Voz da Póvoa
 
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Turistando Lendas e Lugares – Fruta madura

Turistando Lendas e Lugares – Fruta madura

Cultura | 7 Novembro 2024

 

É verão de São Martinho!

Pensava ela enquanto lanhava um punhado de castanhas para levar à festa dada pela escola da filha.

O cheiro adocicado já se espalhava no ar e trazia à memória o veranico de maio, típico do seu pago, ainda que sem as castanhas.

Na baixa de Lisboa, sob uma cortina do denso e perfumado fumo que se espalhava pelas ruas, ela provara, pela primeira vez, dessa típica iguaria da época, há dezassete longos anos atrás.

Dezassete anos que mais pareciam uma vida, diga-se de passagem, e, pensando bem, eram mesmo!

Vendo-se hoje ao espelho, pouca coisa sobrara da estabanada guria que cruzou os mares de lá, para cá.

Não fosse pelo seu cabelo azul e trajes pouco convencionais, muita gente, atualmente, já não a reconheceria!

É facto verídico que ela ainda carrega o mesmo brilho no olhar e a mesma fé na vida que trouxera do seu rincão, mas junto disso reuniu por essas terras uma coleção de experiências de fazer qualquer mortal desacreditar.

Deu de beber a Iemanjá e alimentou as tempestades de Iansã, foi escudo para Ogum e balança para Xangô e sobreviveu ao caos que, muitas vezes, ela mesma espalhara pelo caminho.

Hoje Ela é calmaria.

É a certeza de que tudo está onde deveria estar, e tudo acontece como deve acontecer.

Deixa-se balançar quando o vento sopra forte e sabe que não cairá, aguenta a chuva forte lhe bater na espalda e sabe que não se afogará, sente o desamor arder no peito e sabe que não se queimará…

Entende que cá estamos pela experiência, e não se furta de experienciar, de aprender, de edificar a paz que só se dá quando somos senhores do nosso próprio inferno!

Amadureceu no chão, para não apodrecer no pé!

 

Maria Beck Pombo

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