“A saírem a barra, entre ondas e gaivotas! Que estranho é! Fincam o remo na água, até que o remo torça, À espera da maré, Que não tarda hi, avista-se lá fora!” Repetiria estas palavras o poeta António Nobre, se tivesse vivido o ‘Dia da Camisola Poveira’, que quis a autarquia fosse festejado com a Senhora da Conceição, padroeira da Póvoa de Varzim, data que se repetirá em cada ano vindouro.
Engrandecer e dar continuidade a uma peça de vestuário que terá nascido das mãos de mulheres poveiras há cerca de 150 anos, para aquecer o corpo dos seus homens pescadores, foi uma das razões que juntou algumas dezenas de pessoas, respondendo ao apelo lançado pela Câmara Municipal, para saírem à rua com a Camisola Poveira vestida. Uma outra, foi presenciar a inauguração do Centro Interpretativo e de Formação da Camisola Poveira localizado no Centro Póvoa Empresas. O momento de abertura das portas contou com as sonoridades encantadas da ‘Poveirinha ou ‘O Mar Enrola na Areia’ do Rancho Folclórico Poveiro, que entre os seus trajes, sempre vestiu a Camisola Poveira.
O orgulho em honrar as tradições locais e dignificar o nosso património, é para o presidente da Câmara, Aires Pereira um compromisso porque “Hoje é o dia pelo qual andamos há 150 anos a trabalhar. A Camisola Poveira é mais do que uma peça de vestuário. Temos que nos lembrar que muitos pescadores morreram com ela vestida”.
A importância de preservar a memória e a tradição fica assegurada pelo Centro Interpretativo, que pode ser visitado todos os dias da semana, onde se encontra muita informação, fotografias e memórias de um tempo passado pela peça de vestuário. No chão figura a beleza de um tapete de Beiriz, produzido para a ocasião e inspirado na Camisola Poveira. Há raízes que nos moldam as diferenças, só por isso, o edil lembrou palavras ditas ao monarca D. Luiz I: “Nós não somos portugueses nem espanhóis, somos poveirinhos pela graça de Deus”.
A tradição tem um nome e a data de 8 de Dezembro marcará o dia da Camisola Poveira. A primeira celebração arrancou logo pela manhã com a abertura das inscrições presenciais para próximas formações da Camisola Poveira, no Centro Póvoa Empresas. O local serviu para as artesãs participarem na sessão de apoio à organização dos processos da Carta de Artesão, uma certificação que ajuda a proteger e preservar o património local e nacional, ao mesmo tempo, garantindo a qualidade dos produtos e a sua diferenciação. Entre outros benefícios, tem apoios do Estado para o sector das Artes e Ofícios, certificação de produtos com o selo ‘Portugal Sou Eu’, e facilita também a participação nas principais feiras de artesanato nacionais.
O presidente fez questão de lembrar que o processo de certificação começou há cerca de um ano: “Avançámos com o processo do registo de propriedade. Acho que não se adequa muito a estes bens de carácter cultural, mas é o caminho que temos disponível para além da associação que, entretanto, foi criada para que sejam reconhecidas as Camisolas Poveiras, os Capotes Alentejanos, o Artesanato, tudo aquilo que distingue o país. Temos que saber defender o que é nosso”.
Primeiros Diplomas Valeram Entrega da Camisola
Durante a cerimónia da entrega dos diplomas às 36 formandas que completaram com sucesso o 1º Curso Ocupacional de Tempos Livres, foi assinado um protocolo entre o Município da Póvoa de Varzim e o Centro de Formação Profissional para o Artesanato e Património (CEARTE), representado pelo seu director Luís Rocha que aproveitou para revelar que “a primeira fase de certificação foi aprovada ontem (dia 7 de Dezembro), faltando apenas questões burocráticas que levam algum tempo, para que a marca seja registada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI)”. Anunciou ainda que as duas primeiras cartas de artesã da Camisola Poveira submetidas a aprovação seriam avaliadas na quinta-feira: “Vamos ter dentro de muito pouco tempo artesãs da Camisola Poveira com esta distinção”.
Para Aires Pereira a parceria com o CEARTE é muito importante para o futuro da Camisola Poveira: “O reconhecimento da nossa marca é fundamental para preservarmos o nosso património. Neste momento, estamos com dificuldades em satisfazer as encomendas. Temos na plataforma Marketplace, mais de 130 pedidos”.
O protocolo tem como objectivo dar continuidade à formação e qualificação de artesãos da Camisola Poveira. A procura continua a registar números assinaláveis, mais 40 pessoas já se inscreveram para nova formação.
Na entrega dos certificados do 1º Curso da Camisola Poveira, o Presidente da Câmara fez questão de entregar às alunas a Camisola que confeccionaram durante as aulas, “tem um grande valor estimativo para quem as fez e podem mostrar com orgulho aos filhos e netos”, concluiu.
Com produção de Mário Linhares (ONTEM – Histórias Contadas) e realizado pela 7AM Produção Audiovisual, foi exibido no Cine-Teatro Garrett o documentário “Camisola Poveira”. A sala esgotou de curiosidade e interesse em saber mais. Hoje podemos dizer com orgulho a Camisola é Poveira.
