Desde que mudámos para a Póvoa, de segunda à sexta-feira eu fazia, a pé, o trajeto de casa até a o Centro Paroquial de Aver-o-Mar, que distam um do outro mais ou menos 2 Km, para buscar a Maria na creche.
Cheguei lá, num tórrido dia de verão, toda atrapalhada e "furibunda" com o calor, cheia de vontade de apagar o sol com as minhas próprias mãos enquanto praguejava os ataques humanos à camada de ozônio, quando ela, toda faceira, pulou no meu colo, afundou o nariz no meu cabelo e, após uma forte inspiração, exclamou:
— Hum, mamãe, cheiras tão bem!
Eu, a duvidar veementemente da afirmação pois estava muito consciente de que transpirava por todos os poros do corpo, perguntei, um tanto temerosa quanto a resposta:
— Ah é? Cheiro a quê?
Ela me abraçou mais forte do que nunca, afundou o narizinho, agora no meu pescoço, e disse, muito convicta:
— Cheiras à mamãe!
Quem diria que um dia esse seria exatamente o perfume que eu quereria ter?!
Texto: Maria Beck Pombo / Ilustração: Karoline Tonet Diehl