Voz da Póvoa
 
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Turistando Lendas e Lugares – Blasfémia

Turistando Lendas e Lugares – Blasfémia

Cultura | 6 Julho 2023

 

Se Deus existe ele é um grande sádico inclemente!”

Gritou tão alto que até fez tremer as paredes do quarto.

Não conseguia deixar de pensar nas almas que nele acreditaram, exemplos de doação, retidão e carácter.

Almas cujas vidas ceifara sem misericórdia, lenta e dolorosamente.

Pensara na tão proferida frase: “isso é uma prova de fé” e em todo o tipo de asneiras proclamadas pelo cego que não padece de cegueira e sim de não querer ver.

Pois para ela Deus era uma criança mimada e egoísta, a brincar aos mocinhos e bandidos sem supervisão.

O que esperar de uma criança que brinca com uma arma na mão?!

“Deus precisava de pais que lhe pusessem rédeas”, divertiu-se a imaginar…

Sempre julgou ser uma grande piada o costume divino de punir o justo, não o pecador.

Há quem diga que sofre mais pelo próximo do que por si mesmo.

Cria na afirmação mas ainda assim considerava uma enorme injustiça.

            Mas Deus é justo! Dizem eles.

E benevolente, e sábio e um sem fim de qualidades sobre-humanas que realmente faziam-na duvidar totalmente da sua existência.

“E o que fará Ele como castigo à minha insolência?” Pegou-se a indagar ao vento.

“Descontará nos meus filhos, no meu marido, nos meus sobrinhos? Fará penar minha mãe? Minhas irmãs? Meu pai, outra e outra vez?

Convencido de que me quebraria a crista e pôr-me-ia de joelhos perante a Sua magnânima covardia espalharia Ele a doença, o sofrimento e a morte em meu caminho?”

Por certo tê-la-ia de joelhos se Ele assim o fizesse.

Ajoelhada pôr-se-ia aos pés de Deus, aos pés do Demónio, aos pés do Pai Natal, aos pés do Coelho da Páscoa…

Render-se-ia à quem a oferecesse o melhor acordo!

Engana-se aquele que pensa que o descrente converte-se nos momentos de precisão.

É apenas desespero, creiam-na!

E nesse desesperar constante a humanidade agarra-se a qualquer coisa, seja bendita ou maldita aos olhos dos homens.

“Deus não tem olhos…”

A imagem dilacerada da divindade foi pintada em sua mente.

Ela sabia defini-lo com tanta clareza que se lhe poderia afirmar que o tivesse inventado:

“Deus foi criado através do medo, do desespero, da escuridão. Como uma forma de impelir o ser humano a crer que existe luz para lá da sombra, que existe sol para lá da tempestade, que existe algo para além da morte. Para dar significado aos tropeços, aos espinhos, às encruzilhadas e tortas rotas que essa raça percorre durante a vida, como forma de assegurar a perpetuidade da espécie que, dotada de uma mente pensante, poder-se-ia afogar na dor e desistir do caminho.

Deus foi criado pelos Homens!

E por essa natureza jamais poder-se-ia dizer perfeito.

Deus é recheado de pecado, de soberba, de egoísmo e, como filho dos homens que é, também o é egocêntrico e megalomaníaco!

É onipresente e onipotente como o medo.

O cabresto que faz baixar o olhar dos homens, que os subtrai horizontes.

Ele é uma piada de gosto duvidoso, que repetida tantas vezes, foi confundida com a verdade absoluta.

Deus revelou-se nada para ela, no momento em que ousou crer que ele existia!

 

Maria Beck Pombo

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