Dar o primeiro passo na convicção de que chegaremos a bom porto é saber contrariar o vento ou deixar-se levar pelo tempero das marés. A Galeria d’Arte da Clínica Ortopóvoa acolheu, no dia 15 de Novembro a 32ª exposição, desta vez, uma colectiva de pintura, desenho, escultura e fotografia. Um número raro na persistência e na certeza de quem nos quer oferecer de si e dos outros.
“Só tínhamos feito uma exposição colectiva, foram todas individuais, chegou a altura de fazer uma segunda”, disse o director da Clínica, Afonso Pinhão Ferreira, mas admite que é muito complicado fazer uma terceira, “é preciso ir buscar as obras a muitos sítios, seguros diferentes para a exposição, é difícil harmonizar a diversidade das obras nas salas de exposições. As colectivas são mais complicadas de organizar”. O clínico e artista reconhece que as pessoas, normalmente, não têm a ideia do que é uma curadoria, “as pessoas observam, contemplam, mas por vezes não têm a noção do trabalho e das responsabilidades que estão por trás”.
Também não é fácil reunir três dezenas de artistas: “Essa é outra dificuldade numa exposição colectiva. Ou os curadores e quem está ligado à arte conhecem artistas ou sujeitam-se a fazer uma colectiva sem grande exigência qualitativa e competência reconhecida dos artistas. Aqui nesta exposição, temos grandes artistas, os poveiros podem deliciar-se com as obras fantásticas que temos em exposição”.
A motivação em continuar a expor arte na Galeria Ortopóvoa, para Afonso Pinhão Ferreira ainda não esmoreceu: “A arte traz-me o mais importante da vida humana que é a liberdade, a liberdade de criação, de contemplação, os períodos de inactividade que a arte exige ao contrário da sociedade actual. Portanto, isto é contracorrente, contraciclo e eu acho que as pessoas se deviam aperceber disso. Os artistas, por norma, são mais felizes porque efectivamente têm períodos de contemplação, de ensaio, de criatividade e têm períodos de inactividade, e isso pedagogicamente para a sociedade é importante. A sociedade não pode ser só competitividade, híper-informação, uma vida fugaz, temos que ter efectivamente outras parcerias”. Sendo que a arte se distribui por muitos meios.
Para o Vice-Presidente e Vereador da Cultura da Camara Municipal, Luís Diamantino, que esteve presente na inauguração, “a cultura é a forma mais fácil de promover uma cidade, uma região, um país. E é também a nossa identidade, aquilo que nós somos, da forma como somos”. Esta exposição colectiva oferece-nos “vários olhares. Podemos passear pela galeria e descobrir a importância do ócio, como referiu o professor Pinhão Ferreira que é um viciado na arte, e a arte também nos causa prazer”.
Nas palavras da curadora Isabel Patim, não foi complicado reunir os criadores de arte: “Já conhecíamos os artistas, os seus movimentos desde há vários anos e eu sabia, em consonância com o artista e professor Afonso, exactamente com quem queria trabalhar. A preocupação não foi as obras mais recentes, encontramos aqui, até obras antigas. A preocupação foi trabalhar este tema”. Ou seja, o conceito foi trabalhar a luz, “num planeta que está a perder a luz, trabalhar a luz na vida das pessoas que às vezes são mais cinzentas porque vão perder empregos ou porque não têm casa. Abordamos aqui o tema da habitação, da fome, do planeta. A luz como recurso, como forma de estar na vida ou como forma de observar. E dentro desta linha conceptual, ao conversar com os artistas, demos a liberdade de escolher uma, duas ou três obras. Queríamos privilegiar o diálogo das obras na Clínica e não a importância dos artistas. Embora, o conjunto de artistas que aqui se reuniu não vai repetir-se. Isto é um grande feito da Clínica Ortopóvoa, estamos a falar de 86 anos de artes e cultura, começando por Zulmiro de Carvalho e Abreu Pessegueiro. Temos também aqui os seus alunos da escola dos vinte de Belas Artes, e já temos a terceira geração de alunos. isto é muito bonito”.
A exposição “Tudo o que banha a luz é meu…”, e que pode ser visitada até 8 de Fevereiro de 2025, apresenta trabalhos de: Abreu Pessegueiro, Acácio Viegas, Afonso Pinhão Ferreira, Alexandre Rola, Alvarenga Marques, Ana Pais Oliveira, António Nobre, Carlos Rodrigues, Carlos Silva, Bonioso, Evelina Oliveira, Francisco Simões, Guilherme Fonseca, Hélder de Carvalho, Isabel Braga, Jorge Curval, José Rosinhas, Luiz Morgadinho, Mário Justino, Mário Vitória, Martinho Lima, Miguel Neves Oliveira, Mutes, Paula Fidalgo, Paulo Sanches, Ricardo de Campos, Rosalina Santos, Rui Carruço, Victor Silva Barros e Zulmiro de Carvalho.
Por: José Peixoto