Voz da Póvoa
 
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“Ser solidário assim pr’além da vida

“Ser solidário assim pr’além da vida

Cultura | 10 Maio 2023

 

Por dentro da distância percorrida / Fazer de cada perda uma raiz / E improvavelmente ser feliz” – assim encantou a vida José Mário Branco, mas alertou que “Ser solidário, sim, por sobre a morte / Que depois dela só o tempo é forte / E a morte nunca o tempo a redime / Mas sim o amor dos homens que se exprime”.

Às vezes, somos tão viajados e viajantes que só ganhamos da memória dos lugares, as pessoas que cruzamos no olhar, no sentir, no ajudar sem que isso nos retire da face um sorriso ou uma lágrima. Chegar ali, apresentar um livro que não é uma história de amor, embora as palavras falem dele e até o sintam.

Todos os dias, ouvimos falar dele e afinal “O Altruísmo Não Existe”, título do livro de Raul Manarte, apresentado no dia 28 de Abril, na Biblioteca Municipal Rocha Peixoto. O autor é psicólogo e dedica uma parte da sua vida ao trabalho humanitário: Moria - Grécia, Guiné-Bissau, Índia, Moçambique, Bolívia, Brasil, Ucrânia e Sudão do Sul. Não são propriamente as experiências, mas uma aturada reflexão que nos possibilita entender melhor os porquês de uma atitude de vida que nos guia pelos caminhos da solidariedade.
  
Na apresentação do livro “O Altruísmo Não Existe”, Tânia Furtado Moreira, centralizou as intenções do autor: “Diria que é um livro de divulgação científica, um estudo e ao mesmo tempo caracteriza-se pelo bom humor próprio do Raul. É também um guia, um manual para quem quer fazer alguma coisa, seja na sua pequena comunidade, seja no estrangeiro, seja na sua escola ou na sua própria casa. Ele fala sobre o que é isso de sermos altruístas, o que é isso de fazermos bem aos outros e porque é que isso nos faz tão bem a nós”.
 
Seguidamente, mais do que dissecar o conteúdo da obra, o autor foi convidado a falar dela e de muitos momentos vividos nos campos humanitários. No final, houve tempo para ouvir experiências dos presentes, mas também questões pertinentes.
  
Raul Manarte esclareceu que “no fundo o que estou a tentar dizer é que não há altruísmo puro”. Esta frase seria suficiente para nos interrogarmos e ficar com a suficiente curiosidade em ler o livro. Porque falar dele é dar uma opinião entre tantas outras que cada leitor acabará por ter e, quantas mais tivermos, melhor é o livro.

Ninguém saiu sem ouvir Raul Manarte interpretar à guitarra dois temas: “Na Bissau” e “Moria”, canções acompanhadas por um vídeo que nos mostra o quanto somos incapazes de dizer basta ao sofrimento, à impunidade dos mandantes que arrastam o cidadão para a condição desumana de refugiado.

“De como aqui chegar não vale a pena / Já que a moral da história é tão pequena / Que nunca por vingança eu te daria / No ventre das canções sabedoria”.

Por: José Peixoto 

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