A passagem das horas
o absurdo vivo
os carros que apitam
os condutores fulos como cães
as pessoas às voltas
acima abaixo abaixo acima
tontas como moscas
os outros que conversam
e celebram no café
mas poucos filosofam
como Sócrates, Platão ou Aristóteles
não sou mais do que eles
na verdade,
apenas segui outra via
continuo a cometer erros
continuo a magoar os mais próximos
porque me julgo um deus
com umas cervejas em cima
ou mesmo sem elas
na verdade,
vivo a vida
gozo com tudo
mesmo comigo próprio
apesar das horas de solidão e melancolia
olho as casas
as lojas
os letreiros
os doidos
eu próprio sou doido
completamente fora
apesar de lúcido
apetece-me partir vidros
pegar fogo à Câmara
ao governo
ao mundo
ao universo
serei Satã ou Jesus Cristo?
António Pedro Ribeiro