Introduzir o conceito de morte sem aterrorizar as crianças é uma tarefa mais que difícil.
Acreditando que o Sebastian ainda era muito novo para lidar com a perda assumi a postura de dar um final feliz sempre que os seus pets passavam dessa para melhor.
O discurso era sempre o mesmo:
“— Filho, o bichinho estava a ficar doente de tanta saudade dos papás, por isso a mamã o devolveu para eles...” e por aí seguia.
Até que ele completou 6 anos de idade e, para o meu desgosto, morreu-lhe o gato, que vivia em casa do pai.
Recebo o telefonema que vinha com a fatídica incumbência de dar ao meu filhote a notícia de que o “João” tinha morrido, então lá fui eu:
“Sabes filho, o João andava muito triste porque tinha muitas saudades dos pais.
Teu pai ligou para avisar que devolve-o à casa.
Nisso ele olha para o Rui e diz:
— Posso contar-lhe?
Rui deu os ombros, sem entender a pergunta, enquanto o Sebastian pegava a minha mão num ato de consolação, olhou profundamente nos meus olhos e com um tom de voz muito grave diz:
— Não, mamã, o João morreu! O papá só inventou essa história para que não ficasses triste!
Foram precisos seis anos e um funeral para eu perceber que amor e compaixão constituem uma via de mão dupla!
Texto: Maria Beck Pombo / Ilustração: Karoline Tonet Diehl