Nas alturas, onde o céu embala as nuvens, as andorinhas bailam ao sabor do vento desenhando curvas e ângulos no ar, tendo como espelho o olhar da mulher à janela.
Para Ela, cada movimento é um prelúdio da despedida que se aproxima com o declínio do verão mas que não deixa à mercê do inverno o coração, por entender que o seu amor não está fadado ao adeus.
As asas das aves cortam o vento com a suavidade de quem já conhece o peso da distância, mas se prepara para a viagem, revelando à expectadora que o amor não é somente uma entrega, é também uma migração constante entre os ciclos da vida onde se aprende a plantar, a crescer, a voar, a caminhar, a mergulhar na profundidade de si e do outro, a partir e a regressar.
Ela cerrou os olhos por um breve momento e lembrou-se de outros tempos, em que a vida exigira o afastamento dos dois, e sentiu o coração a aquecer pois hoje sabe que as separações não são definitivas, que os ausentes sempre regressam, que a Mãe que nos afasta é a mesma que nos traz de volta mas, principalmente, que o verdadeiro lar não está na geografia, mas no abraço do outro.
Sabe que brevemente reconstruirão o seu ninho, e que a cada galho, a cada folha, uma promessa se renovará, pois embora sinta no peito uma saudade antecipada, também sente uma profunda gratidão por entender que, às vezes, a partida é a condição para o reencontro, para o recomeço para a evolução do amor que, como o voo das aves, é infinito, sempre se repetindo, sempre migrando entre os corações que o guardam.
Voltou o olhar para dentro do quarto, para as malas espalhadas sobre cama, ainda à espera de uma última peça de roupa, e sorriu embalando na alma a certeza de ter um amor que embora se afaste, jamais se perde!
Maria Beck Pombo