Olhava fixamente para o pequeno volume que se remexia, preso à moldura da janela.
A luz tênue da manhã, somada à sua cansada visão, tornavam o ato de descobrir do que se tratava, à distância, quase impossível.
Um nervoso miudinho tomou conta do seu corpo quando suspeitou que a visitante era uma mariposa.
Ela sempre respeitara todos os animais, e bem sabia que as mariposas são seres místicos por natureza, mas sofria de uma fobia incurável que a fazia sair completamente do prumo quando se deparava com uma.
Virou de costas para a janela e tentou ignorar a presença do animal, pedindo a todos os deuses que ele voasse dali para fora urgentemente.
Manteve-se nessa posição até que o sol cruzasse totalmente a linha do horizonte e inundasse o quarto com a sua luz veranil.
Decidiu encarar o medo e examinar de perto o misterioso ser, quando surpreendeu-se com a imagem de uma borboleta verde-claro, que se assemelhava muito a uma folha, pousada sobre o lado exterior da cortina translúcida.
Sacudiu suavemente a cortina para enxotar o animalzinho e reparou no casulo aberto, colado ao quadro da janela.
Sorriu enquanto a sua mente organizava os factos até aquele momento:
Durante os dias em que ela e a família estiveram de férias no seu lugar mágico, uma lagarta esgueirou-se por uma frincha da janela e preparou o mais belo espetáculo de todos: o espetáculo da transmutação.
Ela não era uma lagarta, mas sentia-se cada vez mais perto de sair do casulo que a aprisionava e estender as asas, celebrando os acasos que não existem!
Maria Beck Pombo