Através da janela do quarto, Ela observava o céu carregado e o trabalho empenhado dos homens que abatiam a grande árvore junto à casa.
Importava assumir que não era situação que lhe agradasse ceifar a vida que abrigava o quintal do sol abrasador de verão, mas o risco que oferecia aos habitantes da morada que fizera lar, não deixava outra alternativa.
De qualquer modo aquela gigante já havia cumprido o seu mágico papel, de fazer crescer e florescer vida para além da dela num passado não tão remoto.
Voltava a sua atenção para o emaranhado de fitas e fios coloridos que tinha ao colo e empeçava a tarefa de organizá-los para a labuta diária de criar os seus místicos artefactos, que encantavam e protegiam lares e querências de uma ponta a outra de Itaara.
Tentava arduamente desfazer os nós que tinha em mãos, e a irritabilidade despertava no seu interior. Quanto mais puxava, mais estreitava os laços e mais longe ficava de ver cumprido o seu intento de separar cada fio em seu lugar.
Em um acesso de raiva desmedida, sacudiu o emaranhado ao ar e notou que, lentamente, as fitas deslizavam umas sobre as outras, soltando-se por si sós, sem esforço, sem pressão. Apenas seguindo o fluxo do suave baloiçar, a ceder a gravidade que atua sobre todos nós.
Pensou Ela que a vida é como um fio de seda, que tece ou enforca sonhos, depende de como a tratamos.
Quanto mais puxamos e reivindicamos o controle, mais estreitamos o nó na garganta, mais amarramos pés e mãos, sentindo-nos incapazes de sair do lugar.
Mas, se a levarmos com leveza, tudo se compõe e se organiza no suave flutuar dos acasos que não existem, que são o fio condutor que nos guia rumo à realização pessoal.
O verdadeiro destino se cumpre por si só!
Maria Luiza Alba Pombo, escritora