Sonia e Robert Delaunay foram dois pintores que marcaram a história da arte moderna e tiveram uma passagem significativa no nosso país, mais precisamente em Vila do Conde. Estes artistas são dois dos grandes nomes precursores do Orfismo e do Simultaneísmo, e têm sido tema de exposições nacionais e internacionais.
O Museu de Arte Moderna de Paris e o Centro Pompidou abrigam diversas obras de Sonia e Robert Delaunay, que ficaram para sempre na história e na cultura francesa.
Sonia Delaunay foi a primeira mulher a ter uma exposição no Museu do Louvre, em 1964.
A Fundação Calouste Gulbenkian é detentora de numerosas obras do casal e apresentou, em 1972, uma primeira exposição sobre ambos, com a colaboração e a presença de Sonia Delaunay.
Em 2015, durante a celebração do 1.º centenário da presença do casal Delaunay em Vila do Conde, realizou-se a exposição ‘Sonia Delaunay’ no Centro de Memória, e a execução de um mural de arte urbana na fachada sul do Centro Escolar Bento de Freitas, a partir da conceção artística da pintora Isabel Lhano.
Durante a Primeira Guerra Mundial, o casal refugiou-se e viveu em Portugal. Chegou a Lisboa na primavera de 2015, em junho rumou a Vila do Conde onde viveu até março de 2016, depois seguiu para Monção, e entre agosto de 2016 e janeiro de 2017, permaneceu em Valença do Minho.
A escolha por Portugal parece estar associada ao lançamento do primeiro número da revista Orpheu, que marcou o início do movimento modernista no país, e também à amizade nascida em Paris, pelo pintor Amadeo Souza-Cardoso.
A casa onde viveram em Vila do Conde, chamada “La Simultanée”, tornou-se um espaço de criação artística e de troca com outros artistas portugueses, como Eduardo Viana, José Pacheco, Souza-Cardoso, o jovem Almada Negreiros, e o americano Samuel Halpert.
Este grupo de artistas, o Círculo Delaunay, marcou a história da arte no início do seculo XX em Portugal, pela exaltação da cor e na relação criativa entre as várias artes. Experimentaram a técnica encáustica (cera misturada a quente com pigmento), que na pintura dos Delaunay contribuiu para a maior vibração dos contrastes simultâneos (simultaneísmo, pintura pura ou órfica, como ficou conhecida).
Marché au Minho, Philomene e Flamenco Dancer são obras importantes de Sonia Delaunay.
Robert Delaunay, por sua vez, é conhecido pelas pinturas vibrantes e abstratas, explorando a cor e o movimento de maneira inovadora, entre o real e o imaginário. Algumas das suas obras mais icónicas incluem Simultaneous Disc, Eiffel Tower with Trees e Hommage to Blériot.
O fascínio provocado pelas cores levou Ludivine Gaillot, professora numa escola do primeiro ciclo, a assumir a importância da arte do casal Delaunay como base de aprendizagem para os alunos: “Começamos a estudar a história de arte com estes pintores, são a base das formas e das cores primárias.”
“As férias grandes”, como chamou Sonia Delaunay à estadia em Portugal, foi de intensa criatividade e trabalho. O casal descreveu o tempo de passagem em Vila do Conde como um período de grande inspiração, destacando a luz intensa e as cores vibrantes da região, que influenciaram as suas pesquisas sobre cor e movimento, e que até hoje entram nas nossas casas. Um pouquinho das nossas cidades pelo mundo.
Mónica Fins