Depois de Maria Bochicchio, investigadora da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, e de Isabel Rio Novo, professora, escritora, investigadora e biógrafa, no dia 15 de Novembro, realizou-se na sede social da Fundação Dr. Luís Rainha, o 12º Ciclo Aberto, que encerrou a trilogia de Episódios subordinados ao tema “Camões 500 anos”, tendo como convidado o escritor José Carlos Seabra Pereira, professor na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e na Universidade Católica. A coordenação, como habitualmente, foi de Aurelino Costa e Sousa Lima.
Este último Episódio versou sobre “O ‘canto’ e a ‘pena’ no aberto projecto lusíada”. Posso imaginar a metade da aula que perdi por entrar entardecido, mas não demorei a alinhavar o entendimento do professor em cada Canto dos Lusíadas.
A poesia de Camões “vai entrar em tensão, por vezes em conflito, em crise porque não pode abdicar de especular uma e outra vez, o secreto, o segredo”. Custe o que custar a sua poesia é “de interrogação” que resulta numa poesia “de conhecimento com as suas dádivas, mas também com os seus riscos. Isso não diz respeito só ao universo físico, mas também a tudo o que a religião, a filosofia, a tradição, e erudição tinha tentado explicar de uma forma que parecia tranquilizadora. Pois tudo isso vai ser posto em causa, até o próprio sujeito”.
Para o Professor “o poeta é senhor do seu humanismo cívico, se rogava não só no direito, mas no dever de julgar os sinais dos tempos, avaliar e criticar”, o poeta tem “medo da matéria perigosa em relação a todos aqueles que têm responsabilidades na sociedade portuguesa e no mundo. Responsabilidades religiosas, políticas, com a justiça, entre outras”.
Na poesia que achamos platónica quando se trata do amor, “o ideal parece muito sedutor, mas as condições de vida, de existência terrena, na circunstância que cabe a cada um, não parecem compatíveis. E portanto, vem também o insucesso desses modelos”. Trata-se de uma edificação do homem.
Na enormidade dos Lusíadas, José Carlos Seabra Pereira encontra no poeta uma nova questão, “mudar o Ser é mudar tudo, que mudança é essa em que o próprio Ser dos humanos se muda? E como termina?”
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, / Muda-se o Ser, muda-se a confiança; / Todo o mundo é composto de mudança, / Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades, / Diferentes em tudo da esperança; / Do mal ficam as mágoas na lembrança, / E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto, / Que já coberto foi de neve fria, / E enfim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia, / Outra mudança faz de mor espanto: / Que não se muda já como soía”.
A vida não é estática. A vida da natureza e do ser humano, para o Professor é “um processo, é uma corrente, e esta corrente não vem cristalina.
Saber mais é estar presente, mas tal como concluiu Aurelino Costa: “Não terminamos, acho que reiniciamos este nosso país porque este autor é Portugal”.
Por: José Peixoto