Voz da Póvoa
 
...

Uma Clássica Fusão de Eternidade

Uma Clássica Fusão de Eternidade

Cultura | 11 Julho 2021

A viagem era bem longa, atravessava habitadas memórias entre “A Música Erudita e o Jazz: Um Século de Amores Clandestinos”.

A quinta-feira abriu as portas ao Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim - FIMPV, no Auditório Municipal, com um convidado que nos vem contar, em cada ano, uma nova viagem pela música do mundo.

 Desta vez, o musicólogo Rui Vieira Nery conferenciou sobre a música Erudita e o Jazz: um século de amores clandestinos, desencontrados nos caminhos e cruzados de sentimentos. A música é bem capaz de nos levar até à caverna, mas também à taberna.

Os passos desta memória entraram mesmo pelos cabarés de Paris, onde se desafiam os bons costumes. Os eruditos, embebidos pela ambiência de um viver boémio, entre os quais Claude Debussy, Erik Satie e, mais tarde, Maurice Ravel, compositores e pianistas de vanguarda, foram capazes de ali beber também ritmos e sonoridades para a pauta dos seus desejos.

As guerras mundiais, a depressão, a ruína económica, as consequências que trouxeram ao viver e ouvir dos criadores, numa sociedade sempre capaz de se erguer e escravizar. Daí, o Jazz vindo de uma realidade Afro-americana, saído dos campos da segregação racial, chega a Paris e não admira que a sensibilidade criativa de compositores como Ravel tenha experimentado “o uso de sopros com o seu protagonismo jazzístico, mas também pelos ritmos do Blues. O mundo dos sons do lado do Jazz trazem sempre consigo os Blues”.

Com a descrença na democracia nasceram os movimentos nacionalistas, “onde sobressai o nazismo, que entre outras proibições modela a música ao seu ouvido, um Jazz domesticado nos bailes de Hitler”.

Por outro lado, os compositores olhavam para o Jazz como música negra. Até o Picasso investiu nos pinceis, pelas máscaras africanas, para muitos o último reduto da origem da civilização. “A criação do mundo ao som de uma música telúrica jazzística” podia ser uma ovação à criatividade. O que fizeram os compositores clássicos foi “extrair do Jazz as sonoridades para entrarem numa obra erudita”.

Todas as viagens musicais são imaginativas, Rui Vieira Nery não deixou ninguém para trás, nem os compositores russos que também beberam do Jazz. A negritude musical trouxe à conversa compositores e músicos, como Miles Davis, Duke Ellington, Charlie Parker, mas também o grande Stéphane Grappelli que entrou em definitivo com o violino no mundo Jazz.
 
Sempre “a reincidir no crime de cortar as músicas que afinam o ouvido” ironiza o musicólogo pelo gesto de desligar os sons que serviam de mote à conversa, música Erudita com materiais do Jazz.

Afinal, a música explica-se com trechos de vários compositores. Rui Viera Nery ainda é capaz de surpreender, depois de duas décadas consecutivas a apresentar a conferência de abertura do FIMPV.

Desta vez sem cortes e para finalizar, a voz de Billie Holiday “mesmo um amor clandestino pode ser um amor feliz”.

No final, o Presidente da Camara Municipal, Aires Pereira ofereceu livros das edições municipais e a prenda maior “A Chave da Cidade” ao conferencista e “Cidadão Poveiro”.

partilhar Facebook
905/DSC_9993.jpg
905/DSC_9999.jpg
905/DSC_9989.jpg
905/DSC_9983.jpg
Banner Publicitário