Voz da Póvoa
 
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Vida privada, mas nem tanto: Revelações

Vida privada, mas nem tanto: Revelações

Cultura | 16 Maio 2024

 

Introduzir o conceito de morte sem aterrorizar as crianças é uma tarefa mais que difícil.

Acreditando que o Sebastian ainda era muito novo para lidar com a perda assumi a postura de dar um final feliz sempre que os seus pets passavam dessa para melhor.

O discurso era sempre o mesmo: 

“— Filho, o bichinho estava a ficar doente de tanta saudade dos papás, por isso a mamã o devolveu para eles...” e por aí seguia.

Até que ele completou 6 anos de idade e, para o meu desgosto, morreu-lhe o gato, que vivia em casa do pai.

Recebo o telefonema que vinha com a fatídica incumbência de dar ao meu filhote a notícia de que o “João” tinha morrido, então lá fui eu:

“Sabes filho, o João andava muito triste porque tinha muitas saudades dos pais. 

Teu pai ligou para avisar que devolve-o à casa.

Nisso ele olha para o Rui e diz: 

— Posso contar-lhe?

Rui deu os ombros, sem entender a pergunta, enquanto o Sebastian pegava a minha mão num ato de consolação, olhou profundamente nos meus olhos e com um tom de voz muito grave diz:

— Não, mamã, o João morreu! O papá só inventou essa história para que não ficasses triste!

Foram precisos seis anos e um funeral para eu perceber que amor e compaixão constituem uma via de mão dupla!

 

Texto: Maria Beck Pombo / Ilustração: Karoline Tonet Diehl

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