A ideia partiu da vontade de entender os passos da comunicação entre Seres que para além da sua existência, pensam. No dia 3 de Dezembro, a Biblioteca Municipal Rocha Peixoto recebeu um workshop de escrita "Escreve aqui" em pasta de cerâmica, sob a orientação do artista plástico Manuel Horta.
Antes dos computadores a máquina de escrever, o papel, o papiro, a pasta de cerâmica, uma viagem das mãos pela escrita. Por isso, olhar o tempo no seu tempo foi o mote para uma conversa com o músico e jornalista José Peixoto e uma turma de alunos da Escola Secundária Eça de Queirós.
Uma guitarra, os dedos a escrever sons, melodias de afecto, palavras de entardecer na página, comunicação. Os sons explicam sentidos, falam da interioridade humana e reconhecidamente tornaram-se na primeira das artes.
Primeiro a luz para acender a existência, a razão. Depois o entendimento, a interrogação. Quando o ser humano na harpa dos sentidos observou a natureza, o ritmo do vento, a orquestração dos pássaros, inspirou o gesto a desenhar com as mãos gravuras e pinturas rupestres, que chegaram da mais antiga linguagem até nós.
Como explicar os sentidos: apurá-los primeiro.
Olhar, escutar, cheirar, apalpar e dizer. Para dizer escreva, para apalpar sinta, cheirar natureza, escutar todos os sons, olhar o mundo e interpretá-lo.
Durante cerca de uma hora foi possível comunicar sem a intromissão das novas tecnologias e recuar a um outro estar, onde as mãos voltam ao seu papel de criar.
No final, os alunos escreveram palavras e sentidos seus nas pastas de cerâmica que irão ao forno, pela mão de Manuel Horta, para serem vidradas em dupla cozedura e mais tarde mostradas.
A modernidade tecnológica nunca se libertará das mãos. O oleiro moldou o barro, depois o futuro.
Fotografia: Rui Sousa
