Sentada à mesma mesa cativa do seu café favorito, no pequeno paraíso de Vilar de Mouros, observava a família a brincar ao longe.
Era curioso como esse ritual a inspirava: beber a sua cerveja enquanto sentia o vento bater na face, as copas das árvores a abrigarem do sol e do calor excessivo, o som da água a correr, o ruído longínquo dos gritos e gargalhadas da gurizada a brincar no rio.
Pensava em quanto almejava residir em um lugar assim, onde a natureza abundava e preenchia o seu espírito, onde pudesse escrever histórias que a consagrassem enquanto escritora, cronista, poeta…
Contemplava a cena que se desenrolava à sua frente com satisfação:
O marido, incumbido de cuidar das crias, alternava a sua presença entre a água onde brincavam os rebentos e a areia onde bebia a sua fresquinha.
A filha já estava rodeada por novos amigos, a fazer as suas macacadas e arrancar o riso de todos ao seu entorno, enquanto o filho, pré-adolescente, fazia o que todos os pré-adolescentes fazem hoje em dia: perdia-se no seu próprio mundo, a caçar peixes e pedrinhas para entregar à mãe.
Presenteava-a sempre com tantas pedras que, de certeza, quando o ocaso a apanhasse, poderia com elas fazer, não um castelo, mas, no mínimo, um mausoléu que se prezasse.
Para a sua surpresa, naquele dia, o piá também trouxe, de lambuja, um peixinho dentro de uma garrafa, que soltou momentos depois, pois sempre fora incapaz de suprimir os animais da natureza de onde vinham.
Observava a amiga, coberta de uma pele de alvura inconfundível, que mergulhava na água com a graça de uma estrela iridescente, enquanto o amigo, com o seu cabelo cor de trigo e sol, brincava com o filhote, dono de um rosto tão perfeito que mais parecia ter saído de uma obra barroca, na margem oposta ao edifício em que ela se instalara.
Sentia o coração a aquecer, como se toda a energia solar se concentrasse dentro dele. Sabia bem o que isso queria dizer: era maravilhoso saber dar o devido valor por estar viva e entre pessoas de bem.
Conservar amigos que não precisam ter as mesmas opiniões e ideias sobre o mundo, mas que as partilham de bom grado e respeitosamente, na intenção de plantar um lugar melhor para os seus.
Era bom livrar-se dos velhos hábitos e cultivar outros mais saudáveis para o corpo e espírito, era fantástico experimentar dessa tão falada Paz Interior, que a maioria das pessoas procura sem conseguir encontrar, pois a buscam fora de si mesmas, esquecendo que é preciso Ser para A ter e que quanto mais as preocupa Ter, menos conseguem ser, sentir, ouvir o que diz a sua voz interior e, assim sendo, jamais estarão em paz.
Abraçou toda a energia positiva que emanava do ambiente e guardou no seu baú de memórias, para depois registar para a posteridade o testemunho do que significava, para ela, a verdadeira Felicidade: a natureza, bons amigos, família unida e gratidão pela vida em toda a sua plenitude, incluindo os bons e os maus momentos, pois prazer e dor significam, na mesma proporção, viver!
Maria Beck Pombo