Eis que outro ciclo se encerra e a mudança se faz urgente!
A cada passo em frente a luz se intensifica, tornando claro o Caminho a seguir.
Ela, que passara por tantas estradas, atalhos e pontes, que ultrapassara montanhas e mares agitados, que colhera flores em jardins e depositara preces aos pés dos altares de tantos templos, que bebera da fonte inesgotável de conhecimento que existe em cada ser que respira sobre a terra, sentia agora um leve desconforto em abdicar de pisar sobre o solo que testemunhou o seu florescer.
Mas a verdade é que, no seu íntimo, ela sabia que carrega dentro de si todos os castelos e todas as catedrais, todas as florestas e bosques pelos quais passara e o mar, ah, o mar, esse transbordava dentro dela como um copo que se enche e derrama bênçãos ao seu redor.
Trazia Ela impressas na alma belezas de encher a vista e preencher memórias e isso ninguém lhe poderia roubar.
Essa prenda de alma Celta, galega e Guarani, que trouxe do pago natal apenas uma mala com sonhos que ganharam liberdade e iluminaram tantas vidas que não cabiam em uma mão cheia.
Nesta terra, abençoada por Iemanjá, escrevera no livro aberto da sua vida, a duras e leves penas, ora com sangue, ora a nanquim, todas as experiências que a tornaram tão forte quanto as muralhas mouras, quanto os claustros celtas, quanto as pontes romanas, quanto as florestas milenares repletas de seres fantásticos, espalhados por Portugal.
Fora tantas vezes a fénix das cinzas renascida, a Inês de Castro que, degolada, deu espaço à Maria Padilha.
Hoje é a mulher que desconstrói a palavra Saudade, pois não se pode ter saudades do que se leva consigo.
Nesta lua negra que se aproxima gesta novos planos e novos sonhos e sabe que não há sombra que possa ofuscar a sua luz, pois percebe que é capaz de abraça-las e transmutá-las no brilho de mil pirilampos.
Traz consigo a Liberdade que vem com a responsabilidade de não se deixar prender.
Nenhum caminho é errado quando se sabe onde quer chegar!
Maria Beck Pombo