Voz da Póvoa
 
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Ser mãe, dom ou não? Eis a questão!

Ser mãe, dom ou não? Eis a questão!

Cultura | 2 Agosto 2023

 

Definitivamente ser mãe não estava dentre o rol dos seus talentos…

Ela, índia chucra de essência teatina, filha de Iansã e de Xangô, vinda ao mundo para trazer os ventos da mudança e arrastar a poeira do chão, nascera desprovida daquele dom desejável que as mães têm de ver nos filhos sempre as virtudes, nunca os defeitos, esquecendo sistematicamente do equilíbrio da balança num mundo onde não existe a perfeição.

Mas a verdade é que, a dado momento, mãe se tornara, por vontade própria e não por desígnio dos deuses, e desde aí empeçara o maior de todos os seus desafios: guardar em um baú os seus ares de estrela e entregar todo o seu brilho e calor aos filhos que gerara, pois apesar de saber que não herdara o dom de ser mãe, tinha consigo a convicção de que poderia ser uma das boas, quiçá das melhores! 

Isso apenas o tempo poderia dizer…

Jamais seria ela a mãe que sufoca a própria cria e a reclama para si mesma e sim aquela que a cria para o mundo que tanto almejara outrora conquistar, e dessa forma, talvez, alcançar parte da vida que abdicara.

Passara a ser fogueira a arder, despacito, aquecendo o coração dos que amava, pois as estrelas tornam-se cadentes e, rapidamente, atingem o chão, abrindo crateras e queimando tudo ao redor.

Mas tal não acontecia ao fogo de chão. Esse espalhava fagulhas que voavam em direção ao infinito, iluminando o olhar dos que eram atraídos pela luz. Marcando almas que espalhariam as mensagens nela contida aos quatro cantos do mundo, como quem semeia flores, frutos, grãos e árvores de frondosas copas a servir de abrigo e alento a outras mães e filhos.

Enfrentara bravamente as críticas, os receios, as dúvidas, o medo de não ser suficientemente boa para a tarefa e empenhou-se em ser melhor a cada dia, aprendendo com os filhos, que eles têm muito a ensinar.

Não lhes aponta o caminho, antes dá a conhecer que o mundo é uma rede de possibilidades que leva a muitas realidades, mas que, principalmente, o destino é apenas um: aquele que lhes fará realmente felizes.

Se encontrarem esse caminho, onde se é feliz apesar de estar triste, onde sentirem que todas as pedras no caminho valem à pena e contribuem para o seu crescimento, então escolheram acertadamente.

Quando escolhera ser mãe, num tempo tão remoto quanto três encarnações, já sabia que os dons são sobrevalorizados.

Há sempre quem leve um barco a bom porto por pura força de vontade!

Maria Beck Pombo

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