acolheu esta jovem modalidade de forma exemplar, com todo o apoio necessário para os atletas competirem em Portugal e no estrangeiro”.

Trabalhar com campeões e com outros que têm essa ambição, é para Rui Campos, exemplificar a arte de saber que do outro lado está também um adversário com as mesmas motivações: “Os atletas vão bem preparados para as provas, mas depois o mar é quem manda ou não a onda certa e às vezes fica calmo algum tempo. Há sempre factores que não podemos controlar, só mesmo o que os atletas fazem. Na verdade, é mais difícil mantermo-nos no topo do que chegar lá. Tentamos lidar com a parte psicológica dos atletas, temos a ajuda de uma psicóloga que trabalha esses aspectos para quando as coisas não correm bem, eles tenham a capacidade para dar a volta por cima e na prova seguinte ou no ano a seguir, possam chegar à vitória, ao título. É um desporto muito ingrato, nas provas participam por vezes mais de 100 atletas e só ganha um. Por vezes o atleta que ficou em segundo lutava pelo primeiro e é difícil gerir isso”.

Ambição dos Atletas Requer um Maior Envolvimento das Empresas

“Temos a sorte do clube e a Câmara Municipal apoiarem os atletas, se assim não fosse não teríamos possibilidade de preparar uma viagem ao Chile, onde o nosso atleta Joel Rodrigues passou um mês em três provas. É fácil imaginar que é impossível um atleta suportar esses custos. Falta também apoios de empresas para complementar o apoio do clube. De momento, temos atletas muito bons, campeões nacionais, campeões da Europa, e temos que arranjar maneira de competirem ao mais alto nível porque eles merecem. A ajuda do clube é fundamental, mas vai ser preciso no futuro algo mais. Temos o Joel como expoente máximo, mas há mais 3 ou 4 atletas que, se lhes dermos oportunidade, podem chegar muito alto. Precisávamos de um maior envolvimento das empresas locais em apostar em determinados atletas”, reforça o técnico.

Analisar a travessia através do tempo é para Rui Campos, encontrar as mesmas dificuldades ou surpresas, mas é mais fácil fazer a preparação: “Há 20 anos era mais difícil chegar às imagens que, hoje, com facilidade obtemos através da internet. Agora, há mais treinadores para apoiar os atletas, melhor estrutura e organização nos clubes. Fomos sempre melhorando e tivemos um crescimento brutal, quer em número de atletas, quer de títulos ou campeões. Quando comecei a praticar, saía do bolso dos meus pais e também não tinha acesso a tanta variedade de materiais. Hoje até se conseguem bem mais baratos. Há muita concorrência”.

E revela a importância do visionamento de provas, “quando vamos para uma praia que desconhecemos, pesquisamos muitas provas e ondas dessas praias para nos apresentarmos minimamente preparados. Também fazemos observações dos adversários para perceber que ondas mais gostam e se a apanham pela direita ou pela esquerda. É também importante filmar os nossos treinos para os atletas se observarem a eles próprios. Depois, analisamos as imagens em conjunto e vamos mostrando ao atleta onde esteve bem e onde pode e deve corrigir. Ou seja, temos um naipe de tecnologias que nos permite fazer isso, e melhorar o rendimento”.

A prática do bodyboard começa a fascinar os mais pequenos. Rui Campos explica os primeiros passos: “Começa sempre pela adaptação ao meio aquático, pode ser a natação no CNP. As crianças que recebemos têm que estar adaptadas à água. Ou seja, não entrar em pânico, saber entrar na prancha vem por acréscimo. A Póvoa tem excelentes condições, todos os miúdos que nos chegam já andaram na natação ou têm contacto com a água. Como treinador vou muitas vezes para dentro de água para dar conhecimento e transmitir calma quando as coisas parecem mais difíceis para os miúdos. Temos que nos adaptar consoante as condições do mar. O treino é mais na água do mar, mas há treino na piscina e no ginásio. Naturalmente, sem mar não adianta estarmos muito bem fisicamente porque temos que saber o que fazer com uma onda”. 

Onde praticar ou a importância de dar ouvidos a quem sabe: “De Norte a Sul o país há praias e ondas espetaculares, temperaturas amenas e muito sol, o que é bom para a prática da modalidade. No geral, Portugal é o melhor país para praticar as modalidades aquáticas, só a temperatura da água, por vezes, não favorece muito. A praia da Salgueira é excelente para a competição, mas não para a aprendizagem porque tem muitas rochas. Na verdade, estamos numa cidade que tem todas as condições de praia para praticar e tem um clube que apoia incondicionalmente as modalidades de mar. Procurem-nos!”

Quanto ao futuro do Clube Naval Povoense, Rui Campos, não tem dúvidas: “Tivemos o campeão na categoria mais nova, os sub12, e temos o campeão na mais velha, a categoria dos seniores. Creio que vamos ter muitos anos de campeões e de bons resultados. Com o apoio da direcção do clube e com a nossa vontade não vejo outro horizonte que não seja de campeões”.

José Peixoto

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